Com burros n'água, Bolsonaro agarrou-se ao burro mais seco
Bolsonaro encarna o tipo clássico de político oportunista. Na eleição de São Paulo, exagerou. Embarcou na canoa de Ricardo Nunes, descobriu que seus devotos migravam para a lancha de Pablo Marçal e aninhou-se no conforto da ambiguidade. Pensou que poderia colocar duas candidaturas sob sua batuta. Ao perceber que deu com os burros n'água, agarrou-se ao burro mais seco.
Horas depois da divulgação de um Datafolha em que Nunes abriu oito pontos de vantagem sobre Marçal, com Guilherme Boulos entre eles, Bolsonaro realinhou-se. Numa transmissão por vídeo, apareceu ao vivo em reunião de Nunes e seu padrinho Tarcísio de Freitas com a comunidade libanesa. Determinado a triunfar a qualquer custo, caprichou no arrivismo.
Parabenizou Tarcísio pelo apoio a Nunes. Dirigindo-se ao prefeito, sapecou: "Torço por você, tenho certeza que haverá segundo turno e seremos vitoriosos". Há um mês, Bolsonaro disse a uma rádio que Nunes não era seu "candidato dos sonhos". Há dez dias, soprou nos ouvidos de Tarcísio que ele rubricaria seu atestado de óbito político se não saltasse do projeto de reeleição do prefeito.
Ninguém ignorava que Bolsonaro é um oportunista de mostruário. A novidade é que, na eleição municipal de São Paulo, o capitão não soube concatenar o seu oportunismo com a oportunidade. Sonhando com o figurino de cabo eleitoral de luxo, transformou-se em força acessória de um candidato que cavalga coligação partidária com três ministérios na Esplanada de Lula e caminha com as pernas de Tarcísio, um direitista sem a toxina da inelegibilidade.
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