Em debate final, Boulos e Marçal têm embate direto e Nunes defende legado
Do UOL, em São Paulo
04/10/2024 00h15Atualizada em 04/10/2024 02h04
O candidato Guilherme Boulos (PSOL) subiu o tom durante o debate da rede Globo, o último antes das eleições. O psolista abriu confronto direto contra Pablo Marçal (PRTB). Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tentou se esquivar dos ataques dos rivais. Os três chegam à reta final empatados nas pesquisas.
O que aconteceu
O debate antes começou ameno, mas as hostilidades cresceram da metade para o final do embate. Nos primeiros blocos, os candidatos procuraram falar diretamente com os telespectadores aproveitando os tempos de resposta para pedir votos. O encontro da Globo é o 11º debate deste primeiro turno e foi a última chance de conquistar eleitores.
Gestão de Nunes esteve no centro das críticas, enquanto Boulos e Marçal evitaram trocar ataques na primeira metade do debate. A tensão com a disputa e a preocupação de não cair nas cascas de banana dos adversários manteve os primeiros blocos do encontro focados na discussão de propostas: de redução de impostos, à melhoria na gestão da saúde. Como prefeito, Nunes ficou no papel de vidraça diante dos rivais.
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Nunes foi forçado a defender medidas de sua gestão. Os adversários citaram números como a fila de espera por exames da saúde, o tempo de deslocamento no transporte público e o aumento da população de rua. Em resposta, o prefeito afirmou que a prefeitura tem feito 500 mil exames médicos por mês — a fila atual é de 350 mil — e que criou abrigos e vagas em hotéis para combater o aumento da população de rua.
Embate entre Boulos e Marçal
De propostas para a periferia às provocações mútuas. O clima entre os dois foi tranquilo no primeiro bloco, quando eles usaram uma troca de respostas entre si para falar de propostas para a periferia. Ambos prometeram gerar empregos longe da região central. Na segunda metade do debate, porém, começaram as hostilidades entre os dois.
Marçal chamou Boulos de "extremista". O empresário afirmou ser "o único candidato de direita", disse que Boulos é de extrema esquerda e lembrou que o psolista recebeu R$ 30 milhões do PT para fazer a campanha, enquanto ele não usa dinheiro público.
Boulos rebateu dizendo que o rival era "lobo em pele de cordeiro". Ele ironizou o perfil "bonzinho" que Marçal adotou no início do debate e chamou o rival de "lobo em pele de cordeiro". O psolista usou uma comparação forte para atacar o ex-coach: "o Marçal acusar alguém de extremista é igual a Suzane Richthofen acusar alguém de assassinato".
O psolista também afirmou que Marçal "odeia mulheres". Ele lembrou um vídeo que circula nas redes no qual o ex-coach defende uma tese segundo a qual o crânio das mulheres é menor do que o dos homens. Em resposta, Marçal disse que aquilo era "um papo de esquerdopata maluco".
Marçal chamou Boulos de "depredador de patrimônio público" e "apoiador de rachadinha". Ele tentou reforçar a imagem do rival como radical de esquerda e lembrou que o psolista votou contra a cassação do deputado André Janones (Avante-MG), acusado de desvio de verbas do gabinete. Nunes também lembrou que Boulos pediu o arquivamento do processo contra o colega na Câmara dos Deputados.
Olha, eu estou achando muito esquisito esse perfil que o Marçal adotou hoje, ele tumultuou a eleição inteira, agrediu, mentiu agora ele quer posar de bonzinho. Não é? O lobo em pele de cordeiro. Aliás, o Marçal acusar alguém de extremista é igual a Suzane Richthofen acusar alguém de assassinato. É impressionante
Guilherme Boulos
Diferente do que esse cordeirinho está mostrando aqui, esse aqui sempre foi eu eu não tenho marqueteiro, não tenho dinheiro público, não estou te enganando igual eles estão enganando vocês com dinheiro público
Pablo Marçal
Tabata ironizou clima 'fofinho' do início do debate e atacou Boulos e Nunes
Tabata questionou Boulos, no segundo bloco, sobre mudanças de posicionamento que ele teve ao longo do tempo. "Você, antes, sempre foi contra as creches parceiras. Agora, diz que é a favor, mas o PSOL ainda é contra. Você era contra a GCM [Guarda Civil Metropolitana] ter armamento. Agora é a favor, mas o PSOL é contra. Quem é que vai prevalecer? É o Boulos dos marqueteiros ou é o Boulos do PSOL?", cutucou a candidata.
Boulos lamentou o tom adotado pela adversária e disse ser alvo de acusações por não renunciar a suas posições. "Em relação a creches conveniadas, eu defendo que a rede parceira tenha inclusive as mesmas condições da rede direta. Nós vamos trabalhar para melhorar suas condições de trabalho e buscar igualar a jornada e o salário com a rede direta. Em relação à GCM, eu nunca defendi GCM sem armamento. Isso não é verdade. Defendo que a GCM tenha, sim, o armamento, faça o seu trabalho. Inclusive, eu vou dobrar o efetivo da GCM em São Paulo", disse.
Na réplica, Tabata ironizou o clima de tranquilidade adotado pelos candidatos no início do debate, após troca de farpas e agressões físicas em outros encontros. "Mais uma vez, não tem nenhum problema achar A ou B, o que não dá é na véspera da eleição sair revendo tudo que você pensa por uma questão eleitoral. E acho que vale também trazer aqui o quanto está todo mundo muito fofinho, apertando o olhinho, se comportando nesse debate, graças ao bom Deus, mas é a primeira vez que acontece, não se esqueçam como se portaram nos últimos", afirmou.
Boulos mostra exame toxicológico
Ao tratar do tema criminalidade, Marçal afirmou que Boulos frequentava "biqueiras". Primeiro, Marçal associou o rival à invasão de casas e o psolista respondeu que Marçal não conhecia a cidade porque "não é daqui, é de Goiás". O emprsário, então, subiu o tom e afirmou que Boulos "deve conhecer biqueiras".
Boulos respondeu mostrando um exame toxicológico. Inicialmente ele tentou obter um direito de resposta, mas o pedido foi negado pela Globo. Ao tomar a palavra para a tréplica, o psolista mostrou um exame toxicológico e afirmou que não aceita ataques à honra dele.
Marçal já teve que publicar, em suas redes, vídeos de Boulos como direito de resposta. A Justiça Eleitoral considerou que o ex-coach fez afirmações caluniosas ao associar o candidato do PSOL ao uso de cocaína, sem qualquer evidência. Nunes também já teve que ceder direito de resposta a Boulos.
O prefeito divulgou um vídeo afirmando que Boulos defende "traficantes soltos", um conteúdo que a Justiça Eleitoral classificou como "difamatório e gravemente descontextualizado". O deputado também foi à Justiça para derrubar ligações anônimas que elogiam Nunes e associam o psolista a pautas como liberação das drogas e linguagem neutra nas escolas.
Alguém que deve conhecer melhor a cidade de São Paulo na questão de biqueiras, que eu não conheço nenhuma, ele deve conhecer várias
Pablo Marçal
Eu sou pai de duas filhas e não aceito ter a honra atacada desse jeito. Está aqui: Fiz o exame toxicológico, vai subir agora na minha rede social. Faça o seu Marçal! Faça o psicotécnico também
Guilherme Boulos
Nunes se defende sobre boletim de ocorrência
O prefeito usou suas considerações finais para se defender de acusações de violência doméstica. Durante o debate, Marçal lembrou que a esposa do prefeito já registrou um boletim de ocorrência contra ele. No debate Folha/UOL, no último dia 30, Nunes havia sido confrontado sobre o assunto, mas se esquivou de responder.
Nunes chamou Marçal de "covarde" por ter tocado no assunto ao final do debate, quando o prefeito não tinha mais respostas para usar. Em seguida, Nunes ressaltou que a esposa jamais o acusou de violência física, porque o B.O. trata apenas de discussões por telefone e mensagens.
Eu sou casado há 27 anos, eu amo a minha esposa, tenho três filhos e um neto. Eu tive um problema há 14 anos, eu fiquei um período separado da minha esposa, ficamos meses, mas o nosso amor, graças a Deus, a gente está bem. Estamos casados, felizes, teve lá um desentendimento. Leia o B.O., não tem nada de agressão física, tivemos uma discussão por telefone e por mensagem. Isso eu precisava falar, é injusto o que ele faz, porque ele é malvado, ele é ruim.
Ricardo Nunes
Propostas para a periferia
Candidatos fizeram propostas voltadas ao eleitor da periferia em temas como emprego, segurança e mobilidade. Boulos e Marçal, por exemplo, prometeram criar mais empregos em bairros de baixa renda como medidas para reduzir a criminalidade e desafogar a mobilidade urbana, já que isso reduziria a necessidade das pessoas se deslocarem para o centro.
Segurança foi um dos temas mais citados. Boulos reforçou a promessa de dobrar o efetivo da GCM. Tabata e Marçal enfatizaram o investigmento em tecnologia para combater a criminalidade. Nunes, que foi criticado no tema, voltou a afirmar que a prefeitura terá 20 mil câmeras de vigilância até o fim do ano. Já José Luiz Datena (PSDB), que defendeu o combate à receptação de celulares roubados, fez um apelo para que as pessoas não andem com os aparelhos na rua.
Eu sei que você tem o direito de ir e vir, isso é um direito constitucional. Mas, por favor, não use o celular na rua, a não ser em caso de extrema necessidade. Senão você vai ser roubado
José Luiz Datena
Datafolha mostra empate triplo
Pesquisa divulgada nesta quinta (3) aponta cenário embolado e empate triplo na liderança. Boulos aparece com 26% dos votos. Marçal e Nunes aparecem na sequência com 24%, cada um. Tabata vem em seguida com 11% e Datena, 4%. Brancos e nulos são 6% e indecisos, 3%.
O Datafolha entrevistou 1.806 eleitores paulistanos entre 1º e 3 de outubro. Encomendado pela Folha e pela TV Globo, o levantamento está registrado na Justiça Eleitoral sob o código SP-09329/2024. O nível de confiança é de 95%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
* Participaram desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Bruno Luiz, Caique Alencar, Fabíola Perez, Gilvan Marques, Laila Nery, Rafael Neves, Saulo Pereira Guimarães, Uesley Durães e Wanderley Preite Sobrinho, do UOL , em São Paulo, e Letícia Polydoro e Caio Santana, colaboração para o UOL.