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Cabos eleitorais, vencedores e até perdedores viram nomes fortes para 2026

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

28/10/2024 05h30

Lideranças políticas da direita e da esquerda viveram as eleições municipais de 2024 já com cálculos para a disputa em 2026. São políticos que atuaram a favor de aliados e que, com o resultado das urnas deste domingo (27), alcançaram repercussão nacional.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participaram de campanhas e amargaram mais derrotas do que vitórias, dividindo protagonismo com outros nomes que devem crescer para 2026.

A corrida eleitoral deste ano também fortaleceu partidos e alianças. Na avaliação da cientista política Daniela Costanzo, o centrão, especialmente o PSD e o PL, são os maiores beneficiados.

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Presidenciáveis

Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Tarcísio de Freitas vota em São Paulo Imagem: Bruno Santos/ Folhapress

Criado politicamente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio fez um movimento distinto do de seu padrinho e investiu desde o início na campanha vitoriosa de Ricardo Nunes (MDB) na capital paulista.

O emedebista sempre fez questão de agradecer o apoio de Tarcísio, que, segundo Nunes, não o abandonou nem quando suas intenções de voto caíram nas pesquisas. O governador gravou para o horário eleitoral, participou de agendas, articulou votos no eleitorado evangélico e até ajudou a preparar o prefeito de São Paulo para os debates.

Tarcísio também foi peça importante na articulação e apoio de candidaturas no interior paulista. O Republicanos, seu partido, conseguiu o comando em 82 prefeituras - antes eram 22.

Cientistas políticos consultados pelo UOL afirmam que o governador, além de se projetar como nome forte em 2026, sai dessas eleições como uma liderança política desvencilhada de Bolsonaro e terá mais governabilidade para os próximos dois anos com os partidos aliados.

Pablo Marçal (PRTB)

Candidato Pablo Marçal (PRTB-SP) durante live em que entrevista o candidato Guilherme Boulos (PSOL - SP) Imagem: Reprodução/YouTube/Pablo Marçal

Em uma campanha marcada por factoides e até laudo médico falso, Marçal ganhou repercussão nacional para cacifar sua imagem para 2026. Numa disputa acirrada, o ex-coach conquistou o terceiro lugar, com mais de 1,7 milhão de votos — ficando de fora do segundo turno por uma diferença de menos de 60 mil votos.

No discurso da derrota, o empresário disse que "2026 é logo ali". Marçal não antecipou se deve concorrer à Presidência ou ao governo paulista, mas seu nome já foi testado em algumas pesquisas de intenção de voto.

Sua última cartada para ficar em evidência foi chamar Guilherme Boulos (PSOL) e Nunes para uma sabatina na sexta-feira (25). Apenas o psolista aceitou o convite. Na conversa, o ex-coach tentou passar uma imagem de moderação e diálogo, diferente da adotada ao longo da campanha. Marçal foi para Itália e não votou no segundo turno.

Michelle Bolsonaro (PL)

Michelle Bolsonaro (PL) durante evento em Belo Horizonte Imagem: Taynara Barbosa/Ato Press/Folhapress

Assim como fez nas eleições em 2022, a ex-primeira-dama realizou tour pelo país para reforçar candidaturas de aliados. O trabalho de base começou ainda em 2023 com a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Nos últimos três meses, a ex-primeira dama fez ao menos 42 viagens pelo país para apoiar correligionárias.

Candidatos a vereadores apoiados por ela ganharam expressivamente, como a ex-comentarista da Jovem Pan Zoe Martinez (PL-SP), com mais de 60 mil votos.

Com força política entre as mulheres e o eleitorado evangélico, a presidente do PL Mulher deve concorrer a uma vaga ao Senado pelo Distrito Federal, reforçando a ideia da família Bolsonaro de ter uma "bancada"'. Ela já foi ventilada com uma opção para 2026 por conta da inelegibilidade do marido, mas Bolsonaro resiste à ideia.

Segundo o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Bolsonaro não quer Michelle em cargo executivo. "Ele já falou pra mim. Porque ela não tem experiência de administração pública, de lidar com as coisas de pessoal difícil, coisas de político e tal. E é verdade. Ele não quer", disse, em entrevista ao UOL.

Camilo Santana (PT)

O ministro da Educação foi o principal cabo eleitoral da campanha vitoriosa de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza. Com presença tímida do presidente Lula (PT), a campanha teve Camilo participando de agendas na rua — ele pediu férias da pasta para se dedicar às eleições.

Como ex-governador do estado, usou as redes sociais para alavancar o candidato do PT e também publicou conteúdos negativos do bolsonarista André Fernandes (PL).

Reportagem do UOL já havia mostrado que Camilo poderia ser uma opção para 2026: o ministro precisa se tornar mais conhecido nacionalmente e conseguir reproduzir nacionalmente os índices educacionais que alcançou no Ceará.

Ronaldo Caiado (União)

Governador de Goiás por dois mandatos e com longa vida no Congresso, Caiado tenta cativar o público de direita enquanto administra a relação conflituosa com Bolsonaro. Eles já foram aliados, discordaram na pandemia e, nesta eleições, tiveram um embate direto na corrida eleitoral em Goiânia.

O ex-presidente apoiou a candidatura do deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que foi derrotado por Sandro Mabel, correligionário de Caiado.

"Quem diria, o Caiado da UDR (União Democrática Ruralista), que fala grosso, gosta de ranger os dentes, aceitou o apoio do PT", disse Bolsonaro, em tom de crítica. Caiado negou que procurou o PT e afirmou que buscaria "os votos de todos os goianienses".

Bolsonaro disse estar disposto a conversar com Caiado, mas também o cutucou. "Caiadismo eu não conheço. Bolsonarismo é nacional, caiadismo é local", disse o ex-presidente.

Caiado tenta despontar como um nome da direita contra o governo Lula, mas seu partido - o União Brasil - possui três ministérios na Esplanada.

Ratinho Júnior (PSD)

Governador do Paraná, Ratinho Júnior foi mais um expoente da direita que incomodou o ex-presidente nestas eleições.

Com pretensões para 2026 e apontado como presidenciável, ele irritou Bolsonaro ao sugerir que Eduardo Pimentel (PSD), que ganhou o pleito, escondesse o selo bolsonarista na sua campanha para a Prefeitura de Curitiba.

O ex-presidente ofereceu apoio a Cristina Graeml (PMB), conhecida como "Marçal de saias", mesmo com o PL compondo a chapa de Pimentel com o vice Paulo Martins.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse ao UOL que teve de atuar na reta final para impedir que Bolsonaro fosse à capital paranaense fazer campanha contra o candidato da aliança, que acabou vencedor.

Mais capital político com 2024

Filhos de Bolsonaro

O pleito de 2024 marcou a entrada do filho "04" de Bolsonaro na política. Jair Renan trocou de nome para ter nas urnas o mesmo nome do pai e foi o vereador mais votado em Balneário Camboriú (SC).

A estratégia do pai foi pregar o silêncio para o caçula. O receio era de que a sua inexperiência na política ampliasse a chance de cometer gafes e colocasse em risco uma vitória fácil em um dos municípios em que Bolsonaro pai tem um amplo apoio.

O "02", Carlos Bolsonaro, também bateu recorde de votação no seu sétimo mandato como vereador do Rio. O ex-presidente já afirmou que quer Carlos em Brasília.

"Esperava pelo menos 50 mil votos e ele teve quase três vezes esse número. Continuará o trabalho dele. Com toda certeza disputará algo em 2026 para federal", disse o ex-presidente após o primeiro turno.

Os outros dois filhos de Bolsonaro atuaram em campanhas e já preparam os planos para 2026. A ideia é que Flávio tente uma nova vaga no Senado pelo Rio. Já Eduardo, que é deputado federal por São Paulo, deve pleitear uma cadeira no Senado por São Paulo, criando assim uma espécie de bancada familiar, que pode contar com a presença da ex-primeira-dama Michelle, que pode concorrer ao mesmo cargo pelo Distrito Federal.

João Campos (PSB)

Prefeito reeleito do Recife, João Campos Imagem: Rodolfo Loepert/Divulgação

Reeleito com folga no primeiro turno (78,11%), João Campos sai das eleições municipais com muito mais capital político. Ao UOL News, após a reeleição, disse que era "muito cedo" para falar de 2026.

Cientistas políticos consultados pela reportagem não têm um consenso se a força política dele deve ser testada já na corrida ao governo de Pernambuco ou como liderança no futuro para a Presidência.

Com a casa resolvida no Recife, ele ajudou diferentes candidatos da esquerda no segundo turno, fez agendas de rua em Belém, Fortaleza e Natal, amargando derrota apenas em Natal.

"É um político em que a gente precisa ficar de olho, está construindo uma musculatura", afirma Carolina Botelho, cientista política do Instituto de Estudos Avançados da USP e pesquisadora associada do DOXA (Iesp/Uerj).

Nikolas Ferreira (PL)

O deputado mineiro, que já havia mostrado força política em 2022 como o parlamentar mais votado do país, fez campanha para diferentes aliados nas capitais.

Ele também foi padrinho político dos vereadores mais votados em São Paulo e Belo Horizonte, Lucas Pavanato (PL) e Pablo Almeida, respectivamente.

"O Nikolas, se quiser, pode ser muito forte [um candidato] para o governo, resta saber se ele vai querer, pois ele é uma figura forte, de projeção nacional", afirma Daniela.

O deputado se envolveu integralmente na campanha de Bruno Engler, que acabou sendo derrotado em Belo Horizonte. Fez agenda de rua, articulações e vídeos de campanha - o último com desinformação, o que gerou uma decisão judicial favorável ao adversário Fuad Noman, que ganhou um dia a mais de propaganda eleitoral na TV.

JHC (PL)

JHC (PL) foi eleito prefeito de Maceió (AL) em 2024 Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Reeleito prefeito de Maceió no primeiro turno, com 83,25% dos votos, João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC, tende a movimentar as disputas políticas do seu estado, mas também é apontado por caciques políticos como uma liderança capaz de alçar voos nacionais.

Em 2026, pode tentar o governo do estado ou uma vaga no Senado, o que acirraria ainda mais a disputa entre Renan Calheiros (MDB) e Arthur Lira (PP), que devem pleitear as duas vagas.

Aliado de Lira, JHC irritou o presidente da Câmara quando escolheu o candidato a vice na sua chapa. Lira queria ter feito a indicação, mas JHC foi reeleito com o senador Rodrigo Cunha (Podemos) como vice.

Para assumir o posto, Cunha abrirá espaço para que Eudócia Caldas, sua suplente, ocupe a cadeira de senadora por dois anos. Ela é mãe de JHC e o movimento foi visto como uma espécie de recado de que o prefeito pode mesmo querer disputar a vaga com Renan e Lira em 2026.

Ao UOL, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, classificou JHC como um fenômeno. "Esse é mérito próprio, um fenômeno. É um craque e tem um futuro na política que é um negócio."


Tabata Amaral (PSB)

Deputada, Tabata Amaral disputou a prefeitura de São Paulo, mas não foi ao segundo turno Imagem: Micaela Wernicke/UOL

A candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo conquistou mais votos no pleito em 2024 do que para deputada federal em 2022. Saiu derrotada, mas o resultado foi visto como positivo por caciques do PSB. Reportagem do UOL mostrou que Tabata e parte da cúpula local do partido compartilharam da mesma avaliação: ela atingiu os objetivos da candidatura de se tornar conhecida pela população de São Paulo.

Ela criou uma identidade política, não sei se 2026 é um ano pra ela e cargo majoritário é cargo para ela. [...] De fato é uma política que tem escrito uma trajetória forte e consistente.
Carolina Botelho, cientista política

Lula versus Bolsonaro

Lula (PT)

Com atuação tímida, o presidente viu o desempenho ruim de vários apadrinhados políticos pelo país. Colheu derrotas em cidades importantes para o PT como Araraquara (SP) e São Bernardo do Campo (SP), e também amargou o revés de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo (SP).

Lula chegou a dizer várias vezes que a eleição em São Paulo era prioridade. Pela primeira vez, o PT não lançou cabeça de chapa e a costura pela candidata a vice Marta Suplicy foi feita pelo presidente, que também participou do retorno dela ao partido.

No primeiro turno, marcou presença em São Paulo e Fortaleza, mas até mesmo nessas cidades o petista cancelou agenda com apadrinhados. "Lula teve um desempenho fraco, pode ser por ter se envolvido pouco ou porque já seria ruim de toda forma", afirma a cientista política Daniela Costanzo.

Jair Bolsonaro (PL)

O ex-presidente não viu candidatos que fizeram parte do alto escalão do seu governo se elegerem como prefeitos. Alexandre Ramagem (PL), no Rio, e Gilson Machado (PL), no Recife, foram derrotados ainda no primeiro turno. Marcelo Queiroga (PL) passou para o segundo turno em João Pessoa, mas perdeu com uma margem bastante ampla.

Apesar de ver o fortalecimento do seu partido, Bolsonaro teve uma atuação escondida em São Paulo. Não participou de atos de campanha com Nunes e foi ofuscado pela participação integral de Tarcísio. Na última semana, decidiu participar de um almoço com o emedebista, mas o que ficou marcado mesmo foi o constrangimento entre os presentes. Na ocasião, Bolsonaro fez questão de afirmar que o candidato para 2026 era ele mesmo, que está inelegível por decisão do STF.

A principal aposta dele foi Goiânia, onde esteve neste domingo (27), e rivalizou com o governador Ronaldo Caiado. Das onze cidades onde fez campanha a aliados no segundo turno, Bolsonaro foi derrotado em oito.

Atuações estrategicamente tímidas

Fernando Haddad (PT)

Ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato ao governo paulista e à Presidência, Haddad ficou reservado nas campanhas deste ano. Na capital paulista, o petista participou de um ato com Boulos em Heliópolis antes do primeiro turno e de um comício com Lula e o psolista na zona leste. Ao votar no domingo, Haddad falou que se envolveu "o quanto foi demandado".

Seu foco, por enquanto, tem sido as medidas de aumento da arrecadação e a meta de equilíbrio fiscal. Talvez seu futuro político dependa mais das contas e da percepção do mercado do que de arranjos políticos.


Simone Tebet (MDB)

Figura importante nas eleições de 2022, a ministra não desempenhou papel estratégico em nenhuma campanha municipal. Em São Paulo, ela passou por uma situação delicada - seu partido teve candidato próprio, o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), mas o presidente Lula apoiou Guilherme Boulos. A ministra então preferiu não se envolver em nenhum ato de campanha.


Geraldo Alckmin (PSB)

Se não fosse a campanha de Tabata, o vice-presidente passaria despercebido nas eleições municipais deste ano. Com a candidata derrotada, o ex-governador paulista anunciou apoio a Boulos e fez atividades com o candidato do PSOL no segundo turno. Os acenos foram tímidos e ocorreram na última semana de campanha.

No primeiro compromisso, no bar Estadão, a dupla dividiu o tradicional lanche de pernil, trocaram palavras em volta de apoiadores e marcaram um momento de vergonha para quem já trocou ofensas em debates em outros pleitos.

Romeu Zema (Novo)

Governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) participou de algumas campanhas de candidatos do Novo no estado, mas optou por um apoio "morno" aos candidatos de Belo Horizonte.

No primeiro turno, chegou a gravar vídeos para Mauro Tramonte (Republicanos) que não foram aproveitados no horário eleitoral. No segundo turno, declarou apoio ao candidato do PL, Bruno Engler, mas não se engajou na campanha para evitar atritos maiores com o PSD, de Fuad Noman, que acabou vitorioso.

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