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"Seria uma ilegalidade", diz Yoani Sánchez sobre suposta proibição de retornar a Cuba após viagem internacional

Yoani Sánchez participa de debate sobre direitos humanos no Museu Parque do Saber, na Bahia - Ueslei Marcelino/Reuters
Yoani Sánchez participa de debate sobre direitos humanos no Museu Parque do Saber, na Bahia Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Gabriel Carvalho

Do UOL, em Feira de Santana (BA)

18/02/2013 23h24

Após cerca de 20 tentativas malsucedidas de sair de Cuba,nos últimos cinco anos, a blogueira Yoani Sánchez conseguiu deixar Havana e disse, em Feira de Santana (a 108km de Salvador), que não teme por sua vida e crê que é uma ilegalidade que as autoridades de seu país a impeçam de retornar a Cuba no fim de maio,  após a viagem por 12 países que tem no Brasil sua primeira parada.

Defensora da liberdade de expressão, ela disse que é uma critica do governo cubano desde pequena e que as autoridades de Havana sempre buscam desqualificar quem tem idéias diferentes. "É como um disco arranhado, eles ficam sempre repetindo as mesmas informações", afirmou.

Recebida sob protestos em Recife, Salvador e Feira de Santana nesta segunda-feira (18), Sánchez afirmou que em Cuba as manifestações contrárias ao governo são repelidas com truculência pelas autoridades.  "Contra o governo, os protestos não duram um minuto. Quem é contra é agredido e torturado", contou a blogueira.

Sánchez também negou que recebe financiamento de grupos ligados a grandes meios de comunicação e falou sobre o que chama de 'Reforma Raulista'. "Eu creio que a direção esteja correta, com melhoras econômicas. O problema é a velocidade e a profundidade não são suficientes para o que necessita a nação e a velocidade é desesperadora", afirmou.

Perguntada se era de esquerda ou direita, ela respondeu:  "Eu sou por Cuba, não creio mais em definições de direita ou esquerda, pois sou pelo século 21, um governo não pode dizer que é de esquerda com ações retrogradas. Sou pró-Cuba", completou.

Crítica dos irmãos Raul e Fidel Castro,  ela ressaltou a abertura econômica  feita por Raul, mas alfinetou a política do presidente do seu país dizendo que o mercado foi aberto para profissões de menor qualificação e criticou a alta carga tributária e ausência de linhas de crédito.

Sobre o fato de o Brasil ser o primeiro entre os 12 países que visitará nos próximos 90 dias, ela disse : "era um país que não conhecia e que me apaixonava. Aqui teve um grupo de pessoas que fez o possível e impossível para que eu viajasse. É uma forma de agradecimento a essas pessoas", concluiu

Ela também comentou a recepção ao chegar no Brasil.  "Eu já esperava essa manifestação, que é um argumento pacífico e me encoraja, pois quero que as pessoas possam se manifestar livremente desta maneira em meu país", disse.

Após chegada conturbada, sob os gritos de traidora e palavras de ordem, ela foi recebida pelo prefeito da cidade, José Ronaldo Carvalho (DEM) e pelo senador Eduardo Suplicy (PT), que também foi hostilizado pelos manifestantes.

Suplicy chegou a discutir com alguns integrantes da União da Juventude Socialista (UJS) e disse que a vinda de Sánchez ao Brasil "era um sinal positivo das autoridades cubanas para que haja o fim do embargo econômico liderado pelos Estados Unidos contra Havana. Ela também é a favor do fim desse embargo, que é o que vocês (manifestantes) defendem", disse.

Sobre os pedidos da oposição brasileira para investigar uma suposta espionagem denunciada pela Revista Veja, ele disse que a visita de Sánchez ao Brasil é um ato transparente. "É importante que as pessoas se ouçam umas às outras", completou.

Suplicy também negou que estivesse de saída do Partido dos Trabalhadores para o novo  partido da ex-senadora Marina Silva. "Tenho um compromisso de vida com o PT, do qual sou fundador e não pretendo sair", afirmou.

Manifestantes dizem que blogueira é traidora

Caio Botelho, diretor da UJS, criticou a imprensa e disse que nao concorda com "o financiamento que é feito pelos Estados Unidos para que Sánchez mantenha seu blog. Nós não gostamos de quem trai o seu povo por dinheiro", afirmou.

Leomarcio de Araújo, do Movimento de Pequenos Agricultores da Bahia disse que a blogueira "está ligada a grandes conglomerados de comunicação e nao tem razão em falar em cerceamento da liberdade de expressão.

Presença de opositora cubana na Bahia divide políticos

Opositor tradicional dos governos do PT, o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo Carvalho (DEM), disse que a vinda de Yoani Sánchez para o Brasil orgulha muito os baianos e disse que as manifestações contrárias à presença dela "são legítimas". 

Já o deputado estadual Álvaro Gomes (PC do B), disse, na tarde desta segunda-feira, no plenário da Assembléia Legislativa, em Salvador, que Sánchez estava "à serviço da direita" para criticar o regime cubano e justificou a hostilidade dos manifestantes. "Quem não é bem vista no seu país, não pode ser bem recebida aqui. Ela deveria exaltar o governo (de Fidel e Raul Castro), pelos avanços sociais", disse.