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Sentimento é de dever cumprido, diz dom Odilo sobre escolha do papa

Do UOL, em São Paulo

14/03/2013 12h30

Em entrevista à Rádio Vaticano, o cardeal e arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, disse que o sentimento após o anúncio do papa argentino Francisco é de alegria e de dever cumprido.

“Sem dúvidas, em toda América Latina existe grande alegria (...). Nós, por sermos muito próximos da Argentina, de onde o papa está vindo, nos alegramos de maneira super especial e saudamos o novo papa e o povo argentino”, disse.

O cardeal ainda acrescentou que a Igreja Católica, agora, vive um momento de “profunda fé e esperança em Deus” e que a escolha de um papa não-europeu é sinal de novidade.

Sobre o favoritismo

Dom Odilo, apontado antes do conclave como um dos principais favoritos para a eleição do papa, afirmou nesta quinta-feira que não havia entrado na Capela Sistina esperando ser eleito. "Tenho os pés no chão", afirmou o arcebispo de São Paulo durante entrevista coletiva ao lado dos outros quatro cardeais brasileiros que participaram do conclave.

Nas principais casas de apostas britânicas, o nome de Scherer aparecia na véspera do conclave como o segundo ou terceiro mais cotado entre os apostadores, enquanto o cardeal Jorge Mario Bergoglio, agora papa Francisco, não aparecia entre os dez favoritos.

"As cotações prévias foram todas para o espaço", brincou Scherer, para depois destacar que as previsões não tinham ligação com a realidade. "Eu lhe pergunto: com que critério foram feitos esses cálculos? Foram cálculos humanos, mas a Igreja não é feita só de cálculos humanos", afirmou.

Ele afirmou ter enfrentado a pressão da imprensa antes do conclave com "tranquilidade".

'Sopro vital'

Scherer também elogiou a escolha do novo papa. "Depois de 500 anos (da existência da Ordem dos Jesuítas), é um papa jesuíta, com coração franciscano", afirmou. 

Ele brincou ainda ao dizer que na região da Patagônia, ao sul da Argentina, venta muito, e que a Igreja foi buscar seu "sopro vital" num lugar distante como a Argentina. 

Questionado se houve algum enfrentamento entre grupos de cardeais conservadores e progressistas durante o conclave, Scherer afirmou: "Em nenhum momento identifiquei, tanto nas congregações gerais (reuniões pré-conclave) quanto no conclave, nenhum partido, de esquerda ou de direita". "O conclave ocorreu em clima de oração, de serenidade e de responsabilidade", afirmou.

Scherer afirmou ainda que não teve contato com seus familiares no Brasil durante o conclave e brincou que se eles tivessem participado da eleição, ele teria sido escolhido.

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Denúncias

O arcebispo apelou ainda para que seja feita uma distinção entre as denúncias de escândalos sexuais, desvio de recursos e de divisão interna da Igreja Católica Apostólica Romana. Para o arcebispo, é necessário punir os responsáveis. Dom Odilo, no entanto, evitou opinar sobre se as investigações estão entre as prioridades do papa Francisco.

Ele defendeu que os responsáveis pelos desvios de comportamento sejam punidos e pediu que não se confundam indivíduos com a instituição da Igreja. "As pessoas devem ser responsabilizadas, não a instituição", destacou.

Ao ser perguntado se as investigações serão levadas adiante pelo papa Francisco, dom Odilo evitou entrar em detalhes, mas foi incisivo: "A Igreja não aprova escândalos, nem os incentiva". Para ele, apurar escândalos "é missão permanente dos papas. O papa Bento 16 deu a vida por isso. Tenho certeza que o papa Francisco vai continuar a fazer isso", ressaltou.

Dom Odilo lembrou que a eleição do papa foi guiada pela inspiração do Espírito Santo, portanto Francisco saberá como agir. "A Patagônia tem muitos ventos", disse o cardeal, lembrando da região que fica no Sul da Argentina em uma alusão ao país natal do novo papa. "O Espírito Santo sopra de onde quer e como quer."