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Pouco conhecido, papa Francisco conquista fiéis com falas improvisadas e atitudes humildes

Fernanda Calgaro

Do UOL, na Cidade do Vaticano

18/03/2013 06h00

Fora da lista de apostas dos favoritos para suceder Bento 16, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio surpreendeu o mundo ao ter seu nome anunciado como o próximo papa. Virtual desconhecido, em poucos dias de pontificado, porém, ele chamou a atenção pelo comportamento simples e discurso espontâneo e cativou boa parte da comunidade católica.

Improviso e humildade

  • Papa Francisco anda de ônibus ao lado do cardeal brasileiro dom Raymundo Damasceno

  • Papa pagou a conta de hotel para "dar exemplo"

  • Papa cumprimeta multidão após rezar missa

  • Papa abençoa cão-guia de jornalista durante audiência com a imprensa após eleição

Logo após ser eleito, ao retornar, já com os trajes brancos de sumo pontífice, à Casa Santa Marta, edifício no Vaticano onde os cardeais dormiam e faziam suas refeições durante o conclave, Francisco recusou a limusine oficial que o aguardava e preferiu usar o mesmo ônibus em que viera. Sentou-se ao lado do cardeal brasileiro dom Raymundo Damasceno e veio batendo papo.

No dia seguinte, logo cedo, sem nenhuma pompa, foi até uma das principais basílicas de Roma orar. No caminho, fez questão de parar no hotel para clérigos onde ficara hospedado antes de se confinar com os demais cardeais na capela Sistina, e pessoalmente pagar a conta das suas diárias e pegar seus pertences.

De forma anônima, ele também conseguiu dar uma escapada no sábado (16) para visitar um cardeal amigo que sofrera um infarto e estava internado em um hospital de Roma.

No domingo (17), ele quebrou outra vez o rígido protocolo. Pouco antes de celebrar uma missa para funcionários do Vaticano na pequena igreja de Santa Anna, que fica dentro da cidade murada, mas a poucos metros de um portão com acesso à rua, o papa foi ao encontro da multidão, para espanto dos seus seguranças. Francisco cumprimentou diversas pessoas e beijou outras tantas crianças.

Assim como o seu esforço para permanecer na esfera das pessoas “comuns”, as suas falas improvisadas têm lhe rendido fãs. Ao ser apresentado pela primeira vez na sacada da basílica de São Pedro como o novo papa, ele cumprimentou as milhares de pessoas na praça em frente com um singelo “boa noite” em italiano, em vez da tradicional saudação em latim.

Em uma audiência no Vaticano com os mais de 5.000 jornalistas que participaram da cobertura do conclave, ele interrompeu a leitura do seu discurso, em que exaltava as qualidades da imprensa, para brincar: “Vocês trabalharam, hein!”. Foi aplaudido e ganhou a empatia da imprensa.

Ao explicar a escolha do nome Francisco (uma homenagem a São Francisco de Assis), ainda no mesmo encontro, o papa divertiu os jornalistas quando contou que alguns cardeais sugeriram que adotasse Adriano, por causa de Adriano 6º, conhecido como um papa "reformista".

Também fez o público rir ao dizer que outros queriam que ele se chamasse Clemente 15, para se "vingar" de Clemente 14, que chegou a suprimir a Companhia de Jesus, ordem da qual faz parte e que chega ao posto máximo da Igreja Católica pela primeira vez.

Outra demonstração de informalidade foi no seu primeiro Angelus, quando abençoou uma praça São Pedro lotada. Ao citar um livro escrito por um cardeal, fez uma pausa para dizer que, de modo algum, estava fazendo propaganda da obra, provocando risos nos milhares de fiéis e peregrinos que o olhavam num misto de emoção e contentamento por ver, pela primeira vez, um papa latino-americano. Ao final, Francisco terminou simplesmente, com um: “bom domingo e bom almoço”.

Lá na praça, quem o ouviu era só aprovação: "Ele parece ser um papa muito mais próximo do povo. É incrível a simpatia dele e a emoção que sinto, como há muito não sentia", afirmou a dona de casa brasileira Maria Torres.

Embora não conhecesse nada sobre o novo papa antes da sua eleição, o estudante americano Kevin Muller também se disse muito animado com o que viu e ouviu até agora do pontífice: "Ele é absolutamente fantástico. Sinto que é um homem humilde".