Casal gay relata clima "liberal" e diz que "era feliz" na Berlim comunista
A vida em Berlim Oriental – o lado comunista da capital alemã - é frequentemente associada a privações, repressão e desejo de fugir para o oeste capitalista. Não é assim que o casal Frank Müller, 50, e Mark Hoffmann, 57, se lembra dos tempos em que um muro dividia a cidade.
“Havia uma vida muito liberal e aberta. A gente estava contente em Berlim Oriental”, afirma Frank. “Na RDA [República Democrática Alemã] estudei, tive acesso à universidade e comecei logo a trabalhar”, diz Mark Hoffmann, 57.
Ele diz que quando o muro caiu, alguns amigos pensaram imediatamente em se mudar para a Berlim Ocidental, "mas como nós tínhamos nossa vida aqui e estávamos contentes decidimos ficar".
“Ficamos sabendo da queda do muro pela TV. Havia um programa de notícias da Alemanha Ocidental que conseguíamos sintonizar no leste, e vimos que a partir daquela dia [9 de novembro] se podia viajar para lugares antes proibidos” afirma Frank.
Sua reação inicial foi pedir uma autorização de viagem para visitar uma tia que morava no lado ocidental de Berlim. “Só depois me dei conta de que com a queda do muro não era mais preciso pedir autorização para viajar para nenhum lugar!”, diz.
“Fui trabalhar normalmente e no trabalho todos os meus amigos estavam falando sobre a queda da barreira”, diz Frank.
A primeira visita do casal na porção capitalista da cidade veio apenas no dia 10 de novembro: “Fomos passear pela cidade e atravessamos o muro. Havia muita gente na rua e praticamente não se podia andar, a multidão te empurrava. Todos queriam ir para o lado ocidental”, lembra Mark.
“Finalmente atravessamos o muro, demos uma volta por Berlim Ocidental durante três ou quatro horas e voltamos pra casa. Na real, estava tudo tão lotado que não foi divertido estar em um lugar onde antes não era permitido”, diz Frank.
Constituição liberal
Segundo o casal, em alguns pontos a Constituição da Alemanha comunista era até mais liberal do que a da vizinha capitalista: “Antes da Segunda Guerra Mundial havia na Constituição da Alemanha um parágrafo que proibia a homossexualidade”, diz Mark.
“Depois da separação das Alemanha, em 1945, esse paragrafo continuou a existir na Alemanha Ocidental, enquanto na porção comunista ele foi abolido, ou seja, a homossexualidade não era crime na RDA”, afirma.
Frank concorda com o companheiro, e lembra que “quando decidimos morar juntos fomos até o escritório de habitação do governo e pedimos um apartamento. Dissemos: somos um casal e queremos morar juntos. Em três semanas fomos atendidos. Hoje em dia isso é algo inimaginável, não se encontra um apartamento em Berlim em menos de seis meses”.
Ambos definem a vida no lado comunista da Alemanha como “uma vida sem medo”, mas fazem uma ressalva: “isso porque não éramos politicamente ativos”. Estima-se que centenas de opositores do regime foram perseguidos e presos pela polícia política da RDA, a temida Stasi.
Além disso, dezenas foram mortos pela Volkspolizei (Polícia do Povo) ao tentar cruzar o muro que separava Berlim.
“Era preciso se adaptar ao sistema para ter uma vida boa, mas não livre”, diz Mark. “Simplesmente não pensávamos na possibilidade de ter o que veio depois: democracia e liberdade”.
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