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Não se resolve situação de um país matando diplomatas, diz embaixador da Turquia

Embaixada da Rússia em Ancara recebe coroa de flores em homenagem ao embaixador morto - Adem Altan/AFP
Embaixada da Rússia em Ancara recebe coroa de flores em homenagem ao embaixador morto Imagem: Adem Altan/AFP

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

20/12/2016 16h42

O embaixador da Turquia no Brasil, Ali Kaya Savut, condenou nesta terça-feira (20) o ataque que matou o embaixador da Rússia em Ancara (Turquia), na segunda-feira (19). "Você não resolve a situação de um país matando diplomatas em outro", disse, em referência à guerra na Síria. "Isso deve ser condenado nos termos mais fortes. Foi um ato terrorista covarde."

O embaixador russo Andrei Karlov foi morto com tiros à queima-roupa pelo policial turco Mevlut Mert Altintas, durante a abertura de uma exposição de fotos sobre a Rússia em uma galeria de arte de Ancara.

O policial gritou "Deus é grande" ("Allahu Akbar", em árabe), e afirmou que sua ação era uma vingança pela cidade de Aleppo, na Síria, que se tornou símbolo da atrocidade da guerra. Mevlut Mert Altintas foi morto horas depois, segundo fontes oficiais da Turquia.

A Rússia apoia a retomada militar de Aleppo, ao lado das forças militares sírias, sob o comando do presidente Bashar al-Assad. Na questão síria, a Turquia também desempenha papel importante, porque recebe e abriga parte dos refugiados dos combates e da situação de miséria na Síria. Por sua posição geográfica, a Turquia é porta de entrada para a Europa, na ligação entre o continente e o Oriente Médio.

Ameaça à união entre Turquia e Rússia?

O embaixador da Turquia no Brasil, entretanto, rejeita o vínculo entre o ataque em Ancara e o apoio russo ao governo sírio. "Isso era o que ele [o policial] queria que nós pensássemos, mas não é a razão real", afirmou Savut.

Para ele, o objetivo real foi gerar um conflito que distaciasse novamente Turquia e Rússia: "Foi obviamente com a intenção de enfraquecer e sabotar as relações entre os dois países". Savut afirmou, entretanto, que os presidentes Recep Tayyip Erdogan (Turquia) e Vladimir Putin (Rússia) já conversaram sobre o caso e chegaram à conclusão de que não é suficiente para estremecer a relação. "O bom senso prevaleceu", afirmou Savut.

Embora Estado-membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar liderada pelos Estados Unidos, a Turquia tem aprofundado suas relações com a Rússia, especialmente desde a tentativa frustrada de golpe militar para derrubar o presidente turco, em julho último.

Os países são parceiros comerciais de longa data. A Turquia tem a Rússia como destino de grande parte de suas mercadorias, e suas empreiteiras participam da construção de numerosos empreendimentos imobiliários em solo russo.

Embaixador - Burhan Ozbilici/ AP - Burhan Ozbilici/ AP
O policial turco Mevlut Mert Altintas durante o ataque ao embaixador russo
Imagem: Burhan Ozbilici/ AP

Suspeita de agente infiltrado

Sobre o policial autor dos disparos, o embaixador turco no Brasil sugeriu que ele possa ser agente infiltrado de alguma organização terrorista. "Há muita gente infiltrada na força policial turca, hoje. Eles estão sendo identificados e expulsos, mas alguns deles ainda estão lá." O diplomata disse que um dos focos das investigações é saber se Altintas agia sozinho ou não.

Savut falou também que seu colega russo Andrei Karlov "era muito bem-sucedido e apreciado" na Turquia. "Nós lamentamos que ele tenha sido vítima." Deplorou particularmente o fato de o alvo ser do corpo diplomático, porque "embaixadores são servidores civis que trabalham duro pela paz e pela estabilidade".

"Muitos embaixadores turcos foram mortos no passado por terroristas", lembrou, pedindo reforço na segurança desses profissionais.