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Embaixador russo é morto por atirador na Turquia

Atirador foi flagrado por câmeras e fotógrafos no local dos tiros - Burhan Ozbilici/ AP
Atirador foi flagrado por câmeras e fotógrafos no local dos tiros Imagem: Burhan Ozbilici/ AP

Do UOL, em São Paulo

19/12/2016 15h29

Andrei Karlov, embaixador da Rússia na Turquia, foi morto nesta segunda (19) por um atirador enquanto visitava uma galeria de arte em Ancara, capital turca. O responsável pelo ataque é um membro da polícia da Turquia e gritou "Allahu Akbar" ("Alá é grande") em defesa da Síria, de acordo com um fotógrafo da agência de notícias AP que estava presente no local. 

O atirador foi morto no local por forças de segurança. Ele foi identificado pelo Ministério das Relações Exteriores da Turquia como Mevlut Mert Altintas. O atirador tinha 22 anos e trabalhava para uma tropa de choque da polícia de Ancara nos últimos dois anos e meio. 

A Rússia considera o episódio um "ataque terrorista", mas nenhuma organização assumiu a autoria do ato até aqui; "Hoje em Ancara, como resultado de um ataque, o embaixador da Rússia na Turquia foi morto", disse Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo. O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidos), também reconheceu como um ataque terrorista. 

De acordo com o jornal norte-americano Washington Post, o atirador gritou frases em defesa da Síria. "Não esqueçam de Aleppo! Não esqueçam da Síria! Vocês não ficarão seguros até que nossas cidades tenham segurança. Somente a morte pode me levar daqui. Nós somos aqueles que prometeram fidelidade a Maomé para fazer a jihad (guerra santa)". 

O responsável pelo ataque teria mostrado uma identificação oficial para entrar na galeria de arte. Ainda não é claro se ele estava no local a serviço ou não. Ao todo, quatro pessoas foram detidas, segundo a agência estatal turca Anadolu: a mãe, o pai, a irmã e o colega de quarto do policial. 

Uma foto do embaixador momentos antes de sua morte mostra o atirador posicionado logo atrás de Karlov, à esquerda. 

19.dez.2016 - Embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, falava na galeria de arte momentos antes de ser alvejado por tiros pelas costas. O atirador é visto no fundo à esquerda - AP/Burhan Ozbilici - AP/Burhan Ozbilici
Embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, falava na galeria de arte momentos antes de ser alvejado por tiros pelas costas. O atirador é visto no fundo à esquerda
Imagem: AP/Burhan Ozbilici

O embaixador foi ao local prestigiar uma exposição chamada "Rússia vista pelos turcos", patrocinada pela embaixada.

Um vídeo da cena mostra o embaixador fazendo um discurso antes dos tiros começarem. Em meio a gritos de outras pessoas que estavam no local, o atirador aparece por trás do embaixador, já caído no chão, e grita palavras de ordem. 

Karlov chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Três outras pessoas também foram feridas no ataque, mas não estão em estado grave.

Imagens fortes: vídeo mostra morte de embaixador russo na Turquia

UOL Notícias

 

Segundo o site britânico The Independent, o prefeito de Ancara Melih Gokcek afirmou a repórteres do lado de fora da exposição que o ataque visava desestabilizar as relações entre Turquia e Rússia. 

Os dois países têm tido uma relação delicada nos últimos anos. Ambos defendem lados contrários na guerra civil síria. O ápice da turbulência dessas relações ocorreu em 2015, quando um jato militar russo foi abatido pela Turquia, que acusou invasão de espaço aéreo. 

Rússia, Irã e Turquia têm reunião sobre a Síria nesta terça

Os ministros das Relações Exteriores de Rússia, Irã e Turquia irão se reunir em Moscou nesta terça-feira (20) com o objetivo de buscar uma nova solução para a cidade síria de Aleppo.

Rússia e Irã estão no mesmo lado da Síria, onde apoiam o regime de Bashar al-Assad, tanto política como militarmente, já que os aviões russos e as milícias iranianas participaram ativamente nos combates.

Pessoas tentam se proteger durante ataque a embaixador russo na Turquia - Burhan Ozbilici/AP - Burhan Ozbilici/AP
Pessoas tentam se proteger durante ataque a embaixador russo na Turquia
Imagem: Burhan Ozbilici/AP

Enquanto isso, russos e turcos aproximaram posturas nas últimas semanas, até o ponto de que o acordo de evacuação de civis e combatentes rebeldes da cidade de Aleppo foi fechado pelo chefe do Kremlin, Vladimir Putin, e seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan.

No último domingo (18), houve protestos na Turquia por causa da intervenção russa na guerra civil da Síria. A Turquia é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e apoia grupos rebeldes. 

Embaixador era diplomata de carreira

Morto no incidente, Andrei Karlov tinha 62 anos e era diplomata de carreira. O russo entrou para o serviço diplomático em 1976 e atuou como embaixador em Pyongyang, na Coreia do Norte, entre 2001 e 2006 e depois atuou como chefe do departamento consular do Ministério das Relações Exteriores russo. Ele era embaixador na Turquia desde 2013. 

Ataque é condenado no mundo

Segundo sites internacionais, o presidente russo Vladimir Putin ligou para o presidente turco Recep Erdogan logo após o assassinato. Putin ainda teria pedido uma reunião de emergência com o seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e com chefes de forças de segurança. 

Putin ainda afirmou que o ataque foi feito para prejudicar as relações do país com os turcos. Erdogan utilizou o mesmo tom e afirmou que um comitê de investigação dos dois países será instaurado. 

O nacionalista russo Vladimir Zhirinovsky acusou que a morte foi orquestrada pelo ocidente por medo da relação entre Rússia e Turquia. Já o ex-chefe do comitê de relações exteriores da Câmara russa afirmou que o ataque foi motivado por uma "histeria" da imprensa em relação a Aleppo, cidade síria destruída na guerra civil do país. 

Organizações internacionais, como a ONU, condenaram o ataque ocorrido em Ancara. Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, chamou o caso de um "ato atroz". 

Os Estados Unidos, que ameaçam retaliações à Rússia após suposta intervenção na eleição norte-americana, também lamentaram o episódio. O secretário de Estado John Kerry ofereceu ajuda à Rússia e Turquia para investigar o ataque "desprezível". 

Donald Trump também lamentou o ataque feito, em suas palavras, por um "terrorista radical islâmico". O país norte-americano ainda fechou sua embaixada em Ancara, segundo a agência estatal russa RIA. O Irã decidiu fechar temporariamente suas embaixadas em Istambul, Trabzon e Erzurum,segundo sites internacionais. 

Os turistas russos na Turquia receberam avisos para ficarem longe de aglomerações. Já a embaixada russa teve a segurança reforçada. 

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia afirmou que os responsáveis pelo ataque serão levados à Justiça e que o ato não prejudicará as relações entre Rússia e Turquia.

O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, expressou "consternação" pelo ataque e ofereceu condolências aos familiares da vítima. 

Outros países também enviaram condolências à Rússia e condenaram o ataque. Entre eles, a Alemanha. Já o Ministério das Relações Exteriores da Síria chamou o ataque de "terrorista e covarde". 

Um ex-ministro das Relações Exteriores da Suécia comparou o assassinato à morte do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e de sua mulher por um membro da organização nacionalista sérvia em 1914, em episódio que foi o estopim para o início da Primeira Guerra Mundial. Para ele, se a morte do embaixador tivesse ocorrido há seis meses, a história poderia ter se repetido.