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Autópsia confirma uso de armas químicas em ataque na Síria, afirma ministro turco

4.abr.2017 - Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun, no norte da Síria, após um suposto bombardeio químico - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour
Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun após um suposto bombardeio químico
Imagem: AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour

Do UOL, em São Paulo

06/04/2017 06h05Atualizada em 06/04/2017 12h05

Autópsias realizadas nas vítimas do ataque que matou 86 pessoas, incluindo 30 crianças, na Síria na última terça-feira (4), na cidade de Khan Sheikhoun, confirmaram o uso de armas químicas, informou nesta quinta-feira (6) o ministro da Justiça da Turquia, Bekir Bozdag.

"Fizeram autópsias em três corpos que foram levados de Idlib para Adana (sul da Turquia) e contaram com a participação de representantes da Organização Mundial da Saúde e da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ). O resultado comprovou o uso de armas químicas", disse.

"Este exame científico revela também que (Bashar al) Assad utilizou armas químicas", completou o ministro, sem revelar os elementos que servem de base para a acusação.

O ministro turco já havia dito na quarta que existiam "provas" do uso de armas químicas no ataque, atribuído por ele ao governo sírio --o qual nega envolvimento.

Mais tarde, o Ministério da Saúde da Turquia divulgou que os pacientes foram expostos a gás sarin.

Segundo a Defesa Civil da Síria, que fornece serviços de resgate em áreas fora do controle das forças governamentais, o ataque expôs a substâncias químicas cerca de 300 pessoas.

Ao serem atendidos, os feridos apresentavam sintomas de asfixia, vômitos, espasmos e alguns soltavam espuma pela boca, segundo denunciaram algumas fontes.

Dezenas de pessoas feridas no suposto ataque químico estão recebendo atendimento médico na Turquia, país vizinho da Síria. As autópsias, que demoraram quase três horas, de acordo com a Anadolu, foram gravadas com câmeras. As autoridades turcas e delegação da OMS também recolheram mostras.

A Síria continua negando de forma veemente o uso de armas químicas. Nesta quinta, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Muallem, disse que o Exército "não usou e nunca utilizará" esse artifício. "Posso garantir mais uma vez que o exército árabe sírio não usou e nunca utilizará este tipo de armas contra nosso próprio povo, contra as nossas crianças, nem mesmo contra os terroristas que mataram nosso povo", disse.

Segundo a versão do regime, a aviação síria atingiu na terça-feira um "estoque terrorista" onde havia substâncias tóxicas. "O anúncio do bombardeio foi feito por grupos opositores às 6h local (1h, em Brasília), quando na realidade o primeiro bombardeio de nossas forças foi às 11h30 local (6h30, em Brasília) contra um estoque da Frente al Nusra [grupo rebelde que era ligado à rede terrorista AlQaeda], onde havia armamento químico", detalhou o ministro.

Al Moualem afirmou que seu governo estudará qualquer proposta para criar um comitê de investigação sobre o fato, destacando que ele teria que ser neutro, não politizado e com uma ampla representação.

Forças opostas

A Turquia e outros países, como Estados Unidos, França e Reino Unido, responsabilizaram o regime de Assad pelo ataque. 

Na quarta (5), o presidente americano, Donald Trump, chamou o ataque de "afronta à humanidade" e prometeu destruir o grupo Estado Islâmico (EI). Ele disse que atos como este 'não podem ser tolerados".

Pouco antes, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, condenou os governos da Rússia e da Síria pelo ataque contra civis e sinalizou que os EUA estão dispostos a agir de modo independente. 

"Quando a ONU falha em seu dever de agir conjuntamente, há momentos na vida dos Estados em que somos compelidos a tomar nossas próprias ações", afirmou Haley. "Pelo bem das vítimas, espero que o resto do conselho [de Segurança da ONU] esteja disposto a fazer o mesmo." 

Nesta quinta, o chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, disse que "chegará o dia em que a justiça internacional se pronunciará sobre Bashar al-Assad, que massacra seu povo". Segundo ele, o ditador sírio acabará julgado como "criminoso de guerra".

Maior aliado de Assad no conflito, o governo da Rússia continua apoiando o regime sírio. Nesta quinta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o ocorrido foi um "crime monstruoso", mas afirmou que os Estados Unidos não têm informações objetivas para responsabilizar o governo de Damasco.

"Pouco depois da tragédia, ninguém podia ter acesso a esta zona [em Khan Sheikhoun]", afirmou Peskov à imprensa. "Assim, nenhuma informação da qual a parte americana possa dispor (...) pode estar fundamentada em materiais ou testemunhos objetivos".

"Ninguém pode ter informação confiável e realista sobre este crime perigoso e monstruoso. Não estamos de acordo com as apreciações que foram dadas", acrescentou, em alusão às acusações feitas por outros países responsabilizando Assad pelo ataque. A Rússia defende a tese do regime de que as forças sírias bombardearam um depósito dos rebeldes que continha substâncias tóxicas. (Com agências internacionais.)