Topo

Oposição 'marcha em silêncio' após distúrbios e mortes na Venezuela

Vestidos de branco, manifestantes protestaram neste sábado em Caracas - Ronaldo Schemidt/AFP
Vestidos de branco, manifestantes protestaram neste sábado em Caracas Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Do UOL, em São Paulo

22/04/2017 13h55Atualizada em 22/04/2017 14h07

Vestidos de branco, opositores venezuelanos caminharam neste sábado até a sede da Conferência Episcopal em uma "marcha do silêncio", após o aumento da violência, que deixou mais de 20 mortos em três semanas de protestos contra o governo. 

Contingentes da militarizada Guarda Nacional e da polícia protegiam setores e acessos estratégicos de Caracas enquanto alguns manifestantes começavam a se reunir em alguns pontos definidos por líderes da oposição. O governo do presidente Nicolás Maduro acusou a Igreja venezuelana de ser um "ator político" de oposição.

A marcha deste sábado foi convocada pela coalizão oposicionista MUD (Mesa da Unidade Democrática) e também homenageia as pessoas que faleceram enquanto cobravam a realização de eleições na Venezuela. 

A passeata partiu de 20 pontos de Caracas, sendo 18 deles no município de Libertador, um dos que formam o distrito da capital e que é governado pelo chavista Jorge Rodríguez, que já advertiu que não permitiria atos da oposição em sua região.

Ao menos 14 pessoas morreram em protestos nesta semana

Band Notí­cias

Na sexta-feira (22) à noite, foram registrados pequenos protestos e focos de distúrbios em uma área de Petare e Palo Verde, zona leste de Caracas. As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para dispersar as manifestações. Testemunhas afirmaram que homens armados percorreram as ruas em motos e provocaram pânico.

Foi mais uma noite de violência em Caracas, depois da batalha campal de quinta-feira no bairro popular de El Valle, com tiroteios, saques e confrontos entre manifestantes e as forças de segurança.

As manifestações se intensificaram após o TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) ter suspendido as prerrogativas do Parlamento e assumido para si as tarefas legislativas, medida que foi chamada de "golpe de Estado" pela oposição. Pressionado, o TSJ, fiel a Maduro, reverteu a decisão, mas os protestos não arrefeceram. 

Acusações

Governo e oposição trocaram acusações sobre a violência, que desde o início das manifestações de rua em 1º de abril para exigir eleições gerais deixaram 20 mortos, além de centenas de detidos e feridos.

A oposição anunciou a intenção de manter a pressão nas ruas e convocou para segunda-feira uma "obstrução nacional", um bloqueio das principais avenidas de Caracas, em meio aos temores de que a violência continue no país.

"O país não tem um só osso saudável. As pessoas vão continuar protestando. O desafio da oposição será fazer entender que não existe apenas um método de protesto, porque provavelmente as marchas devem se desgastar", disse à AFP o sociólogo e professor universitário Francisco Coello.

De acordo com pesquisas, sete em cada 10 venezuelanos reprovam o governo, asfixiados por uma severa escassez de alimentos e remédios, além de um inflação que segundo o FMI deve alcançar 720,5% este ano, a maior do mundo.

Maduro, cujo mandato vai até 2019, afirma que a "direita extremista venezuelana" busca derrubá-lo com o apoio dos Estados Unidos, mas a oposição insiste que deseja retirá-lo do poder pela via eleitoral.

As eleições para governadores deveriam acontecer em 2016, mas foram suspensas e ainda não têm data. As eleições municipais estão programadas para este ano e as presidenciais para dezembro de 2018.

Apesar de Maduro afirmar que está ansioso para disputar eleições, ele descartou antecipar as presidenciais e pede aos adversários um diálogo e o abandono do que chama de "agenda golpista".

(Com AFP e Ansa)