Com polêmicas e pouco conteúdo, partido anti-imigração ganha importância na eleição alemã
Frases polêmicas e quebras de tabu marcaram a campanha eleitoral do partido populista de direita AfD (Alternativa para a Alemanha). Apesar de pesquisas de intenção de voto indicarem a liderança do partido de Angela Merkel, a CDU (União Democrata Cristã), na eleição legislativa alemã do próximo domingo (24), a legenda populista deve sair como grande vencedora da disputa.
Pela primeira vez desde sua fundação em 2013, a AfD, partido anti-imigração, deve conquistar votos suficientes para garantir assentos no Parlamento alemão e, se as pesquisas se confirmarem, a legenda ficará ainda à frente de partidos mais tradicionais como os Verdes e A Esquerda.
Desde o início da campanha eleitoral, os candidatos da AfD têm seguido à risca uma estratégia midiática aprovada no final do ano passado, que veio a público em janeiro. No documento, a legenda deixa claro que declarações polêmicas e politicamente incorretas são essenciais para atrair a atenção da imprensa e conquistar a simpatia de eleitores.
"A AfD vive bem com sua fama de quebrar tabus e de partido de protesto. Não precisa se envergonhar com isso", destacou a legenda em sua estratégia eleitoral.
Nesta missão, o mestre em conquistar manchetes tem sido o principal candidato populista, Alexander Gauland. Na mais recente polêmica, o dissidente do partido de Merkel afirmou que a Alemanha deveria sentir orgulho dos soldados nazistas, assim com a França se orgulha de seus imperadores e o Reino Unido, de Winston Churchill.
Frases chocantes têm presença garantida nos discursos de Gauland. Em outro episódio, em meados de agosto, o candidato gerou polêmica ao declarar, durante um comício, que a comissária de integração do governo da Alemanha, Aydan Özoguz, que tem descendência turca, poderia ser "descartada".
A temática do partido foca no fortalecimento do nacionalismo. Entre suas principais pautas estão o controle rigoroso das fronteiras alemãs, a deportação imediata de imigrantes que tiveram asilo negado e a proibição da burca, além de rejeitar o Islã como parte da sociedade alemã.
Ao lado de Gauland, encabeçando a chapa do partido, está Alice Weidel, que segue a mesma linha estratégica. Seu ponto alto na campanha foi abandonar um debate televisivo ao vivo com candidatos de outros partidos, alegando estar sendo discriminada. Poucos minutos depois da retirada, acusou nas redes sociais a âncora do programa de falta de profissionalismo ao supostamente demonstrar sua preferência por candidatos adversários.
A rapidez da publicação sobre o abandono do debate gerou a suspeita de que ação não passaria de mais uma manobra programada para atrair manchetes de jornais. A suposta revolta de Weidel dominou as conversas no dia seguinte e pouco foi falado sobre conteúdo debatido entre os candidatos.
Sucesso polêmico
Na avaliação de especialistas ouvidos pelo UOL, a estratégia midiática do partido mostra-se eficiente. O resultado pode ser percebido nas pesquisas. As mais recentes mostram que a legenda com entre 10% e 12% das intenções de voto.
Com essa porcentagem, o partido seria o terceiro mais bem colocado na eleição, ficando atrás apenas da CDU e do Partido Social Democrata (SPD), que atualmente faz parte da coalizão governamental.
Dependendo da ação, a AfD recebe a atenção da mídia durante dias e, desta maneira, aumenta seu nível de notoriedade."
Bernd Schlipphak, cientista político da Universidade de Münster
Segundo o cientista político Thomas Gschwend, da Universidade de Mannheim, ao conseguir destaque com mensagens compactas que não oferecem argumentos racionais, mas focam em emoções, o partido influencia pessoas que ainda não sabem em quem votar e aquelas que não estão dispostas a investir tempo para se informar sobre as propostas de cada legenda.
Schlipphak acrescenta que outro efeito deste fenômeno seria o crescimento no número de simpatizantes do partido entre os críticos da posição politicamente correta da imprensa, que acreditam que ela levaria outros partidos a silenciarem sobre determinados temas.
"A indignação da mídia sobre a AfD pode também fortalecer a simpatia pela legenda em alguns círculos da população", ressalta.
Para Joachim Trebbe, professor no Instituto de Comunicação Social e Jornalismo da Universidade Livre de Berlim, com essa estratégia, o partido consegue mobilizar também parte da população que provavelmente não votaria. "Principalmente grupos insatisfeitos, que se percebem com pouca representação, se sentem atraídos por esse tipo de tematização", ressalta.
Disputas internas e vitória dos populistas
O voto de protesto impulsionou a legenda desde seu início. Fundado em abril de 2013, poucos meses antes da eleição legislativa daquele ano, o partido formado por eurocéticos, que se posicionavam contra a moeda comum europeia, conquistou em sua primeira disputa 4,7% dos votos. Com resultado, acabou ficando de fora do parlamento ao não alcançar a cláusula de barreira de 5%.
Desde então, o partido sofreu um processo de radicalização e vive uma ascensão meteórica, conquistando mandatos no Parlamento europeu e nos legislativos de 12 dos 16 estados da Alemanha.
Em sua curta existência, sua história foi marcada pela disputa pela liderança da legenda em 2015, que acabaria resultando na saída de um dos principais fundadores e mais conhecido nome do partido até então Bernd Lucke. A eleição de Frauke Petry para a presidência da AfD trouxe à tona a guinada do partido à direita.
Com a nova presidência, houve uma mudança na temática da legenda, que se uniu em torno do medo da suposta islamização da Alemanha. No auge da crise migratória, Petry ganhou destaque ao se posicionar contra imigrantes e muçulmanos.
Apesar de sua visão polêmica, em abril de 2017, Petry sofreu derrota semelhante à de Lucke. Sua proposta para afastar a legenda da extrema-direita e deixar de lado a estratégia oposicionista sem conteúdo foi rejeitada na convenção anual.
Além de insatisfeitos com a política atual ou votos de protesto, a AfD atrai também antigos eleitores da CDU, cujo partido sob a liderança de Merkel assumiu uma posição mais central e menos conservadora nos últimos anos.
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