78% dos brasileiros dizem sentir aumento da corrupção, diz Transparência Internacional
Um relatório divulgado pela ONG Transparência Internacional nesta segunda-feira (9) afirma que, para 78% dos brasileiros, o nível de corrupção aumentou no Brasil. A pesquisa foi realizada entre maio e junho de 2016 com perguntas sobre os 12 meses anteriores.
O levantamento foi realizado em 20 países da América Latina e do Caribe com mais de 22 mil pessoas e conclui ainda que os governos da região estão falhando em atender às demandas da população no combate à corrupção, apesar dos protestos registrados em alguns países.
No Brasil, o período em que os questionamentos foram feitos à população coincidiu com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Ficaram assim as avaliações para a pergunta "Na sua opinião, no decorrer do ano anterior, o nível de corrupção no país aumentou, diminuiu ou ficou o mesmo?":
- Cresceu muito - 64%
- Aumentou consideravelmente - 14%
- Ficou o mesmo - 14%
- Reduziu consideravelmente - 4%
- Reduziu muito - 2%
- Não sei - 2%
Somando os índices negativos, 78% afirmaram que o nível de corrupção "aumentou consideravelmente" ou "cresceu muito", na avaliação da ONG com sede em Berlim, cujo trabalho é voltado ao combate da corrupção.
No Brasil, 1.204 pessoas foram entrevistadas no período entre 21 de maio de 2016 e 10 de junho de 2016 --dias após o afastamento de Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República no processo de impeachment. "A coincidência do período de entrevistas com o momento de fortes turbulências na política nacional e mobilização popular nas ruas pode, sim, ter influenciado nas respostas dos brasileiros", diz Bruno Brandão, representante no Brasil da ONG Transparência Internacional.
Em 17 dos 20 países pesquisados, a maioria dos cidadãos afirmou que a corrupção aumentou. O Brasil aparece na quarta posição entre 20 nações da América Latina e do Caribe. A Venezuela, afundada em uma crise econômica e política, lidera a lista (87%), seguida de Chile (80%) e Peru (79%). O país com o menor percentual é a Argentina (41%) --a pesquisa foi feita meses após a posse do presidente Mauricio Macri, que substituiu a ex-presidente Cristina Kirchner durante o período de sondagem da ONG aos argentinos.
A pesquisa pediu ainda uma avaliação de como os governos combatem a corrupção. No Brasil, 56% afirmam que o governo atua de forma inadequada contra a corrupção:
- Muito mal - 19%
- Bastante mal - 37%
- Razoavelmente bem - 31%
- Muito bem - 4%
- Não sei responder - 9%
Como parte dos esforços, os governos deveriam envolver a sociedade civil na luta contra a corrupção. Isto aumentaria sua credibilidade
Transparência Internacional
Para 52% dos brasileiros entrevistados, a presidente e seu gabinete estavam envolvidos em casos de corrupção --lembrando que o período avaliado pela pesquisa corresponde ao governo da ex-presidente Dilma e que a pesquisa foi conduzida durante o processo de impeachment. Outros 36% disseram que a presidente e seu governo teriam nenhum ou alguns integrantes envolvidos em corrupção --12% não souberam responder.
O relatório da Transparência Internacional ainda cita rapidamente a Operação Lava Jato, reforçando que um dos desdobramentos das investigações são as acusações contra o presidente Michel Temer (PMDB), cujo governo não é avaliado no período das perguntas para os entrevistados.
Temer já foi denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República. No primeiro caso (corrupção passiva), a Câmara arquivou as investigações. A segunda denúncia (obstrução de Justiça e organização criminosa) ainda será analisada pelos deputados. O presidente nega ter cometido crimes.
Oito em cada dez brasileiros (83%) que participaram do estudo acreditam que cidadãos comuns podem fazer a diferença contra a corrupção --é a maior taxa da América Latina e Caribe. Para 74%, denunciar casos de corrupção é algo socialmente aceito.
Polícia e políticos são os mais corruptos na AL e Caribe
O relatório traz ainda respostas dos entrevistados na América Latina e Caribe sobre o quanto instituições e grupos da sociedade são corruptos. A polícia e políticos (como integrantes do Parlamento ou senadores) foram avaliados, na média, como os mais corruptos.
“Duas instituições-chave que têm papel vital em uma boa governança foram percebidas pelos cidadãos como as mais corruptas – a polícia e os representantes eleitos”, afirma a ONG. “Quase metade dos respondentes disse que a maioria ou toda a polícia e a maioria ou todos os políticos são corruptos (47%), o que foi mais alto do que qualquer outra instituição sobre as quais questionamos.”
De acordo com o relatório, moradores da Venezuela foram os mais prováveis a responder afirmativamente (73%) sobre corrupção na polícia. Cidadãos de Trinidad e Tobago, Bolívia, México e Paraguai também perceberam alto nível de corrupção na polícia (de 61% a 64%). Em contraste, menos de uma pessoa a cada cinco no Uruguai respondeu que policiais eram altamente corruptos (19%).
Sobre políticos eleitos, moradores do Paraguai foram os que se pronunciaram mais afirmativamente sobre corrupção (69%), seguidos por Peru e Chile (64% e 62%, respectivamente). No Uruguai, apenas uma em cada cinco pessoas disse que seus representantes eleitos eram altamente corruptos (20%).
Regionalmente, oficiais locais do governo, oficiais dos gabinetes dos presidentes ou primeiros-ministros, e juízes ou magistrados foram também apontados como altamente corruptos. Entre 40% e 45% das pessoas na América Latina disseram que estes grupos eram corruptos em sua maioria ou inteiramente.
Líderes religiosos, por outro lado, foram avaliados como os menos corruptos, embora 25% das pessoas entrevistadas tenham afirmado que as lideranças de igrejas são altamente corruptas.
Índice brasileiro para a polícia está entre os menores
O Brasil tem um dos índices mais baixos sobre corrupção na polícia, a partir de afirmações para a seguinte pergunta:
“Quantas das pessoas nessa instituição você acha que estão envolvidas em corrupção, ou não ouviu o suficiente sobre ela para dizer?”
Respostas:
- Nenhuma – 5%
- Algumas – 55%
- A maioria – 23%
- Todas – 8%
- Não sei/não ouvi falar – 9%
Unindo os números, o país ficou assim: 60% afirmaram que “nenhum” ou “alguns” integrantes são corruptos; e 31% disseram que “a maioria” ou “todos” são corruptos na polícia.
Suborno e denúncias
Ao analisar os casos de suborno, o relatório estima que 90 milhões de pessoas nos 20 países avaliados tenham pago algum tipo de propina no último ano a algum tipo de serviço público –um terço da população somada dos 20 países na América Latina e Caribe.
O México lidera com 51% dos entrevistados relatando o pagamento de algum tipo de suborno; no Brasil, o número é de 11%.
A Transparência Internacional afirma ainda que menos de um em cada dez casos de suborno é reportado às autoridades pelos pagantes de propina. Entre os que levaram a denúncia adiante, 28% afirmaram que sofreram retaliações.
Para muitas vítimas de suborno, os benefícios de fazer com que funcionários corruptos expliquem suas ações criminosas não superam os riscos
Transparência Internacional
“É por isso que estamos pedindo aos governos da região que reduzam a corrupção na força policial e fortaleçam os sistemas judiciais, assim as investigações poderão ser conduzidas de acordo com os mais altos padrões, os juízes são independentes e profissionais, e o sistema de tribunais terá recursos adequados para lidar com as queixas de corrupção", recomenda o relatório.
"As leis de proteção a denunciantes devem ser rigorosamente aplicadas, e mecanismos seguros para efetuar as denúncias precisam ser criados para que as pessoas não se coloquem em risco. Somente desta forma os cidadãos terão a confiança para denunciar um incidente de corrupção, sabendo que o perpetrador enfrentará a justiça”, afirma a Transparência Internacional.
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