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Com fim de califado, volta de combatentes do EI vira problema para seus países

Turco suspeito de integrar o EI é acompanhado por soldados curdos em Kobani, Síria - Hussein Malla/AP
Turco suspeito de integrar o EI é acompanhado por soldados curdos em Kobani, Síria Imagem: Hussein Malla/AP

Do UOL, em São Paulo

09/11/2017 19h46

Pelo menos 5.600 homens, mulheres e crianças de 33 países que viajaram para viver no califado autoproclamado pelo Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, voltaram para casa. O levantamento, feito pela ONG Soufan Center, que analisa questões de segurança global, destaca ainda que o problema agora é como lidar com os ex-combatentes do EI e suas famílias em seus países de origem.

O relatório diz que a volta dos combatentes não aumentou significativamente a ameaça de terrorismo em todo o mundo, mas ressalva que as lideranças do EI provavelmente estão buscando simpatizantes no exterior "para manter a marca viva". "Todos os repatriados, independentemente da razão para voltar para casa, continuarão a representar algum grau de risco", diz o estudo.

Segundo o estudo, os países ainda não encontraram um meio de enfrentar o problema dos repatriados. A maioria dos que voltaram está presa ou os governos não sabem seu paradeiro dentro do país.

"É um grande problema", disse Richard Barrett, consultor do Soufan Center e autor do relatório. De acordo com ele, é muito difícil identificar quem são estas pessoas, rastreá-las e fazer algo a respeito.

Comunidade vulnerável ao extremismo

"Se ao retornarem, eles voltarem a se sentir sem raízes e sem um propósito como antes de sair do país, é improvável que se ajustem facilmente a uma vida normal e, à medida que o EI aumenta sua campanha externa, ambos através de ações e de propaganda, os repatriados podem ser particularmente vulneráveis ao contato de pessoas que faziam parte da rede que os recrutou", diz o estudo.

O relatório identificou cinco categorias de repatriados: quem nunca conseguiu se integrar ao EI; que chegaram a viver no califado, mas não concordou com tudo o que o EI fazia; os que nunca questionaram as táticas do EI e sua estratégia, mas decidiram seguir em frente; os que eram comprometidos com o EI, mas foram forçados a abandonar a área por outras circunstâncias; e os que foram enviados pelo próprio EI para seus países ou outras regiões do mundo para defender o califado.

O grupo mais frágil dos repatriados é o de mulheres e crianças que integravam o EI --algumas destas crianças nasceram no califado. O relatório pede que os países criem mecanismos e sistemas adequados para apoio de saúde mental e social principalmente para os menores, que provavelmente sabem usar armas e matar.

"Uma das coisas mais difíceis é reabilitar crianças que foram recrutadas por grupos extremistas violentos", disse Barrett, que as considera incrivelmente comprometidas e leais aos grupos extremistas.

"Você não pode apenas colocá-los em um centro de detenção infantil, é preciso tratá-los. Alguns serão ajudados facilmente e seguirão a próxima 'figura materna' que virá, mas outros serão imprevisíveis, para dizer o mínimo ".

Califado chegou a ter 40 mil estrangeiros

Mais de 40 mil estrangeiros de mais de 110 países viajaram para a Síria e o Iraque desde que o EI autoproclamou seu califado, em 2014. As informações recuperadas com a queda de cidades administrativas do califado, como Raqqa, ajudaram a identificar pelo menos 19 mil combatentes estrangeiros. Os dados, entretanto, não revelam o que aconteceu com todos eles.

Citando dados fornecidos por autoridades de 33 países, o Soufan Center chegou ao número de 5.600 combatentes estrangeiros do EI que teriam retornado. Isto inclui 400 dos 3.417 russos, 760 dos 3.244 sauditas, 250 dos 3.000 jordanianos, 800 dos 2.926 da Tunísia e 271 dos 1.910 franceses --os cinco países com mais combatentes no EI.

O Soufan Center observa que, mesmo que tenha perdido o controle do território do que considerava como o seu califado, a preocupação de que o EI se mantenha ativo a longo prazo, tanto como grupo quanto como inspiração, existe em grande parte por causa do sucesso no recrutamento de estrangeiros.

O grupo ainda hoje mantém aliados no Egito, na Líbia e no Afeganistão.

Entenda a origem do Estado Islâmico

AFP