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Como é comprar maconha vendida pelo governo do Uruguai?

Lucía Rodriguez mostra pacote de maconha comprada em farmácia de Montevidéu - Fabiana Maranhão/ UOL
Lucía Rodriguez mostra pacote de maconha comprada em farmácia de Montevidéu Imagem: Fabiana Maranhão/ UOL

Fabiana Maranhão

Colaboração para o UOL, de Montevidéu

01/12/2017 04h00

A universitária uruguaia Lucía Rodriguez, 26, comprou pela primeira vez a maconha vendida pelo governo do país. Ela precisou de cerca de 20 minutos para fazer o registro e, logo em seguida, ter acesso ao produto em uma farmácia.

Na tarde da última quinta-feira (23), a reportagem do UOL acompanhou a jovem até uma agência dos correios na área central de Montevidéu, onde ela fez seu cadastro para poder comprar maconha de forma legalizada.

A estudante apresentou sua carteira de identidade e um comprovante de residência. Uma funcionária conferiu os documentos e coletou suas impressões digitais. Em menos de dez minutos, Lucía deixava o local devidamente registrada.

Assim que saiu dos correios, ela foi a uma farmácia próxima para saber se já poderia adquirir a maconha. Lá, não precisou apresentar qualquer tipo de documento, mas só conseguiu comprar o produto depois que teve uma das digitais verificada. "É muito rápido e simples", disse.

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Desde de maio deste ano, quando teve início o cadastro de usuários, até meados de novembro, quase 16 mil pessoas se registraram para comprar maconha de forma legal no Uruguai.

Outras 7,6 mil pessoas conseguiram licença para cultivar até seis pés de maconha em casa. Para isso, também precisam ir aos correios com documento de identificação e comprovante de residência. Nos dois casos, é necessário ter mais de 18 anos, cidadania uruguaia natural ou legal ou residência permanente.

Uma terceira possibilidade oferecida pelo governo é fazer parte de um clube de membros, que são organizações civis que têm autorização para produzir e distribuir cannabis entre seus sócios. Existem cerca de 70 clubes licenciados atualmente no país.

Os dados são do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA, na sigla em espanhol). O órgão é responsável pelo controle da plantação, colheita, produção e distribuição da maconha no país, que foi regulada por meio de uma lei sancionada durante o governo do ex-presidente José Mujica em dezembro de 2013.

Preço da maconha

As pessoas cadastradas para adquirir a maconha nas farmácias autorizadas --são 12 estabelecimentos em todo o país, sendo cinco localizados na capital-- podem comprar no máximo dez gramas por semana e 40 gramas por mês. Um pacote com cinco gramas de maconha é vendido por 187,04 pesos uruguaios (cerca de R$ 20).

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Lucía Rodriguez faz a identificação digital para poder adquirir a maconha
Imagem: Fabiana Maranhão/ UOL

"É muito barato. O preço é impensável em comparação ao valor cobrado no mercado negro", afirma a comunicadora uruguaia Maria (nome fictício), 27, que prefere não divulgar seu nome verdadeiro.

Maria afirma que, apesar de barata, a maconha vendida pelo Estado tem uma concentração baixa de THC (tetra-hidrocarbinol), principal componente da planta e que é responsável pelos efeitos que provoca. "Isso faz com que se fume mais, mas o gosto é muito bom", disse. As farmácias oferecem duas variedades de cannabis: Alfa 1 (indica) e Beta 1 (sativa), ambas com 2% de THC.

Assim como o álcool, o consumo de maconha no Uruguai é permitido em espaços públicos, mas proibido para menores de 18 anos e também para quem esteja dirigindo. A lei veta ainda qualquer tipo de propaganda da maconha.

A legislação em vigor isenta de responsabilização qualquer pessoa que, mesmo sem autorização para comprar ou plantar, esteja de posse de maconha para uso pessoal, na quantidade de até 40 gramas.

Em caso de menores de 18 anos, a pena prevista é de quatro a 15 anos de prisão.

Maconha em falta

A maconha começou a ser comercializada legalmente no país em julho deste ano. Ao longo dos últimos quatro meses, foram vários os episódios de falta do produto nas farmácias, demonstrando um descompasso entre a procura e a capacidade do governo de fornecer a cannabis.

Entre outubro e novembro, as farmácias passaram mais de 30 dias sem maconha para vender. No começo deste mês, quando o fornecimento foi normalizado, o estoque da droga em alguns estabelecimentos se esgotou em um intervalo de poucas horas.

O governo atribui a falha na distribuição aos constantes testes que precisam ser feitos para que a maconha possa ser liberada para venda. “A esperada variabilidade do perfil químico dos cultivos obriga que sejam feitos testes de laboratório adicionais e mudanças nos registros no Ministério de Saúde Pública, condições necessárias para que o produto seja distribuído”, informa o IRCCA.

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