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Candidata, "Paris Hilton da Rússia" ajuda e se opõe a Putin ao mesmo tempo

A celebridade russa Ksenia Sobchak é candidata a presidente da Rússia e vai desafiar Vladimir Putin nas eleições presidenciais - Pavel Golovkin/ AP
A celebridade russa Ksenia Sobchak é candidata a presidente da Rússia e vai desafiar Vladimir Putin nas eleições presidenciais Imagem: Pavel Golovkin/ AP

Do UOL, em São Paulo

11/02/2018 04h00

"Eu sou a única pessoa conhecida por todos os russos como o [Vladimir] Putin. Não há outra pessoa no país mais famosa que eu". É assim que a estrela de televisão e agora candidata à presidência da Rússia Ksenia Sobchak se descreveu em uma entrevista para a agência de notícias AP.

A apresentadora, apelidada de "Paris Hilton da Rússia", aposta no que chama de "efeito Trump" para ganhar as eleições de 18 de março no país.

"Muitas pessoas votariam em mim, estou certa, porque tenho trabalhado nessa indústria por mais de 15 anos e entendo como as regras de marketing funcionam", disse a socialite, que ficou famosa após participar como conselheira amorosa do reality show Dom 2 — a versão russa do Big Brother.

Dias depois, nos EUA, diante de um auditório lotado na Universidade Columbia, em Nova York, já não parecia tão confiante. "O resultado não é importante para mim. Não podemos controlar o processo, mas podemos mostrar que podemos mudar algo", ela disse. "Quero a oportunidade de pelo menos dizer as coisas na TV quando eles são obrigados a me dar espaço."

Sua vida política só começou durante as manifestações contra Putin em 2011 e 2012. Desde então, ela passou a ter um papel de destaque na oposição e começou a apresentar um talk show político em um canal independente russo. Hoje, tem cerca de 5,4 milhões de seguidores no Instagram.

Seu slogan de campanha tem sido "Sobchak contra todos", movido pelo que ela afirma ser um cansaço dos mesmos candidatos concorrendo contra Putin ano após ano. As suas chances de vitória, contudo, são bem baixas, já que Putin conta com uma taxa de aprovação de mais de 80% e tem a cobertura em tempo integral da televisão estatal russa.

Sobchak entende seu lugar na disputa, mas não tem medo de criticar abertamente o governo de Putin. Ela alega que decidiu concorrer para pressionar o governo por mais liberdade política e econômica, além de querer alertar a sociedade sobre os altos níveis de corrupção e problemas sociais enfrentados pela Rússia.

"O que eu faço é bom para a oposição russa", disse à AP. "Eu falo livremente sobre assuntos e temas que há anos não têm sido discutidos publicamente aqui. Acredito que isso, na verdade, é a melhor coisa que pode ser feita durante essas eleições".

Na entrevista, também comentou temas polêmicos para o Kremlin, como as suspeitas de que hackers russos trabalharam junto ao governo para interferir nas eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2016. "Acho que os hackers russos tinham uma relação com o governo. Não descarto esse tipo de envolvimento", afirma a candidata.

Polêmica com o Kremlin

Após o anúncio de sua candidatura, Sobchak teve que lidar com os boatos de que estava concorrendo a pedido do Kremlin, para legitimar as eleições diante da opinião pública.

29.nov.2003 - Presidente da Rússia Vladimir Putin, esquerda, conversa com Ksenia Sobchak, filha do antigo prefeito de São Petersburgo Anatoly Sobchak, no cemitério da cidade russa - Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP - Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP
29.nov.2003 - Presidente da Rússia Vladimir Putin, esquerda, conversa com Ksenia Sobchak, filha do antigo prefeito de São Petersburgo, no cemitério da cidade
Imagem: Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

A história ganhou força porque a apresentadora é filha de Anatoly Sobchak --  o primeiro prefeito eleito de São Petersburgo -- e de Lyudmila Narusova, dois respeitados políticos liberais do país. Ironicamente, seu pai foi mentor pessoal de Putin e o ajudou a entrar na política nacional.

Logo após se tornar candidata, Sobchak admitiu que contou pessoalmente a Putin sobre suas intenções de concorrer à presidência, mas negou que estava seguindo ordens políticas do Kremlin.

Sobchak é a única mulher a disputar a presidência russa na eleição de 2018. Na história recente do país, apenas duas eleições tiveram candidatas mulheres. A primeira, em 2000, quando Ella Pamfilova, atual presidente da Comissão Eleitoral do país, recebeu 1,01% dos votos; e em 2004, quando a dirigente liberal Irina Jakamada somou 3,84% dos votos.

1994 - Anatoly Sobchak, pai de Ksenia Sobchak, ao lado de Vladimir Putin - AP Photo/Dmitry Lovetsky - AP Photo/Dmitry Lovetsky
1994 - Anatoly Sobchak, pai de Ksenia Sobchak, ao lado de Vladimir Putin
Imagem: AP Photo/Dmitry Lovetsky

Para o governo, a candidatura de Sobchak é positiva. Além de popularizar as eleições e tornar a provável vitória de Putin mais impressionante, a apresentadora de TV pode ajudar a dividir a oposição russa, roubando para si alguns seguidores do popular Alexei Navalny.

Navalny, líder popular da oposição, foi impedido de concorrer por uma condenação criminal — considera por muitos uma manobra política do Kremlin. Desde então, ele tem pregado um boicote às eleições e tem desafiado as autoridades com protestos não autorizados.

Sobchak, por sua vez, acredita que a estratégia do colega não vai ser bem sucedida. "Ele é um grande herói, mas escolheu um caminho em que ele vai ser preso ou marginalizado", disse.

A apresentadora segue uma postura mais branda e diz não desejar uma revolução em seu país. "O único jeito de mudar a Rússia sem derramar sangue é com uma evolução".

Pesquisa eleitoral

Em pesquisa recente, divulgada na última quinta-feira (8) pelo Centro de Estudos da Opinião Pública, órgão estatal russo, Vladimir Putin lidera com 71,4% das intenções de votos.

Na sequência, aparece o candidato do Partido Comunista da Rússia, Pavel Grudinin, com 6,9%, o líder do ultranacionalista Partido Liberal Democrático da Rússia, Vladimir Zhirinovski, com 5,7% e a jornalista Ksenia Sobchak, com 1,3%. Os outros quatro candidatos não registram nem 1% das intenções de voto. (Com informações da AP e da EFE)