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Hackers russos se aproveitaram de ataque na Flórida para acirrar debate sobre armas nos EUA

Jovens fazem protesto na Casa Branca para pedir o controle na venda de armas  - Evan Vucci/AP
Jovens fazem protesto na Casa Branca para pedir o controle na venda de armas Imagem: Evan Vucci/AP

Do UOL, em São Paulo

20/02/2018 12h29

Uma hora depois de a imprensa noticiar o ataque de um ex-aluno de 19 anos contra uma escola na Flórida, onde 17 pessoas morreram, contas no Twitter suspeitas de terem ligação com a Rússia começaram a publicar centenas de mensagens sobre o debate do controle da venda de armas nos EUA. O objetivo destes robôs era um só: ampliar a divisão entre os americanos sobre o controle de venda de armas.

Algumas postagens usavam a hashtag #guncontrolnow (controle de armas agora), outras usavam a #gunreformnow (reforma sobre armas agora) e #Parklandshooting (ataque a tiros em Parkland), em referência à cidade onde ocorreu o ataque. Antes de Nikolas Cruz abrir fogo na instituição, as contas tuitavam comentários sobre a investigação liderada pelo procurador especial Robert Muller, que apura a influência da Rússia nas eleições de 2016.

Quando os robôs russos passaram a usar a hashtag #Parklandshooting –criada inicialmente para divulgar as notícias sobre o ataque—eles rapidamente alimentaram as tensões sobre o tema. Exploraram a questão da doença mental no debate sobre o controle de armas, sugeriram que Nikolas Cruz seria um “lobo solitário” com distúrbios mentais e espalharam um boato de que ele teria procurado frases árabes no Google antes de abrir fogo na escola. Simultaneamente, eles começaram a usar hashtags como #ar15, em referência ao rifle semiautomático usado no ataque, e #NRA, sigla da Associação Nacional de Rifles, forte opositora do controle de armas nos EUA.

“Isto é bem típico deles, de se aproveitar de notícias como esta”, afirmou Jonathon Morgan, chefe da New Knowledge, empresa que rastreia campanhas virtuais de desinformação. “Os robôs foca em qualquer tema que possa causar discórdia entre os americanos. Isto acontece quase de forma sistemática”, disse.

A questão das armas é um dos temas mais polêmicos nos EUA, já que os defensores da Segunda Emenda são contra os que propões o controle da venda de armas. Com as postagens, o debate torna-se ainda mais acirrado. Qualquer notícia, não importa o quão trágica, tornou-se uma oportunidade de espalhar mensagens inflamatórias de uma suposta ação russa de desinformação. As ações ocorrem de várias formas: vídeos de conspiração no ?YouTube, falsos grupos de interesse no Facebook e exércitos de contas automatizadas que podem direcionar e manipular uma discussão no Twitter.

Um exemplo destas ações orquestradas e automatizadas no Twitter foi a popularização da hashtag #releasethememo (publiquem o memorando), em referência a um documento republicano que acusava o FBI e o Departamento de Justiça de abusar de sua autoridade para obter autorizações para espionar pessoas ligadas ao presidente Donald Trump. O debate sobre o memorando ampliou a crise entre a Casa Branca e os órgãos que investigam o caso.

Os robôs “vão encontrar qualquer questão controversa e, em vez de criar uma oportunidade para diálogo e negociação, vão tentar transformá-la em algo insolúvel e repleta de frustração”, disse Karen North, professora de mídias sociais da Universidade Southern California’s Annenberg School for Communication and Journalism. “Isto só aumenta a frustração e a raiva”.

A ação russa no Twitter durante o ataque em Parkland é um exemplo de como agentes russos ainda estão ativos.

“Tivemos mais de um ano para trabalhar em conjunto contra a ameaça representada pela Rússia e implementar estratégias para conter futuros ataques, mas acredito que, infelizmente, ainda não temos um plano abrangente”, disse o senador democrata Mark Warner, vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado, durante uma audiência neste mês sobre as ameaças globais aos Estados Unidos. (NYT)