ONU critica uso de força por Israel: "Parece que qualquer um pode ser morto a tiros"
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos criticou Israel pelo uso indiscriminado da força contra os manifestantes palestinos. Na segunda-feira (14), 60 palestinos morreram em confrontos contra as forças israelenses em Gaza.
"Parece que qualquer um pode ser morto a tiros", afirmou em Genebra o porta-voz do Alto Comissariado, Rupert Colville, antes de destacar que o direito internacional prevê claramente que "a força letal só pode ser usada como medida de último, não de primeiro, recurso".
Colville destacou a sensação de que qualquer palestino em Gaza corre o risco de ser morto a tiros pelas forças israelenses, independente se representa ou não uma ameaça iminente.
"Não é aceitável dizer que 'se trata do Hamas e portanto está correto", completou, ao rebater a justificativa apresentada por Israel de que o movimento islamita que controla Gaza é o responsável pela manifestação e que, portanto, Israel teria apenas defendido seu território.
A segunda-feira foi o dia mais sangrento das seis semanas de manifestações da chamada "Grande Marcha de Retorno", que pede o acesso de palestinos a terras que eram suas antes de 1948, atualmente em território israelense. Os moradores de Gaza protestaram diante da cerca de segurança que separa o território de Israel. Soldados israelenses usaram balas letais, de borracha e drones espalhando gás lacrimogêneo, enquanto os palestinos lançavam pedras e as pipas com cargas explosivas.
Nesta terça, o ministro de Segurança Pública de Israel, Gilad Erdan, disse que os assassinatos de líderes do Hamas, uma prática das forças israelenses durante a Segunda Intifada (2000-2005), são parte da solução para a situação atual na Faixa de Gaza, segundo o jornal israelense "Yedioth Ahronoth".
Oito crianças e um amputado
Entre as quase 60 pessoas mortas na segunda-feira, principalmente por atiradores de elite israelenses, estavam sete crianças e um homem que teve as duas pernas amputadas, recordou.
"Que ameaça pode representar um homem biamputado do outro lado de uma cerca ampla e fortificada?", questionou.
De acordo com o Ministério da Saúde da Palestina, um bebê palestino morreu intoxicado após inalar gás lacrimogêneo lançado para reprimir manifestantes palestinos na fronteira com a Faixa de Gaza.
Os tiros também deixaram 2.400 feridos, no dia mais violento do conflito israelense-palestino desde a guerra de 2014.
O Alto Comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, declarou que "aqueles responsáveis por violações flagrantes dos direitos humanos deverão prestar contas".
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, convocou três dias de luto oficial e uma greve geral em resposta à violência.
Mais protestos
Nesta terça-feira, palestinos se manifestam na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada em dia de greve geral para lembrar a Nakba (Catástrofe), que para eles representa o nascimento de Israel há 70 anos, e de luto pelos 60 mortos ontem em Gaza.
Hoje acontece em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, com grande adesão, uma greve geral, que também foi convocada nas cidades israelenses de maioria árabe.
(Com agências internacionais)
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