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Trump cancela encontro com Coreia do Norte em 12 de junho

Susan Walsh/AP
Imagem: Susan Walsh/AP

Do UOL, em São Paulo

24/05/2018 10h53Atualizada em 24/05/2018 16h17

O presidente norte-americano, Donald Trump, cancelou o encontro com o norte-coreano Kim Jong-un agendado para 12 de junho. O anúncio foi feito em uma carta divulgada pela Casa Branca nesta quinta (24).

Na mensagem, Trump faz ameaças ao ditador norte-coreano, citando a capacidade nuclear dos EUA. Mas também agradece pela libertação de três presos americanos.

"Infelizmente, baseado na hostilidade e na raiva expressadas em seu comunicado mais recente, sinto que é inapropriado, neste momento, realizar essa reunião", disse o americano na carta. "Você fala sobre suas capacidades nucleares, mas a nossa é tão massiva e poderosa que rezo a Deus para que ela nunca precise ser usada."

Minutos depois, no Twitter, Trump publicou a carta e disse ter sido "forçado" a cancelar a cúpula com Kim.

Mais tarde, em pronunciamento à imprensa, Trump disse ter conversado com o secretário da Defesa, Jim Mattis, e a alta cúpula militar norte-americana e afirmou que as Forças Armadas estão “prontas caso necessário”.

“Falei também com o Japão e a Coreia do Sul e eles estão prontos se a Coreia do Norte tomar atitudes tolas e hostis”, disse Trump. “Espero que aconteçam coisas positivas em respeito ao futuro da Coreia do Norte. Mas se não acontecerem, estamos mais prontos do que jamais estivemos.”

O presidente norte-americano também disse que os norte-coreanos têm oportunidade de acabar com décadas de “pobreza e opressão se seguirem o caminho da desnuclearização”.“Espero que Kim Jong-un, no fim, faça o que é certo. Não só para ele mesmo, mas talvez, e mais importante, faça o que é melhor para sua população sofrida.”

“Se Kim Jong-un escolher o diálogo e ações construtivas, estou esperando. Nesse meio tempo, nossas fortes sanções, as maiores já impostas, continuarão. Mas não importa o que aconteça, nunca comprometeremos a segurança dos Estados Unidos.”

No fim, Trump voltou a levantar a possibilidade de que a cúpula ocorra em uma "data futura". "Ninguém deve ficar ansioso [pela reunião], porque devemos fazer isso direito."

O encontro estava marcado para acontecer em Singapura, mas vinha sendo posto em xeque desde que o governo norte-coreano fez críticas aos EUA, relacionadas à exigência de Washington de que Pyongyang abandone unilateralmente seu arsenal nuclear. Pyongyang recusa as exigências norte-americanas para que abdique unilateralmente de seu arsenal de bombas nucleares e mísseis balísticos.

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Mais cedo, a Coreia do Norte criticou o alerta do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, de que o país pode acabar como a Líbia se não alcançar um acordo com Washington. Pyongyang classificou os comentários de Pence como "idiotas e estúpidos" e ameaçou, mais uma vez, cancelar a cúpula agendada para 12 de junho em Singapura.

Em um comunicado divulgado pela agência estatal de notícias KCNA, a vice-ministra das Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son-hui, disse não conseguir esconder sua surpresa "com comentários tão idiotas e estúpidos vindo da boca do vice-presidente dos EUA".

A comparação com a Líbia não caiu bem em Pyongyang: menos de dez anos após o país encerrar suas atividades nucleares, o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado e morto de forma brutal, em 2011, depois de uma intervenção militar que incluiu os EUA.

O anúncio de Trump acontece no mesmo dia em que imagens da explosão da central nuclear norte-coreana foram divulgadas. Um grupo pequeno de jornalistas estrangeiros selecionados pela Coreia do Norte esteve presente para testemunhar a demolição, que Pyongyang diz ser prova de seu compromisso de encerrar os testes nucleares.

24.mai.2018 - Televisão sul-coreana mostra imagem da central nuclear de Punggye-ri após a Coreia do Norte anunciar que demoliu o local com explosões - Ahn Young-joon/AP Photo - Ahn Young-joon/AP Photo
24.mai.2018 - Televisão sul-coreana mostra imagem da central nuclear de Punggye-ri após a Coreia do Norte anunciar que demoliu o local com explosões
Imagem: Ahn Young-joon/AP Photo

Após a publicação da carta de Trump, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que já esteve duas vezes na Coreia do Norte em negociações com o regime de Kim, disse não haver condições para realizar uma "cúpula bem-sucedida", e a delegação dos EUA não teria recebido resposta da Coreia do Norte para realizar reuniões preparatórias para o encontro.

Veja a íntegra da carta

"Sua Excelência
Kim Jong-un
Presidente da Comissão de Interesses de Estado da República Democrática da Coreia

Pyongyang

Caro Sr. Presidente:

Apreciamos muito seu tempo, paciência e esforço em respeito a nossas recentes negociações e discussões relativas à cúpula há tanto tempo buscada pelos dois lados, que estava agendada para 12 de junho em Singapura.

Fomos informados de que o encontro foi requisitado pela Coreia do Norte, mas isso para nós é completamente irrelevante. Eu estava na expectativa de encontrá-lo. Infelizmente, baseado na enorme raiva e na hostilidade aberta expressadas em seu comunicado mais recente, sinto que é inapropriado, neste momento, realizar essa reunião há tanto tempo planejada. Dessa maneira, essa carta atesta que a cúpula de Singapura, pelo bem dos dois lados, mas em detrimento do mundo, não acontecerá. Você fala sobre suas capacidades nucleares, mas a nossa é tão massiva e poderosa que rezo a Deus para que ela nunca precise ser usada.

Eu achei que um diálogo maravilhoso estava sendo construído entre você e eu, e, no fim das contas, esse é o único diálogo que importa. Um dia, espero muito poder encontrá-lo. Nesse meio tempo, gostaria de agradecer por ter libertado os reféns que estão agora com suas famílias. Isso foi um gesto muito bonito e que foi muito apreciado.

Se você mudar de ideia, sobre o que está relacionado a essa importante cúpula, não hesite em me ligar e me escrever. O mundo, e a Coreia do Norte em particular, perdeu uma grande oportunidade de ter paz permanente e grande prosperidade e riqueza. Essa oportunidade perdida é realmente um momento triste na história.

Atenciosamente,
Donald J. Trump
Presidente dos Estados Unidos da América"