Protestos, saia justa, encontro com a rainha e mal-estar com Brexit: o dia de Trump na Inglaterra
A visita do presidente dos EUA, Donald Trump, ao Reino Unido nesta sexta-feira (13) foi marcada por protestos massivos em Londres, saia justa pelas declarações que fez em relação à premiê britânica Theresa May e encontro com a rainha Elizabeth II. O ponto central das críticas é o Brexit (a retirada do Reino Unido da União Europeia): o governo britânico atual tenta negociar os termos, e Trump defende um rompimento mais radical.
O mal-estar começou antes mesmo de Trump encontrar-se com May. Em entrevista ao tabloide britânico The Sun, Trump também criticou o prefeito de Londres pelos ataques terroristas ocorridos na cidade e argumentou que a Europa está "perdendo sua cultura" por causa da imigração.
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Ao lado de May, Trump afirmou que se desculpou com a premiê e disse que a reportagem publicada pelo jornal é uma "notícia falsa" (fake news), porque, segundo ele, não inclui os comentários favoráveis que também fez sobre a premiê. May tentou reforçar o lado positivo do encontro, afirmando que "não há dois países que, juntos, fazem tanto para manter seu povo seguro e próspero", sem dar qualquer sinal de raiva sobre a entrevista --apesar dos danos que a reportagem causou.
Com o "relacionamento especial" citado por Trump hoje colocado em dúvida por suas declarações ao jornal, o americano reafirmou que os laços entre os dois estão no "mais alto nível", acrescentando que "esta incrível mulher está fazendo um trabalho fantástico".
Toda a fala de Trump ao lado de May estava em desacordo com os pontos de vista expressados em seus comentários ao "The Sun", nos quais Trump criticou May por sua estratégia negociadora do Brexit --a saída do Reino Unido da União Europeia--, advertindo que os planos da premiê poderiam colocar em risco um acordo comercial muito esperado pelo governo britânico.
"Se aprovarem um acordo como esse, estaríamos tratando com a União Europeia no lugar de com o Reino Unido, e isso provavelmente pode matar o acordo" que Londres deseja alcançar com Washington. "Teria feito isto de maneira muito diferente. De fato disse a Theresa May como fazê-lo, mas ela não concordou, não me escutou. Tomou outro caminho", disse Trump para o jornal, para quem a proposta de May não respeita o que os britânicos decidiram no referendo sobre a UE de junho de 2016.
Nesta sexta, Theresa May fez questão de destacar que Trump e ela chegaram a um acordo de que, "quando o Reino Unido deixar a União Europeia, iremos atrás de um ambicioso pacto de livre comércio", afirmou May.
"O que quer que vocês façam está bom para nós, só garantam que poderemos fazer comércio juntos, isso é tudo que importa. Esta é uma oportunidade incrível para nossos dois países e a aproveitaremos plenamente", acrescentou Trump, contradizendo sua entrevista ao jornal.
A premiê britânica defende um acordo de livre comércio com os Estados Unidos e argumenta que o Brexit é uma "oportunidade" para fortalecer os laços transatlânticos e estimular o crescimento econômico tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos. Autoridades britânicas esperavam que a visita de Trump ajudasse nesse processo.
As declarações contraditórias de Trump podem minar estas esperanças. O plano de May pretende minimizar o impacto econômico do Brexit, que pode ser grave porque a União Europeia hoje é o maior parceiro comercial do Reino Unido. Mas Trump parece estar do lado dos críticos da estratégia de May para o Brexit, que argumentam que manter muitas das regras econômicas da União Europeia, como a premiê quer, inevitavelmente reduzirá as chances de um acordo comercial bilateral com os EUA.
Ao lado de May, Trump ainda insistiu --como afirmou na entrevista ao "The Sun"-- que o ex-ministro de Relações Exteriores do Reino Unido Boris Johnson, que renunciou nesta semana em desacordo com a estratégia governamental do Brexit, seria "um grande primeiro-ministro". A premiê sorria enquanto o líder americano apoiava Johnson.
"Johnson é muito agradável comigo. Disse coisas muito boas de mim como presidente", declarou Trump ao término de uma reunião com May. "Acredito que (Johnson) considera que estou fazendo um grande trabalho. E estou fazendo um grande trabalho, posso garantir, se não, já teriam se dado conta", disse Trump, que, em seguida, acrescentou: "Boris Johnson, eu acredito, seria um grande primeiro-ministro".
A parte oficial da visita de Trump ao Reino Unido, sua primeira como presidente, termina nesta sexta-feira com um encontro para o chá com a rainha Elizabeth 2ª, antes de viajar para a Escócia para passar o fim de semana em privado. No domingo, ele viajará para Helsinque para uma cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira (16). (Com agências internacionais)
Londres vive dia de protestos
Dezenas de milhares de pessoas se reuniram para uma série de protestos em Londres contra a presença do presidente americano. Um gigantesco balão com a figura de Trump, retratado como um bebê de fraldas, marcou presença numa manifestação próxima ao Parlamento britânico.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, um dos muitos desafetos de Trump, autorizou a utilização do balão na manifestação. Em 2017, Kahn criticou duramente o americano por publicar mensagens com informações falsas após ataques terroristas ocorridos na capital britânica.
Na entrevista ao The Sun, o americano disse que o prefeito londrino tem feito "um péssimo trabalho" no combate ao terrorismo, associando os atentados à imigração.
Ele disse que a Europa está "perdendo sua cultura" em razão do grande número de migrantes vindos da África e do Oriente Médio. "Acho que mudou o tecido da Europa e, a não ser que vocês ajam rápido, a Europa jamais será o que costumava ser", afirmou Trump.
Khan, muçulmano de origem paquistanesa, lembrou que atentados terroristas também ocorreram nos EUA e em outras cidades europeias. "O presidente Trump deve explicar por que escolheu criticar o prefeito de Londres, e não os das outras cidades", observou.
Em sua primeira visita oficial ao Reino Unido, o americano evitou a capital britânica. "Acho que quando colocam balões de ar para fazer com que me sinta indesejado, não há razões para que eu vá a Londres", disse Trump na entrevista ao The Sun.
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