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Na França, onde Ciro venceu 1º turno, eleitores dão razões para votar Bolsonaro, Haddad ou nulo

Aurelien Meunier/Getty Images
Imagem: Aurelien Meunier/Getty Images

João Henrique Serra

Colaboração para o UOL, em Paris

28/10/2018 04h01

Na capital francesa, Ciro Gomes (PDT) ficou em primeiro lugar no primeiro turno da eleição com 31,1% dos 4.480 votos, e Fernando Haddad (PT), escolhido por 25,8% eleitores, superou Jair Bolsonaro (PSL) por pouco - o capitão da reserva recebeu 25,1% dos votos.

O cenário faz a votação na França especialmente interessante, e os brasileiros radicados no país afirmam que, além do cenário político no Brasil, não podem deixar de levar em conta a política local na hora de decidir o voto.

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Chama a atenção também o baixo número de eleitores registrados para votar. O Consulado do Brasil em Paris estima que 70 mil brasileiros vivam na França, mas apenas 11.047 se registraram para votar e, desses, 6.567 faltaram no primeiro turno.

A França é o 10º maior colégio eleitoral brasileiro no exterior. A lista é encabeçada por EUA (160 mil), Japão (60 mil) e Portugal (39 mil).

Às vésperas do segundo turno, o UOL ouviu razões de brasileiros no país que já decidiram o voto por Haddad, Bolsonaro ou que pretendem anular:

Brasileira protesta contra Bolsonaro em Paris - Ele não - Zakaria ABDELKAFI / AFP - Zakaria ABDELKAFI / AFP
Brasileira protesta contra Bolsonaro em Paris em setembro
Imagem: Zakaria ABDELKAFI / AFP

"Votarei Haddad, mas não queria nenhum dos dois candidatos"

Carla Destro, jornalista, há 3 anos em Paris:

"Não julgo ter um candidato que me represente. Votei no Ciro por estratégia. 

A partir do momento que você vem morar aqui e convive com franceses, vai aprendendo e começando a refletir politicamente. A França foi invadida por nazistas. Os avós das pessoas da minha idade viveram isso. Quem convive com essas pessoas cria consciência e é influenciado a pensar mais democraticamente, a querer mais igualdade. Nas eleições da França de 2017, lembro o desespero das pessoas falando contra a Le Pen e não entendia como podia existir essa força por aqui. Agora temos esse medo no Brasil.

Pensei em anular, mas acho que anular é ficar em cima do muro e limpar as mãos. E seria um voto a menos para o Hadadd."

Bolsonaro tem ideias das quais discordo, mas o Brasil precisa de um choque de realidade.

Lilian Perez, assistente de escola maternal. Há 7 anos morando em Paris

Quando o francês vem falar de política no Brasil, só fala de corrupção. Bolsonaro está longe de ser perfeito, nem foi meu voto no primeiro turno. A gente pode tirar daqui 4 anos caso não seja bom.

Quem quer votar no Haddad tem meu respeito também. Mas não gosto de ver o que aconteceu comigo: mesmo morando fora, fui me expressar politicamente e sofri ofensas da minha família. Explico isso para um francês e ele entende sem ficar horrorizado. E é dessa forma que devemos encarar"

Não quero ser protagonista do que vai acontecer

Andrea Ferrao, assistente de controladoria, há 4 anos em Paris

"No primeiro turno, votei no Amoêdo e achava que era uma opção inovadora. 

O Ciro era o candidato meio-termo. Se tivesse ganhado, também seria bem interessante e positivo.

Quando moramos fora, buscamos realidades como a dos países mais desenvolvidos, e o Brasil não consegue dar esse passo. 

Agora, no segundo turno, há dois candidatos em que jamais pensei em votar. Vou anular. Sinto que não posso assumir a responsabilidade de definir algo tão importante estando fora do país. A questão está tão delicada entre um e outro que acredito que as pessoas vão sofrer por lá seja qual for o vencedor. Não quero ser protagonista do que vai acontecer no Brasil."