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Partido de Trump perde maioria da Câmara, mas mantém comando no Senado

Militante do Partido Republicano observa tela mostrando as cadeiras definidas nas eleições legislativas em evento em Scottsdale, no estado do Arizona  - Ralph Freso/Getty Images/AFP
Militante do Partido Republicano observa tela mostrando as cadeiras definidas nas eleições legislativas em evento em Scottsdale, no estado do Arizona Imagem: Ralph Freso/Getty Images/AFP

Marcelo Freire e Camila Rodrigues da Silva

Do UOL, em São Paulo*

07/11/2018 02h24Atualizada em 07/11/2018 14h29

O Partido Republicano, de Donald Trump, perdeu a maioria da Câmara de Deputados dos Estados Unidos e manteve o domínio no Senado após as eleições de metade de mandato, nesta quarta-feira (7), numa votação que também indica a avaliação dos eleitores ao trabalho do presidente após quase dois anos no cargo. A apuração ainda está em andamento em alguns estados.

A vitória dos democratas na Câmara tira de Trump a hegemonia no Congresso e pode complicar os projetos da Casa Branca em áreas delicadas para o presidente como saúde, imigração e aprovação do orçamento do governo.

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Os democratas também poderão tomar controle de comissões importantes da Casa e investigar Trump mais profundamente, nas denúncias sobre possível conflito de interesse do presidente a suas empresas e as supostas ligações da campanha de Trump de 2016 com o governo russo. Com a Câmara democrata, a Casa Branca fica sob fiscalização mais intensa.

Ao mesmo tempo, com o controle do Senado, o presidente ainda se mantém forte, por exemplo, para enfrentar uma eventual acusação de impeachment, defendida por democratas mais radicais. Uma maioria simples na Câmara seria suficiente para aprovar o pedido de impeachment, mas para remover o presidente do cargo seria necessária uma maioria de dois terços no Senado.

6.nov.2018 - Líder democrata e possível nova presidente da Câmara dos EUA, a deputada Nancy Pelosi comemora em Washington os resultados do partido nas eleições de meio de mandato4 - REUTERS/Jonathan Ernst  - REUTERS/Jonathan Ernst
6.nov.2018 - Líder democrata e possível nova presidente da Câmara dos EUA, a deputada Nancy Pelosi comemora em Washington os resultados do partido nas eleições de meio de mandato
Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst

Os votos dos eleitores americanos, que compareceram em número recorde, segundo as primeiras informações, indicam que Trump terá desafios na briga para ser reeleito em 2020. O partido do presidente consolidou ainda mais seu domínio em estados tradicionalmente republicanos e teve vitórias importantes em locais-chave como Flórida e Ohio, mas perdeu força em Michigan, Pensilvânia e Wisconsin e Michigan, fundamentais para a vitória de Trump em 2016.

Todas as 435 cadeiras da Câmara estavam em disputa. Os democratas começaram o dia precisando conquistar pelo menos 24 cadeiras a mais para ganhar a maioria, número que já foi atingido. Há possibilidade de essa bancada opositora aumentar mais após o fim da apuração.

Ao mesmo tempo, o Senado tinha 35 das 100 cadeiras em disputa, a maioria de democratas, e as pesquisas indicavam que seria difícil para a oposição tirar a vantagem mínima dos republicanos, que estavam com 51 cadeiras. Isso também se confirmou, com os republicanos na expectativa de aumentar a maioria após a contagem final das votos.

Além da Câmara e do Senado, 36 dos 50 estados norte-americanos elegeram governadores, com os democratas conquistando algumas vitórias em locais antes comandados por republicanos, em mais uma indicação de força da oposição. 

6.nov.2018 - Norte-americanos votam nas eleições de meio de mandato na praia de Venice, na Califórnia, na região de Los Angeles - Mark RALSTON / AFP - Mark RALSTON / AFP
Eleitores votam na praia de Venice, na região de Los Angeles, Califórnia
Imagem: Mark RALSTON / AFP

Como funcionam as eleições de meio de mandato

As eleições de meio de mandato do presidente tendem a dar maioria à oposição --a exceção recente foi o republicano George W. Bush em 2002, com o país ainda abalado pelo 11 de Setembro. Analistas na mídia americana, porém, avaliaram este pleito como mais "plebiscitário" do que os demais.

As disputas das eleições de meio de mandato são regionais, mas o saldo é outro indicativo do tamanho do poder de democratas e republicanos sobre a população dos EUA a partir de 2019.

Câmara dos Deputados

  • Em jogo: Todas as 435 cadeiras, renovadas a cada dois anos
  • Divisão até 2018: 235 republicanos, 193 democratas e 7 cadeiras vagas
  • Resultado parcial (até 14h, segundo AP): 220 democratas, 193 republicanos (22 ainda indefinidos)

Senado

  • Em jogo: 35 de 100 cadeiras, incluindo dos 5 estados mais populosos (Califórnia, Texas, Flórida, Nova York e Pensilvânia)
  • Divisão atual: 51 republicanos e 49 democratas.
  • Resultado parcial (até 14h, segundo AP): 51 republicanos e 45 democratas (4 ainda indefinidos)

Governos de estado

  • Em jogo: 36 estados (entre 50), incluindo os 5 mais populosos
  • Divisão atual: 33 republicanos, 16 democratas e 1 independente
  • Resultado parcial (até 14h, segundo AP): 25 republicanos e 22 democratas (3 ainda indefinidos)

Democratas comemoram resultados; Trump, também

Após a votação, a líder do Partido Democrata na Câmara dos Deputados e possível nova presidente da Casa, Nancy Pelosi, comemorou o resultado diante de apoiadores em Washington, afirmando que o novo equilíbrio de forças representa um maior controle sobre o governo Trump. "Graças a vocês, amanhã será um novo dia nos Estados Unidos. Teremos a responsabilidade de encontrar terreno comum [com o presidente] onde pudermos e, onde não pudermos, de nos mantermos firmes."

Apesar da derrota para seu partido na Câmara, Trump escreveu no Twitter que os resultados mostraram um "sucesso tremendo" dos republicanos. Na manhã desta quarta (7), ele disse que recebeu "muitos parabéns pela grande vitória" de seu partido. "Agora podemos voltar ao trabalho e fazer as coisas acontecer!", escreveu.

Mesmo sem a obrigatoriedade do voto, a expectativa é que o comparecimento às urnas seja alto, afirmou o especialista Michael McDonald, da Universidade da Flórida, à agência AFP.

Entre os indícios estão as longas filas de pessoas esperando para votar, exibidas nas redes de televisão, e a antecipação de pelo menos 38 milhões de votos nos estados que permitem essa modalidade, 40% a mais que nas eleições de meio de mandato de 2014.

Democratas conquistam 7 estados que eram comandados por republicanos

Os democratas mostraram força ao conquistar vitórias para o governo em sete estados que eram governados por republicanos: Novo México, Michigan, Illinois, Kansas, Nevada, Maine e Wisconsin. O Partido Republicano, por sua vez, não venceu em nenhum estado governado por um democrata.

As vitórias em Wisconsin e Michigan foram particularmente importantes porque os dois estados foram vencidos por Trump nas eleições presidenciais de 2016 e são considerados locais-chave para os democratas impedirem a reeleição do presidente daqui a dois anos. Já o Kansas, tradicionalmente republicano, elegeu a democrata Laura Kelly e rejeitou seu rival Kris Kobach, político aliado de Trump.

Além disso, os democratas mantiveram os governos de Nova York, Pensilvânia, Minnesota e Rhode Island; os republicanos fizeram o mesmo com os de Ohio, Flórida, Texas, Oklahoma, Wyoming, Arkansas, Tennessee, Alabama, Carolina do Sul, Maryland, Massachusetts e Nebrasca.

No Colorado, o progressista Jared Polis se transformou no primeiro candidato abertamente homossexual a comandar um estado na história dos EUA com seu triunfo contra o republicano Walker  Stapleton.

A única esperança de virada republicana nos governos de estado é no Alasca, comandado pelo independente Bill Walker. O atual governador apoia o democrata Mark Begich, que está atrás na apuração contra o republicano Mike Dunleavy, em uma disputa que está indefinida.

Republicanos também vencem em estados-chave

Apesar das derrotas nos governos e na Câmara, os republicanos e Trump também registraram vitórias fundamentais para o presidente. Na Flórida, por exemplo, um dos estados que costumam definir a vitória na disputa pela Casa Branca, o republicano Ron DeSantis sobressaiu em um duelo apertado contra Andrew Gillum, que poderia ter sido o primeiro governador negro do estado e é considerado uma potencial estrela democrata.

Outro estado-chave vencido pelos republicanos foi Ohio, onde Mike DeWine superou o democrata Richard Cordray e mantém seu partido no poder. No Senado, no entanto, a vitória ficou com o democrata Sherrod Brown, que disputava a reeleição.

Mas o Senado foi onde os republicanos conquistaram vitórias contundentes sobre os democratas, tirando três cadeiras da oposição em estados que apoiaram Trump em 2016: Dakota do Norte, Indiana e Missouri. Os democratas, por sua vez, conseguiram ganhar uma cadeira de um senador republicano: no Nevada, onde Hillary Clinton venceu Trump dois anos atrás.

* Com agências internacionais