Time elege jornalistas para Pessoa do Ano; Bolsonaro fica fora do top 10
Jornalistas perseguidos, exilados, condenados, desaparecidos, mortos e hostilizados devido à profissão são os homenageados como Pessoa do Ano de 2018 pela revista Time. Os 'Guardiões na Guerra Pela Verdade', tema da próxima capa, reúnem quatro jornalistas e uma equipe inteira de jornal.
O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, chegou a integrar a enquete da revista sobre os nomes que deveriam estar entre os finalistas da homenagem, mas não figura entre os dez finalistas. A enquete serve de consulta para a revista ver os nomes que estão entre a preferência do público, mas a escolha final é feita somente pelos editores.
Jamal Khashoggi, morto em outubro deste ano no consulado da Arábia Saudita em Istambul; Maria Ressa, alvo nas Filipinas por reportar a política de guerra às drogas de Rodrigo Duterte; Wa Lone e Kyaw Soe Oo, repórteres da Reuters presos em Myanmar por expor o genocídio da minoria muçulmana Rohingya; e o jornal Capital Gazette, de Annapolis, alvo de um tiroteio em junho. Esses são os principais homenageados de 2018, mas outros jornalistas e ataques à imprensa também são lembrados.
"Quando olhamos para as escolhas, ficou claro que a manipulação e o abuso da verdade são realmente o fio condutor em muitas das principais reportagens deste ano, da Rússia a Riad e o Vale do Silício", disse o editor da revista Time, Edward Felsenthal no "Today show" desta terça-feira (11), onde o anúncio foi feito. Esta é a primeira vez que uma pessoa já morta recebe a homenagem. "É muito raro que a influência de uma pessoa cresça tão imensamente após a morte", afirma o editor.
O caso de Khashoggi repercutiu negativamente na comunidade internacional. O jornalista foi assassinado dentro do consulado saudita em Istambul na Turquia, o principal suspeito é o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman que, no entanto, nega as acusações. Khashoggi era colunista no jornal americano The Washington Post e tinha uma posição crítica com o reino saudita, principalmente em se tratando da guerra no Iêmen.
Maria Ressa é editora do site de notícias filipino Rappler, que cobre as políticas de violência do presidente Duterte, famoso por travar uma intensa política antidrogas que já vitimou milhares de filipinos. Os dois repórteres da Reuters, que aparecem na capa por meio de fotos seguradas por suas esposas, foram condenados a sete anos de prisão por denunciarem a morte de 10 rohyngias em Myanmar pelo exército do país, que desde 2017 persegue a minoria muçulmana dentro do país de maioria budista.
Por último, a equipe do Capital Gazette, vítima de um atirador que abriu fogo dentro da redação, deixando quatro repórteres e um assistente de vendas mortos. O atirador, Jarrod Ramos, alegou vingança contra o periódico por reportagens sobre violências sexuais envolvendo ele. O repórter e o editor responsaveis pelas matérias não trabalhavam mais na redação.
A publicação também destaca histórias de outros profissionais da imprensa que sofreram algum tipo de ataque devido ao seu trabalho, como a vietnamita Nguyen Ngoc Nhu Quynh, condenada a 10 anos de prisão por "propaganda contra o estado"; a venezuelana Luz Mely Reyes, que cobre política na Venezuela de Maduro; o turco Can Dündar, que foi obrigado a se exilar após revelar a venda de armas pela Turquia para extremistas na Síria; a constante violência no México, o país mais perigoso para jornalistas no mundo, além de citar diversos países com histórico de perseguição à liberdade de imprensa.
A repórter da Folha, Patricia Campos Mello, também foi citada. Em outubro a jornalista recebeu ameaças e intimidações em suas redes sociais e pelo telefone depois de publicar uma reportagem na qual denunciava que empresários impulsionaram disparos por WhatsApp contra o PT.
Os Estados Unidos não ficaram de fora das críticas. A revista destacou os constantes ataques do presidente Donald Trump ao que ele chama de "Fake News", a retirada da credencial na Casa Branca do jornalista Jim Acosta depois de uma discussão com o presidente, além de relembrar as bombas enviadas para a emissora CNN.
Entre os dez finalistas para este ano estavam: Donald Trump, Jamal Khashoggi, as famílias separadas na fronteira dos EUA com o México, o presidente russo Vladimir Putin, o conselheiro especial americano Robert Mueller, o diretor Ryan Coogler, a professora de psicologia Christine Blasey Ford, os ativistas da marcha "Pela nossas vidas" composta por sobreviventes do tiroteio na escola de Parkland, o sul-coreano Moon Jae-in e Meghan Markle.
Esta é a segunda vez que a Time homenageia um grupo de pessoas. No ano passado, as homenageadas foram as mulheres do movimento #MeToo que revelaram diversos casos de abusos sexuais. O "Pessoa do Ano" reconhece uma pessoa ou um grupo de pessoas que mais influenciou a mídia e o mundo - para melhor ou para pior - durante o ano.
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