'Atirador merece morrer'? Questão sobre pena de morte causa revolta nos EUA
Era para ser mais uma prova de educação cívica na Coral Glades High School, na região metropolitana de Miami, nos Estados Unidos. O tema "pena de morte" foi abordado, e uma pergunta curta e direta no exame gerou protestos: "Nikolas Cruz merece morrer?"
Cruz, 19, é o autor confesso do atentado que matou 17 estudantes e feriu outros 17 em fevereiro deste ano na escola Marjory Stoneman Douglas - a cerca de 15 minutos de carro de onde a prova que gerou indignação neste mês foi aplicada. Ele está preso.
"Eu competi com alunos na Stoneman Douglas por algumas bolsas de estudo. Foi difícil passar na frente da escola e ver os protestos [depois do ataque]... e agora essa pergunta? Muito mau gosto", disse ao UOL D.K., um dos alunos de ensino médio que se deparou com a questão e se incomodou com ela.
"Não é fácil 'autorizar' a matar alguém, mesmo quando essa pessoa matou vários conhecidos seus", disse o estudante, que pediu para não ter o nome revelado.
A questão irritou também pessoas próximas às vítimas e sobreviventes. "Não consigo nem começar a expressar o tanto que acho isso patético. Nosso conselho escolar deveria incluir isso na lista de 1000+ motivos para ter vergonha", escreveu no Twitter Cameron Kasky, que escapou com vida do massacre e se tornou cofundador do movimento 'March for Our Lives' (Marche por nossas vidas), que pede, entre outras coisas, mais restrição à circulação de armas de fogo no país.
Ryan Petty, pai de Alaina Petty, menina de 14 anos que morreu no massacre em Marjory Stoneman Douglas, é membro do conselho estadual que investiga o atentado e foi um dos primeiros a ligar para a Coral Glades cobrando explicações.
"Um representante das famílias falou com o Diretor da escola em Coral Glades, ele não sabia do conteúdo, mas imediatamente tomou atitudes corretivas", disse Petty a um jornal local.
Diante da avalanche de críticas e da repercussão na imprensa local, a escola se desculpou e publicou uma nota explicando que o exame é elaborado por uma empresa contratada - a Scholastic Corporation.
"A liderança da escola lamenta o incidente ocorrido, por isso cancelamos o questionário, faremos uma revisão de todo o material e seus processos. As escolas públicas do Condado de Broward estão trabalhando com a editora para alertá-los sobre o que nos preocupa", diz o comunicado.
Para a Scholastic Corporation, o problema não foi o conteúdo em si. "Faltou sensibilidade, porque usamos um exemplo real, quando deveríamos ter usado uma abordagem mais abstrata", disse Tracy Straaten, assessora de imprensa da empresa. A representante da companhia também afirma que a proximidade geográfica das escolas deveria ter sido levada em consideração para um exemplo tão específico.
Pena de morte
A Flórida é um dos estados norte-americanos em que vigora a pena de morte, e o Estado já adiantou que é essa a pena que quer aplicar para o autor do ataque.
"Foi para casos como de Nikolas Cruz que aprovamos a pena de morte", declarou Michael Satz, promotor à frente do caso.
O advogado criminalista David Edelstein explicou que a condenação pode demorar.
"Na Flórida, o último sentenciado [à pena de morte] foi executado 26 anos depois do assassinato que cometeu", disse.
"Um prazo de três anos é bem realista para a coleta de provas, escolha do júri e o julgamento propriamente dito", explicou. A sentença capital, porém, precisa ser aprovado por unanimidade pelo júri. Se um votar contra, começam os julgamentos para converter a pena de morte em prisão perpétua - um processo que pode levar mais de dez anos.
O advogado que representa Nikolas Cruz fez uma oferta ao Estado. O autor se declararia culpado, em troca de não receber a pena de morte. A proposta não foi aceita.
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