"Embaixadora paralela" da Venezuela é especialista em defesa e geopolítica
Especialista em segurança e defesa, a advogada Maria Teresa Belandria chegou ao Brasil neste domingo (10) com a missão de criar uma "embaixada paralela" da Venezuela no país.
Belandria foi indicada ao cargo pelo autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, no dia 5 de fevereiro. Guaidó é o líder da oposição ao ditador Nicolás Maduro, no poder desde 2013.
Quem é Maria Teresa Belandria
Um aperto de mão com Ernesto Araújo ilustra hoje a foto de perfil de Belandria no Twitter - a rede social em que ela é mais ativa. Nas últimas semanas, sua presença na internet se dedica exclusivamente a divulgar os passos de Juan Guaidó - e o que considera os passos em falso de Maduro.
A advogada é especializada em direito internacional, em particular nas áreas de segurança e defesa. Até ser indicada para o cargo no Brasil, era pesquisadora e professora convidada do centro William J. Perry, uma instituição do Departamento de Defesa norte-americano
Antes disso, trabalhou em consultorias e bancos de investimentos, além de lecionar na Universidade Central da Venezuela e na Academia Militar do país - foi a primeira mulher a ministrar geopolítica na Escola de Infantaria do Exército.
A professora esteve pela primeira vez no Centro Perry há 18 anos, para uma formação de civis no setor de defesa. No retorno à Venezuela, tornou-se assessora da Comissão de Política Exterior e Defesa da Assembleia Nacional e, mais tarde, foi assessora para a mesma área da então deputada Marina Corina Machado, um dos principais nomes da oposição venezuelana. Na política, foi também coordenadora internacional do partido de centro-direita Vente Venezuela.
Críticas à entrada da Venezuela no Mercosul
Em um blog chamado Venezuela e o Mundo, atualizado até 2016, Belandria compartilhava sua opinião sobre a geopolítica da América Latina em vídeos e textos. Em seus últimos posts, comemorou a recusa da população colombiana ao Acordo de Paz com as Farc, proposto pelo governo de Juan Manuel Santos, e criticou a presença da Venezuela no Mercosul.
"A 'triple alianza' amiga do governo nesse momento, o Uruguai de Pepe Mujica, o Brasil de Dilma e a Argentina dos Kirchner, violando o Tratado de Assunção, aproveitaram para meter a Venezuela [no Mercosul] sem consenso, ou seja, pela janela", escreveu sobre o processo de entrada do país no bloco, que aconteceu em 2012. O Estado foi posteriormente suspenso em 2016.
"Ela conhece muito bem a situação política da América Latina e sabe da importância que representa o Brasil neste momento para o nosso país, por toda a cooperação que pode nos dar, para além do apoio político que está dando à Assembleia Nacional e ao presidente Guaidó", diz sobre Belandria o veterano do cargo que ela agora assume informalmente, Fernando Gerbasi. Ele foi o embaixador venezuelano no Brasil entre 1986 e 1990. Desde 2014 vive exilado em Madri.
Aluna da advogada no Centro Perry, a pesquisadora criminal Tania Molina Rojas também destaca a possibilidade de aproximação entre os governos, cujas relações estão estremecidas desde o impeachment de Dilma. "Seu trabalho pode funcionar como um catalisador entre Brasil e Venezuela. Só podem ser vozes representantes nesse processo de transição aqueles que, primeiro, são venezuelanos, segundo, profissionais absolutamente inteirados da realidade nacional sem filtros, nem bandeira política."
Sem embaixada ou imunidade diplomática
A representante de Guaidó no Brasil não pode despachar da embaixada venezuelana em Brasília - ainda que hoje ela funcione apenas com um corpo técnico, que mantém a rotina consular.
A Venezuela retirou seu embaixador do país em 2016, quando o Senado aprovou a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff. No ano seguinte, o encarregado de negócios em Brasília foi considerado persona non grata, em retaliação à expulsão do embaixador brasileiro de Caracas.
O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Thiago Gehre Galvão, aponta que a indicação de Belandria não está respaldada por nenhum tipo de convenção internacional.
"Existe uma prática entre os países, respaldada em Convenção de Viena, que a apresentação de um nome para ser embaixador passa pelo aval do estado que a recebe, que concede o chamado agrément. Ela [Belandria] inclusive não está respaldada dentro do princípio de imunidade diplomática", explica Galvão.
Em entrevista à imprensa do Itamaraty, Belandria respondeu que é representante diplomática da Venezuela. "Nós somos a embaixada. Não precisamos de um prédio para ser uma embaixada."
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