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'Trump dos trópicos', Bolsonaro nega ligação com milícia em canal nos EUA

Twitter/ShannonBream
Imagem: Twitter/ShannonBream

Luciana Amaral

Do UOL, em Washington

19/03/2019 00h55

Anunciado como "Trump dos trópicos", o presidente Jair Bolsonaro (PSL) rebateu acusações de que teria ligação com milícia e a morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (Psol) em entrevista ao canal norte-americano de notícias Fox News.

"Sou um capitão do Exército brasileiro e parte dos oficiais da polícia do Rio de Janeiro são grandes amigos meus. Por coincidência, um desses suspeitos de ter matado a Marielle não era na verdade vizinho meu, mas morava do outro lado de uma outra rua [do condomínio]. Mas, a mídia sempre me criticou e estabeleceu uma conexão", afirmou.

Ele negou conhecer o suspeito em questão, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, e disse não ter tempo para manter uma vida social com moradores do condomínio. Lessa foi preso na terça passada (12) junto ao ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz por supostamente terem participado dos assassinatos de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes em 14 de março do ano passado.

"Só descobri que ele vivia lá depois de ver as notícias", disse Bolsonaro à repórter Shannon Bream.

Namoro do filho

Ele citou a possibilidade que tem circulado de que o filho Jair Renan tenha namorado uma filha de Lessa e voltou a dizer que o estudante "namorou todo mundo" no condomínio onde morava no Rio.

"[Jair Renan] me disse que, se mostrarem a foto dela, talvez possa ver quem é", comentou.

O presidente ainda voltou a dizer que só conheceu Marielle após a morte dela e questionou qual seria a possível motivação para mandar matar a política. Em seguida, lembrou do atentado à faca sofrido na campanha eleitoral na cidade mineira de Juiz de Fora e reclamou que a mídia "nunca falou que a esquerda tentou matar o Jair Bolsonaro".

Em determinado momento da entrevista, o canal mostrou a foto dos suspeitos presos junto à legenda "Uma relação de família? Mídia brasileira joga luz sob laços do presidente com gangues", em tradução livre.

Emissora tem posicionamento à direita

A entrevista à Fox News --reconhecida nos Estados Unidos por ter um posicionamento mais à direita do espectro político e menos crítico a Trump-- foi gravada na tarde de ontem na Blair House, residência do complexo da Casa Branca onde Bolsonaro está hospedado com assessores próximos.

Além de ser citado como "Trump dos trópicos" pelos tuítes polêmicos e falas sem censura, o canal mostrou publicação do presidente brasileiro cujo tom se assemelha ao do mandatário norte-americano e a fala dele à revista Playboy em 2011 em que afirma preferir um filho morto num acidente do que gay.

Bolsonaro confirmou achar que Trump e ele têm bastante em comum e declarou sempre o ter admirado. "Fui muito criticado por isso, mas não vou negar o que penso", falou.

Encontro com Trump

Quanto ao encontro com Trump na Casa Branca, afirmou estar "disposto a abrir o coração" para ele e "fazer o que for preciso em benefício dos povos brasileiro e norte-americano.

A crise política e econômica da Venezuela estará na pauta da conversa, afirmou, mas sem indicar defender uma intervenção militar, como aventado por Trump. Bolsonaro ressaltou que ajudará a restabelecer a democracia no país vizinho como for possível por vias diplomáticas e não haver país "mais interessado em terminar com o tráfico de drogas e a ditadura" de Nicolás Maduro do que o Brasil.

Bolsonaro ainda acenou a Trump afirmando querer aprofundar o comércio com os Estados Unidos e elogiando a vontade do presidente norte-americano em construir um muro na fronteira com o México.

Ele questionou se "os que são contra o muro derrubariam a porta e o muro das próprias casas", falou que a maioria dos imigrantes ilegais não entra com boas intenções e os norte-americanos devem ter a França como mau exemplo do que pode acontecer quando se abre as fronteiras para todos.

Questionado sobre a publicação de vídeo no Twitter com cenas explícitas durante o carnaval, Bolsonaro explicou ter compartilhado a cena para "mostrar como o carnaval estava se desvirtuando" e não ter esperado tanta repercussão.

Bannon

Colocado de lado por Trump, a presença do ex-estrategista de campanha do norte-americano, Steve Bannon, em jantar ontem à noite com formadores de opinião - majoritariamente da direita -também foi indagada pela reportagem da Fox News a Bolsonaro. Este disse que quem tem um relacionamento com Bannon é seu filho e deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e "teve de ser educado com todos".

Bannon é entusiasta do escritor Olavo de Carvalho, tido como mentor de Bolsonaro, e, inclusive, esteve em exibição de filme sobre a vida do brasileiro no sábado junto a Eduardo.

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