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Análise: Com Netanyahu à frente na eleição, Israel acena à extrema-direita

9.abr.2019 - Judeus ultra-ortodoxos fazem fila para votar durante as eleições parlamentares de Israel - Ahmad Gharabli/AFP
9.abr.2019 - Judeus ultra-ortodoxos fazem fila para votar durante as eleições parlamentares de Israel Imagem: Ahmad Gharabli/AFP

Beatriz Montesanti

Do UOL, em São Paulo

10/04/2019 11h54

Resultados parciais das eleições israelenses, que aconteceram ontem, dão uma vitória provável ao atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O resultado faz dele o premiê israelense que está há mais tempo no poder e preocupa parte do país, que vê na aproximação de Netanyahu com a extrema-direta um risco à democracia.

Essa é a avaliação de Arie Kacowicz, professor do departamento de relações internacionais da Universidade Hebraica de Jerusalém. "Um setor significante da sociedade está preocupado com a séria deterioração da democracia israelense, com a corrupção de Benjamin Netanyahu e com o dano que ele causou ao estado de direito e ao tecido da sociedade israelense", explica Kacowicz ao UOL. Em contrapartida, diz ele, outro setor "parece satisfeito com Netanyahu e sua defesa do status quo, sem paz, com guerra".

Essa divisão foi expressa nas urnas. Com praticamente todos os votos contados na manhã de hoje (horário de Brasília), o partido de Netanyahu empatou com o de seu principal opositor, o ex-general Benny Gantz. Analistas avaliam que o atual primeiro-ministro, no entanto, terá mais facilidade para formar uma maioria no Knesset - o Parlamento israelense.

Pelo sistema eleitoral do país, cidadãos votam em partidos, e não em candidatos, que recebem então cadeiras no Knesset de forma proporcional aos votos recebidos. Torna-se primeiro-ministro, ao final, o líder de partido que tiver maior habilidade para formar uma coligação majoritária. Votos são contados manualmente e o resultado final deve ser divulgado só na quinta-feira (11).

As eleições foram marcadas pela mais baixa presença árabe nas urnas da história do país, o que pode ter prejudicado Gantz, e por uma retórica voltada para a segurança.

Benny Gantz, líder da aliança Azul e Branco, e o atual primeiro-ministrom Benjamin Netanyahu - Ariel Schalit/Pool/Reuters - Ariel Schalit/Pool/Reuters
Benny Gantz, líder da aliança Azul e Branco, e o atual primeiro-ministrom Benjamin Netanyahu
Imagem: Ariel Schalit/Pool/Reuters

Aliança com extrema-direita

Parte da preocupação a que Kavowicz se refere diz respeito aos escândalos de corrupção pelos quais Netanyahu é investigado - e aos rumos das investigações, caso ele permaneça no cargo. O procurador-geral do país já afirmou pretender indiciá-lo, o que faria de Netanyahu o primeiro chefe de governo na história de Israel nessa situação.

"Ele deve enfrentar uma acusação em outubro ou novembro, a não ser que sua coalizão aprove uma lei que suspenda seu processo enquanto ele for primeiro-ministro. A chave da questão é que tipo de coalizão ele irá formar", diz o professor.

E esse é o segundo motivo de preocupação entre o eleitorado: a aproximação do Likud, partido do atual governo, com a extrema-direita do país, promovida a fim de garantir uma coligação no Knesset.

O sistema eleitoral de Israel favorece que pequenos partidos recebam assentos na casa legislativa com uma quantidade mínima de votos - basta ter 3,25%. Como resultado, partidos majoritários dependem dessas legendas para formarem maioria.

Netanyahu tem feito essa aproximação com mais naturalidade do que Gantz. Como resultado, se reeleito premiê, sua próxima legislatura deverá ter uma agenda ainda mais à direita que as anteriores.

Uma prévia dessa pauta já foi expressa pelo primeiro-ministro durante a campanha, ao afirmar pretender anexar parte da Cisjordânia - território palestino atualmente ocupado pelos israelenses. A medida tem apoio de Donald Trump, mas é fortemente condenada pela comunidade internacional.

A possível vitória faz de Bibi Netanyahu o premiê que está há mais tempo no poder de Israel, ultrapassando David Ben Gurion, primeiro líder após a fundação do país em 1948. Ele vai para seu quarto mandado consecutivo - e quinto no total, considerando o período em que esteve a frente do país na década de 1990.