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Hoje entusiasta, E. Bolsonaro já defendeu que Brasil deixasse o Mercosul

28.mar.2019 - O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/Reuters
28.mar.2019 - O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Alex Tajra*

Do UOL, em São Paulo

02/07/2019 20h30

Há quatro dias, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) comemorava em suas redes sociais a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia -- este que acumulava 20 anos de negociações.

"GRANDÍSSIMO DIA!!! Parabéns aos Ministros @ernestofaraujo ,Paulo Guedes e suas equipes, Mercosul acaba de fechar acordo com a UE após mais de 20 anos de negociações. Só um Presidente liberal poderia abrir este novo mercado. Isso é fazer negócio SEM VIÉS IDEOLÓGICO.", escreveu Eduardo.

Três anos atrás, no entanto, o "zero três", como chamado pelo pai Jair Bolsonaro (PSL), emitia opinião distinta no mesmo perfil no Twitter. À época, citava supostas benesses financeiras do Paraguai desde que o país decidira sair do bloco comercial sul-americano. Em 24 de junho de 2016, Eduardo escreveu:

"Bem que o Brasil poderia aproveitar o gancho do Reino Unido e fazer plebiscito p/ sair do Mercosul. Paraguai saiu e hj desponta na economia!" A publicação foi apagada pelo deputado, mas consta ainda no cache (mecanismo que funciona como uma espécie de memória do Google).

Eduardo Bolsonaro (PSL) já defendeu que o Brasil deixasse o Mercosul - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
A tese é compartilhada por parte do eleitorado de direita que orbita a família Bolsonaro e tem como base as variações do Produto Interno Bruto (PIB) do país depois da saída do bloco. Atualmente empossado, Jair Bolsonaro fez, por muito tempo, parte dessa gama que se opõe ao tratado dos países sul-americanos.

Entre entrevistas e discursos na Câmara, Bolsonaro afirmou mais de uma vez que as negociatas com países do bloco tinham "viés ideológico" e se opôs até às placas unificadas do Mercosul. "Essas placas não são de interesse nacional, no que depender de mim vamos colocar um ponto final nisso", afirmou, em entrevista à TV Band em outubro passado.

Um ano antes, o então deputado escrevera em seu Twitter: "Temos que ter outras opções fora das amarras ideológicas do MercoSul! Partamos para o bilateralismo em prol do desenvolvimento real do país!"

Mercosul não era "prioridade"

Pouco depois de ser oficialmente anunciado como ministro da Economia pelo presidente Jair Bolsonaro, Paulo Guedes chegou a afirmar que o bloco não seria "prioridade". "O Mercosul é restrito demais para o que estamos pensando. O Mercosul, quando foi feito, foi totalmente ideológico. O Brasil ficou prisioneiro de alianças ideológicas e isso é ruim para a economia", afirmou Guedes para jornalistas após encontro com Bolsonaro no Rio, em outubro passado.

Irritado com os questionamentos dos repórteres, Guedes subiu o tom contra uma jornalista do periódico argentino Clarín. "A prioridade não é o Mercosul. Mercosul não é prioridade. Não, não é prioridade. É isso o que você quer ouvir? Você está vendo que tem um estilo que combina com o do presidente. A gente fala a verdade. A gente não está preocupado em te agradar."

O acordo

O pacto entre UE, que conta com 28 estados-membros, e Mercosul fechado na semana passada, depois de duas décadas de negociações, estabelece uma série de regras e condições para facilitar a importação e a exportação entre os países dos dois blocos --que representam, juntos, 25% da economia global e envolvem cerca de 10% da população mundial.

O acordo estabelece cotas e taxas para a comercialização de produtos, e ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento europeu e pelos Congressos de países do Mercosul.

O tratado estabelece ainda algumas regras que devem ser seguidas por todos os países integrantes dos dois blocos, como a permanência e o cumprimento do Acordo de Paris sobre o clima, a conservação de florestas, o respeito a direitos trabalhistas e a cooperação em áreas como direitos humanos, incluindo direitos dos povos indígenas e a migração --mas, nesse caso, o trânsito de pessoas não é entra no tema.

O Mercosul (Mercado Comum do Sul) não estabelece somente uma TEC (Tarifa Externa Comum) --ele também prevê, assim como dentro da UE, a livre circulação entre os cidadãos de seus países. O bloco sul-americano, aliás, foi criado com base na UE, contando inclusive com a consultoria de europeus. Mas, mesmo com o acordo fechado entre os dois blocos, nada muda em relação ao trânsito de pessoas.

*Com reportagem de Talita Marchao, do UOL em São Paulo