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Após ataque dos EUA, Irã anuncia que vai enriquecer urânio sem restrições

23.dez.2019 - Reator nuclear em Arak, no Irã - Divulgação/Organização de Energia Atômica do Irã/AFP
23.dez.2019 - Reator nuclear em Arak, no Irã Imagem: Divulgação/Organização de Energia Atômica do Irã/AFP

Do UOL, em São Paulo

05/01/2020 15h39Atualizada em 05/01/2020 17h31

Resumo da notícia

  • O anúncio do Irã vem três dias depois do ataque americano que matou o general Qassem Suleimani
  • O enriquecimento de urânio sem limitações permite, em tese, a construção de armas nucleares
  • O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear tem fins pacíficos
  • O anúncio de hoje confirma a total retirada do Irã do acordo nuclear que foi assinado em 2015 com outros 6 países, incluindo os EUA
  • A saída do Irã foi gradativa e começou depois que Trump decidiu tirar os EUA do acordo, de forma unilateral, em maio de 2018
  • Pelo acordo, o Irã limitaria o enriquecimento de urânio em troca da suspensão de sanções econômicas internacionais contra o país

O Irã anunciou neste domingo (5) que deu fim às restrições ao desenvolvimento de seu programa nuclear, o que inclui a retomada ilimitada do enriquecimento de urânio. A informação foi divulgada pela agência de notícias Irna, ligada ao governo iraniano.

O urânio enriquecido pode ser usado para a fabricação de armas nucleares. O Irã é signatário do TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares), e costuma defender que seu programa nuclear tem fins pacíficos, como a geração de energia.

A medida foi anunciada três dias depois do ataque dos EUA que matou o general iraniano Qassim Suleimani no aeroporto de Bagdá, capital do Iraque. Suleimani era um dos nomes de mais alto escalão nas Forças Armadas iranianas. Milhares de pessoas participaram de seu funeral neste fim de semana.

"Necessidades técnicas"

Em comunicado, o governo iraniano afirmou que seu programa nuclear não enfrenta mais "qualquer restrição operacional", o que inclui a capacidade de enriquecimento de urânio. A decisão foi justificada com base em "necessidades técnicas" não especificadas.

O país condicionou o que chamou de "retorno às suas obrigações" à suspensão das sanções internacionais à economia iraniana, várias delas relacionadas ao programa nuclear e lideradas pelos EUA.

Ao mesmo tempo, o Irã também disse que vai continuar com sua cooperação com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), entidade vinculada à ONU e que monitora o uso de energia nuclear no mundo.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, afirmou que a saída do Irã do acordo nuclear é "reversível com a implementação efetiva das obrigações recíprocas".

Acordo rompido

O anúncio feito hoje pelo Irã marca o passo final do rompimento do acordo feito em 2015 com EUA, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha. O pacto previa que o Estado iraniano limitaria seu programa nuclear, o que incluía limites ao enriquecimento de urânio para fins nucleares, enquanto a comunidade internacional aliviaria as sanções econômicas impostas à república islâmica.

No entanto, em maio de 2018, o presidente americano, Donald Trump, decidiu romper o acordo e passou a impor uma série de sanções ao Irã. Trump justificou a saída dos EUA dizendo que o Irã era um Estado patrocinador do terrorismo e que, apesar do acordo, estaria perto de conseguir construir armas nucleares.

Com a decisão americana e sem ter as sanções aliviadas, o governo iraniano foi gradativamente abandonando o pacto, o que terminou de acontecer hoje.

Um dia antes do ataque dos EUA que matou Suleimani, o presidente do Irã, Hassan Rohani, disse que o país estava disposto a retomar o acordo desde que os americanos fizessem o mesmo.

"Eles [os americanos] precisam voltar aos compromissos que desrespeitaram e admitir seus erros", disse Rohani em declarações divulgadas pela imprensa iraniana e por agências internacionais.