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Promotoria denuncia Macri e ex-ministros por suposto contrabando de armas

Macri, ex-presidente argentino, é suspeito de enviar armas à Bolívia - Imagem: Carl de Souza/AFP
Macri, ex-presidente argentino, é suspeito de enviar armas à Bolívia Imagem: Imagem: Carl de Souza/AFP

Colaboração para o UOL*

16/07/2021 14h16Atualizada em 16/07/2021 18h18

O promotor Claudio Navas Rial denunciou hoje Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina, e dois ex-ministros do seu governo em um esquema de contrabando de armas para a Bolívia, em novembro de 2019. Ele também confirmou a abertura de uma investigação para apurar os fatos.

O processo dá continuidade a uma denúncia apresentada pelo próprio governo da Argentina no começo da semana. Macri, ministros e funcionários teriam enviado armas ao país para consolidar a queda do ex-presidente Evo Morales, que renunciou ao poder em novembro de 2019.

O nome de Maurício Macri, junto com os dos ex-ministros Patricia Bullrich, da Segurança, e de Oscar Aguad, da Defesa, foram listados como réus no caso. Além deles, lideranças Gendarmería, principal força de segurança argentina, também foram citadas. Foram incluídos o ex-diretor Gerardo José Otero, o ex-diretor de logística Rubén Carlos Yavorski e o ex-diretor de operações da força Carlos Miguel Recalde. O promotor também adicionou o nome de Normando Álvarez García, ex-embaixador da Argentina na Bolívia. A informação foi obtida e divulgada pelo jornal argentino La Nación.

A denúncia foi baseada em uma carta, divulgada pelo Itamaraty boliviano, em que Jorge Terceros Lara, ex-chefe da Força Aérea Boliviana, agradece a Álvarez García, embaixador argentino na época, pela "colaboração". A carta foi enviada no dia 13 de novembro de 2019, três dias após a renúncia de Evo Morales, ex-presidente da Bolívia. Além do agradecimento, o ex-chefe comunica o recebimento de uma série de itens detalhada como "Material de guerra." Terceros Lara negou a autenticidade da carta e Álvarez García disse que não tinha lido.

A informação confirmada pelo governo atual e pelo anterior é que um grupo de policiais foi enviado à Polícia, por ordem da Ministra da Segurança, para vigiar a embaixada. Eles deixaram o país no mesmo dia em que Jeanine Áñez assumiu o cargo de presidente interinamente, após a renúncia de Evo Morales. Inicialmente, as forças levariam 3600 balas de borracha, mas um novo pedido, feito à agência de materiais controlados, estendeu o pedido de 70 mil balas. O chanceler boliviano, Rogelio Mayta, denunciou o envio de munições e também de gás lacrimogêneo para repressão de protestos dos partidários de Morales.

As munições não voltaram ao país e, em 2020, a Gendarmería informou ao governo de Fernández que elas haviam sido gastas na Bolívia. Algo que seria impossível, segundo o Poder Executivo. O Governo incluiu na denúncia que as balas foram enviadas com o conhecimento de Macri. Macri negou as acusações e sustentou que seu governo concedeu asilo na embaixada argentina em La Paz a funcionários do governo de Morales. "Quero negar categoricamente a veracidade dessas acusações", disse Macri em uma carta pública. Nesta semana, a Polícia Boliviana informou encontrar parte das munições em um depósito da força.

Evo Morales renunciou ao cargo de presidente da Bolívia em novembro de 2019. Nas eleições presidenciais, realizadas em outubro do mesmo ano, o sistema de contagem de votos foi interrompido quando indicava um segundo turno. O sistema foi retomado cerca de 24 horas depois, indicando a vitória de Morales. A situação desencadeou uma série de protestos de apoiadores do governo e da oposição.

Morales acatou uma "sugestão" feita pelo Exército para que renunciasse. Jeanine Áñez, senadora da oposição, declarou-se presidente interina. Na ocasião, Macri afirmou não ver elementos para definir os acontecimentos como um golpe de Estado. O argumento foi que as Forças Armadas não assumiram o poder. Já Alberto Fernández, o presidente argentino eleito, pediu a Macri que condenasse o golpe e que oferecesse abrigo para aqueles que fossem perseguidos. Ao sair da Bolívia, Evo Morales foi para o México.

A denúncia desta sexta-feira (16) pede relatórios dos governos da Argentina e da Bolívia. O Poder Executivo tinha solicitado também um relatório das chamadas entre o ex-presidente e os envolvidos, para uma análise das comunicações. No entanto, o relatório não foi incluído na denúncia, que será analisada pelo juiz Javier López Biscayart.

A promotoria também deixou de fora da denúncia as acusações de desvio de dinheiro público, abusou de autoridade e crimes que comprometem a paz e a dignidade da Nação. Da mesma fora, os nomes de Jorge Faurie, ex-chanceler, de Diego Dávila, ex-diretor da Alfândega e do ex-direto da Agência Nacional de Materiais Controlados, Eugenio Cozzi não foram denunciados.

* Com informações da AFP