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EUA devem investir mais de US$ 12 bi para promover equidade de gêneros

11.set.2019 - Joe Biden e Kamala Harris durante debate presidencial dos democratas em Houston, Texas - Getty Images
11.set.2019 - Joe Biden e Kamala Harris durante debate presidencial dos democratas em Houston, Texas Imagem: Getty Images

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/10/2021 17h20

O presidente norte-americano, Joe Biden, divulgou hoje um plano de 42 páginas para promover a igualdade de gênero dentro e fora dos EUA. O plano propõe o fortalecimento as leis que proíbem a discriminação salarial com base em gênero e raça. Mais de US$ 12 bilhões deverão ser investidos na execução do plano, segundo o governo.

"Esperamos formar parcerias com o Congresso, governos locais, estaduais, tribais e territoriais, sociedade civil, setor privado, governos estrangeiros e instituições multilaterais para impulsionar o progresso em direção a esses objetivos. Ao fazer isso, promoveremos o crescimento econômico, a saúde e a segurança e a segurança no mundo", disse a Casa Branca em comunicado. Esse é a primeira vez que o governo dos EUA lança uma estratégia desse tipo. Leia a íntegra (em inglês).

Com o plano, o governo afirma buscar prevenir e combater à violência contra a mulher. A administração norte-americana disse também que espera expandir o acesso aos cuidados de saúde feminina com base no Affordable Care Act (lei que controla os preços dos planos de saúde e expande seguros para uma maior parcela da população) e defendendo a Roe v. Wade ( que trata do direito a abortar ou interromper a gravidez).

"Após o pior colapso econômico desde a Grande Depressão, a participação das mulheres na força de trabalho americana despencou para seu nível mais baixo em mais de 30 anos por causa da pandemia. As taxas de violência de gênero aumentaram significativamente, e a desigualdade racial e étnica aumentou aprofundou ", disseram Biden e a vice-presidente Harris, em nota.

Segundo o governo dos EUA, fechar as lacunas de gênero na força de trabalho acrescentaria de US$ 12 trilhões a US$ 28 trilhões ao PIB global ao longo de uma década e abordar os efeitos econômicos de gênero da pandemia Covid-19 geraria até US$ 13 trilhões no PIB global em 2030.

Trabalho e violência doméstica no Brasil

O fim da violência contra mulheres pouparia, em 10 anos, mais de R$ 214 bilhões no PIB brasileiro —valor equivalente a uma década do programa Bolsa Família. Ao mesmo tempo, possibilitaria a criação de mais de 2 milhões de empregos no país e acréscimo superior a R$ 97 bilhões na massa salarial e R$ 16,4 bilhões na arrecadação do governo.

Essas são conclusões da pesquisa "Impactos Econômicos da Violência contra a Mulher", feita pela Gerência de Economia e Finanças Empresariais da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). Segundo os cálculos da entidade, num cenário mais extremo, de aumento da violência contra a mulher, o impacto no PIB chegaria a R$ 301,2 bilhões, com perda de 2,8 milhões de empregos.

Os pesquisadores afirmam que a violência contra a mulher provoca o fechamento de 1,96 milhão de postos de trabalho no Brasil, o que responde por uma massa salarial de R$ 91,44 bilhões e de arrecadação de R$ 16,44 bilhões em tributos em 10 anos.

Segundo a entidade, as mulheres vítimas de violência faltam, em média, 18 dias de trabalho por ano, o que implica uma perda de massa salarial de R$ 974,8 milhões.

Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais integravam a força de trabalho no país em 2019. A força de trabalho é composta por todas as pessoas que estão empregadas ou procurando emprego. Os dados constam da segunda edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, que traz informações variadas sobre as condições de vida das brasileiras em 2019.

Segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, os canais Disque 100 e Ligue 180, do Governo Federal, registraram 105.821 denúncias de violência contra mulher só em 2020. O dado corresponde a cerca de 12 denúncias por hora. Desse total, 72% (75.894 denúncias) se referem à violência doméstica e familiar contra a mulher, incluindo ação ou omissão que causem morte, lesão, sofrimento físico, abuso sexual ou psicológico.

A maioria das vítimas se declara pardas e têm idades de 35 a 39 anos. Em relação aos suspeitos, o perfil mais comum é de homens brancos com idade entre 35 e 39 anos. O preenchimento desses dados não é obrigatório durante a realização da denúncia. Dessa forma, o perfil médio das vítimas considera apenas aqueles itens em que as denúncias tiveram essas informações prestadas.

Violência doméstica no mundo

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, foram registradas mais de 750 ocorrências de violência doméstica contra mulheres brasileiras no exterior, em diversos países, durante a pandemia. Os dados são preliminares. A pasta espera obter um panorama mais completo sobre a violência contra as mulheres nos próximos meses. "A intenção é que o levantamento passe a ser feito em bases regulares, possibilitando a criação de série histórica sobre os casos registrados no exterior", informou o ministério em nota.

Ao longo da vida, uma em cada três mulheres no mundo vivencia a violência nas mãos de um parceiro íntimo. Esse número é o resultado de pesquisas realizadas pela entidade Mulheres da ONU. De acordo com a nota, o problema atinge uma em cada quatro mulheres entre 14 e 25 anos ao redor do globo. Segundo a entidade, 9, 23% das mulheres brasileiras entre 15 e 49 já sofreram violência doméstica (o que inclui agressões físicas ou sexuais) de seus parceiros em algum ponto de sua vida.

Na Melanésia, o número chegava até a uma em cada duas mulheres. As taxas mais altas de abuso físico por um parceiro foram registradas na Oceania, seguida pelo Sul da Ásia e África. Os países menos desenvolvidos combinados pontuam um pouco acima da média, 39%, no entanto.

De acordo com a ONU, a violência conjugal afeta 641 milhões de mulheres em todo o mundo, tornando-se o tipo de violência mais comum que afeta as mulheres. Apenas 6% das mulheres em todo o mundo relatam ter sido abusadas sexualmente por alguém que não seja seu parceiro. Embora apenas 20 por cento das vítimas de assassinato no mundo sejam mulheres, a maioria delas é morta por um parceiro, ex-parceiro ou membro da família.

Um outro relatório da ONU mostra que, todos os dias, 137 mulheres em todo o mundo são mortas por seus parceiros atuais ou anteriores ou por um membro da família - 64% de todas as vítimas mortas por parceiros ou familiares em todo o mundo são mulheres. As mulheres também representam 82% das vítimas mortas por seus parceiros ou ex-parceiros, como mostram os dados de um relatório recente da ONU sobre o feminicídio.