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Vídeo mostra ataque de drone dos EUA que deixou 10 mortos no Afeganistão

Imagem mostra ataque com drone feito pelos EUA em Cabul em agosto de 2020 - Reprodução/US Central Command
Imagem mostra ataque com drone feito pelos EUA em Cabul em agosto de 2020 Imagem: Reprodução/US Central Command

Do UOL*, em São Paulo

20/01/2022 10h20Atualizada em 20/01/2022 10h22

Um vídeo obtido pelo jornal New York Times mostra como ocorreu o ataque de drone dos Estados Unidos na ação que deixou 10 mortos — 7 deles eram crianças — em Cabul, no Afeganistão, em 29 de agosto.

A divulgação dos vídeos foi realizada pelo jornal após liberação do acesso por meio da Lei de Liberdade de Informação no país, semelhante à nossa Lei de Acesso à Informação. Os vídeos têm aproximadamente 25 minutos de duração, sem som, e mostram dois drones antes, durante e depois do ataque.

A imagem estava embaçada, provavelmente captada por uma câmera de detecção de calor. Para o jornal, fica claro que o responsável pelo ataque interpretou mal o que acontecia naquele momento.

Naquela semana, as tropas americanas estavam sob pressão em meio ao caos da saída de soldados e civis do país após o Talibã retomar o poder. Os EUA estariam monitorando um integrante do Estado Islâmico Khorasan (Isis-K), braço do grupo que age no Afeganistão e no Paquistão, que poderia detonar uma bomba nos arredores do aeroporto de Cabul —três dias antes, um homem-bomba matou ao menos 182 pessoas no local.

Pouco menos de um mês depois, o general chege do Comando Central dos Estados Unidos, Kenneth McKenzie, admitiu que o ataque foi um erro.

"O ataque foi um erro trágico", disse McKenzie a jornalistas após uma investigação.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, ofereceu suas "desculpas" aos familiares das vítimas do ataque.

"Ofereço minhas profundas condolências aos familiares dos falecidos", declarou Austin em um comunicado. "Pedimos desculpas e vamos nos esforçar para aprender com este erro horrível".

McKenzie disse, à época, que o governo estudava como indenizar as famílias dos mortos.

Um Toyota branco

O general afirmou que em 20 de agosto, as forças americanas rastrearam um Toyota branco durante oito horas após vê-lo em uma área de Cabul, onde os serviços de Inteligência acreditavam que o EI estava preparando ataques ao aeroporto.

"Selecionamos este carro com base em sua circulação em uma área conhecida de interesse para nós", disse McKenzie. "Está claro que nossa Inteligência se enganou com este Toyota branco em particular".

O ataque com drones matou dez pessoas, entre elas sete crianças, segundo McKenzie. Nenhuma delas estava vinculada com o EI.

McKenzie descreveu a operação como um "bombardeio em autodefesa" em meio à preocupação com um ataque ao aeroporto nos últimos dias da caótica retirada.

Em 26 de agosto, um terrorista suicida do EI matou dezenas de pessoas no aeroporto, incluindo 13 militares americanos.

Grandes multidões se concentravam ali clamando para entrar e embarcar em um dos últimos voos de evacuação do país.

"Havia mais de 60 vetores de ameaça claros com os quais estávamos lidando naquele momento", disse McKenzie.

As autoridades americanas acreditavam que o carro tinha sido carregado com explosivos. O jornal The New York Times noticiou que estava cheio de recipientes com água.

McKenzie disse que nenhum civil foi visto na área no momento em que o ataque foi autorizado.

'Completamente inofensivas'

Um dos mortos foi Ezmarai Ahmadi, um afegão que trabalhava para um grupo de assistência americano.

"Agora sabemos que não havia nenhuma conexão entre o senhor Ahmadi e o Estado Islâmico da Província do Khorosan", disse Austin.

Ele disse que as atividades de Ahmadi naquele dia eram "completamente inofensivas" e que o homem foi "uma vítima tão inocente quanto foram os outros assassinados tragicamente".

O irmão de Ahmadi, Aimal, disse à AFP que o veículo estava cheio de crianças que brincavam fazendo de conta que manobrar no estacionamento era uma aventura.

"O foguete chegou e atingiu o carro cheio de crianças dentro da nossa casa", disse. "Matou a todos".

"Meu irmão e seus quatro filhos morreram. Eu perdi minha filha caçula... Sobrinhos e sobrinhas", disse, inconsolável.

A AFP não pôde verificar de forma independente o relato de Aimal.

"Em nome dos homens e mulheres do Departamento da Defesa, ofereço minhas mais profundas condolências aos familiares sobreviventes dos assassinatos, inclusive ao senhor Ahmadi, e ao pessoal da Nutrition and Education International, empregadora do senhor Ahmadi", disse Austin.

Mais de 71.000 civis afegãos e paquistaneses morreram diretamente por causa da guerra lançada pelos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001, e as baixas aumentaram drasticamente depois que em 2017 o então presidente, Donald Trump, flexibilizou as regras de combate, segundo um estudo da Brown University, realizado em abril.

*Com AFP