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Na Itália, médico ex-líder antivacina se diz arrependido: 'Vi a realidade'

Em entrevista, Bacco disse que muitos são antivacinas pensando em vantagens econômicas - Reprodução/RAI
Em entrevista, Bacco disse que muitos são antivacinas pensando em vantagens econômicas Imagem: Reprodução/RAI

Do UOL, em São Paulo

14/02/2022 10h06Atualizada em 14/02/2022 10h51

Durante a pandemia, o médico italiano Pasquale Bacco se notabilizou como um líder de movimentos antivacina. Porém, o posicionamento dele mudou após saber que um homem de 29 anos que o seguia — e não havia se vacinado — morreu de covid-19.

"Ele tinha no celular os vídeos dos meus comícios", disse Bacco na última quinta-feira (10) ao jornal italiano Corriere della Sera. "Essa morte parece minha culpa. E isso ainda me incomoda", completou.

Quando vi a realidade com meus próprios olhos, percebi que estava errado. Pasquale Bacco, médico ex-líder antivacina, em entrevista ao Corriere della Sera

Ao jornal, Bacco disse que se tornou um líder antivacina após notar que o que tinha a dizer era "ouro puro para pessoas com medo e em busca de certezas", mas que, hoje, vê que o que ele dizia contra os imunizantes era algo que nem ele mesmo acreditava.

"Fomos às praças (em protestos antivacinas) e, quando discursávamos, sabíamos que as pessoas queriam ouvir coisas fortes. Então, provocávamos mais e mais", relatou.

"'Há água de esgoto nas vacinas! Os caixões de Bergamo estavam todos vazios! Ninguém morreu de covid!'", afirmou, relembrando bordões que repetia aos seguidores. "Um dia seremos responsáveis por essas coisas", lamentou.

"Você entra em uma absoluta loucura. As pessoas antivacinas têm muito medo e encontram segurança em você", disse ele, confessando que, por causa dos posicionamentos, conseguiu aumentar a base de clientes que tinha enquanto médico.

"Os clientes se multiplicaram por mil. Para uma visita, eu poderia cobrar qualquer quantia", relatou. "Ser antivacina pode ser um negócio, e a ocasião faz o ladrão", afirmou, dizendo que outras pessoas também são antivacinas impulsionadas por fins econômicos.

Agora já vacinado contra a covid-19, Bacco afirmou ao Corriere della Sera que quer ir além, defendendo enfaticamente a vacinação contra a covid-19 como forma de "remediar" os próprios erros.

"Eu tento fazer as pessoas abrirem os olhos", disse, acrescentando que, atualmente, está suspenso por seis meses do quadro de membros da entidade que regulamenta a profissão médica na Itália. "Mas não recorri, porque sinto que errei e aceito isso", pontuou.

Efeitos da vacinação

59,9% da população italiana já tomou a dose de reforço da vacina contra a covid-19, segundo dados atualizados ontem pelo painel britânico Our World in Data — no Brasil, o índice é de 26,1%.

Em 2022, a média móvel de casos de covid-19 na Itália alcançou a marca de 181,8 mil infecções em 14 de janeiro, um número 419% maior do que o pico de diagnósticos que se tinha até o passado passado, de 35 mil (16 de novembro de 2020).

O aumento foi impulsionado pela variante ômicron, mais transmissível. Porém, em 16 de novembro de 2020, a média móvel de mortes pela covid-19 era de 569 registros. Já em 14 de janeiro deste ano, o número registrado pelo Our World in Data foi de 264 mortes.

Também de acordo com o painel, em 16 de novembro de 2020, havia 3,5 mil pacientes com covid-19 internados em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na Itália. Já em 14 de janeiro de 2022, este número era de 1,7 mil.

Os dados vão no sentido do que apontam médicos, pesquisadores e entidades: a vacinação em massa é a medida mais eficaz contra a covid-19, protegendo, especialmente, contra a evolução da doença para quadros graves, como internação e morte pelo vírus.

No Brasil, dados dispersos têm mostrado uma prevalência maior de internações e mortes entre pessoas não vacinadas ou com imunização incompleta contra a covid-19.

Na semana passada, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência para casos graves da doença em São Paulo, disse que não vacinados ou pessoas com imunização incompleta representavam 83% das mortes por covid-19 nos últimos três meses na unidade.

E no município do Rio de Janeiro, em 27 de janeiro deste ano, 46% dos internados em leitos destinados a pacientes com covid-19 não haviam tomado nenhuma dose da vacina contra o novo coronavírus.

Já quem havia tomado ao menos uma dose da vacina, mas não completado o esquema — composto pelas duas aplicações inicias e a dose de reforço —, representava 42% dos internados — ou seja: somando os dois grupos, chegava-se a um índice de 88%.

Naquela altura, 87,7% da população do Rio já havia tomado ao menos uma dose da vacina contra a covid-19, segundo dados da prefeitura — ou seja: mesmo sendo minoria na população, não vacinados representavam quase metade dos internados.