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Há chance de a extrema-direita ganhar na França com Le Pen no 2º turno?

Foto, com base nos cartazes de Emmanuel Macron e Marine Le Pen, mostra os dois candidatos a presidente da França - 6.abr.2022 - Nicolas Tucat/AFP
Foto, com base nos cartazes de Emmanuel Macron e Marine Le Pen, mostra os dois candidatos a presidente da França Imagem: 6.abr.2022 - Nicolas Tucat/AFP

Do UOL, em São Paulo

11/04/2022 10h30

O segundo turno das eleições presidenciais francesas promete ser muito acirrado, em 24 de abril. Será uma disputa entre o liberal econômico pró-Europa Emmanuel Macron, atual presidente, e a nacionalista de extrema-direita Marine Le Pen, uma das vozes mais conhecidas do ultraconservadorismo.

Com resultados parciais mostrando Macron em primeiro lugar, seguido de Le Pen, outros importantes candidatos admitiram a derrota. E, com exceção de outro candidato de extrema-direita, Éric Zemmour, todos pediram aos eleitores que barrem a extrema-direita no segundo turno.

Os partidos Socialista, Republicanos, Ecologistas, Comunistas já anunciaram apoio a Macron. Esses quatro representam cerca de 15% dos votos no primeiro turno, segundo estimativas. Zemmour obteve cerca de 7%.

A candidata conservadora Valérie Pécresse alertou para "consequências desastrosas" se Macron perder, enquanto a socialista Anne Hidalgo pediu aos apoiadores que votem nele "para que a França não caia no ódio".

Disputa acirrada

Depois de cinco anos no poder, Macron terá que lutar para reconquistar eleitores descontentes, enquanto Le Pen suavizou a própria imagem e tirou o foco do discurso intolerante.

O presidente não pode dar como certo que os eleitores vão se unir em torno de uma frente tradicional contra a extrema-direita na segunda maior economia da União Europeia.

Pesquisa do instituto Ifop (Institut français d'opinion publique) previu um segundo turno muito equilibrado, com 51% para Macron e 49% para Le Pen. A diferença é tão apertada que está dentro da margem de erro. Outras pesquisas mostraram uma margem um pouco maior a favor de Macron, com até 54%.

Em 2017, quando Macron venceu Le Pen com 66,1% dos votos.

Le Pen reduziu a liderança de 10 pontos de Macron nas últimas semanas graças a uma campanha focada em questões de custo de vida. Ela se apresenta como a única capaz de proteger os fracos e unir uma nação cansada de sua elite.

Jean-Luc Mélenchon, do partido de esquerda radical A França Insubmissa, conquistou 22% e quase passou para o segundo turno. Os votos que ele recebeu podem ser determinantes para a disputa.

O instituto Ifop indica que 44% dos eleitores de Mélénchon podem se abster de votar no segundo turno. Entre os que votariam, um terço optaria por Macron e 23% escolheria Le Pen.

Mudança no cenário político francês

O pleito marcou a derrocada dos partidos tradicionais, o conservador Os Republicanos e o Partido Socialista, que governaram alternativamente a França desde os anos 1980. Eles não alcançaram nem 5% dos votos.

"É o final de um ciclo político francês e o começo de uma nova era marcada pela disputa política entre o centro e a extrema-direita", analisa Gaspard Estrada, cientista político do Observatório de Política da América Latina e do Caribe do Instituto de Ciências Políticas da Paris (OPALC Sciences Po). "O que é novo é essa fragilidade do campo da esquerda, essa incapacidade de chegar ao segundo turno."

"As alianças serão o 'x' da questão", ressalta Estrada.

Após a divulgação dos primeiros resultados, Mélenchon disse que "não se deve dar um único voto a Le Pen!", mas não pediu abertamente votos para o presidente.

"Macron vai chegar ao segundo turno numa posição melhor do que estava há alguns dias. Mas claro que ele vai ter que falar para o eleitorado de esquerda se quiser obter a maioria política em quinze dias", diz o cientista político.

A votação, que aconteceu em meio à guerra da Ucrânia, teve uma baixa participação dos 48,7 milhões de eleitores, com 26% e 28,3% de abstenções —entre 4 e 6 pontos a menos do que em 2017 e perto do recorde de 2002 (28,4%).

Uma vitória de Le Pen seria um choque para o establishment semelhante à votação do Brexit no Reino Unido ou à chegada de Donald Trump na Casa Branca em 2017. Ela pode implicar uma mudança nas alianças internacionais.

Embora Le Pen tenha abandonado as ambições anteriores de um "Frexit" ou de tirar a França da moeda única da zona do euro, ela é eurocética e propõe abandonar o comando integrado da Otan, que determina a estratégia militar da Aliança,

A candidata do Agrupamento Nacional (RN, extrema-direita) pretende ainda frear a imigração, combater o islamismo e aumentar o poder aquisitivo com o objetivo de devolver aos franceses "seu dinheiro" e "seu país" —o que ela pretende fazer com a emissão de um empréstimo nacional e 68,3 bilhões de euros de receita.

No seu plano de governo, ela propõe, entre outras coisas, restabelecer o delito de permanência ilegal e obrigar os funcionários a denunciarem a presença de clandestinos, reservar as ajudas sociais aos franceses e proibir o uso de véu e "prática, a manifestação e a difusão pública" de "ideologias islamitas", desmontar os projetos de energia eólica e obrigar as cantinas e refeitórios a usarem 80% de produtos franceses. (Com agências internacionais)