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Construções de 1.400 anos são achadas sob cinzas e podem desvendar mistério

As escavações foram realizadas na Praça de Domiciano, próximo de Alta Ágora - OeAW-OeAI/Niki Gail
As escavações foram realizadas na Praça de Domiciano, próximo de Alta Ágora Imagem: OeAW-OeAI/Niki Gail

Mateus Omena

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/11/2022 04h00

Um grupo de arqueólogos descobriu um distrito de 1,4 mil anos debaixo de uma camada de cinzas, na antiga cidade de Éfesos, na Turquia. Acredita-se que essa parte de uma cidade foi destruída por um incêndio em 614 ou 615 d.C, mas o real motivo ainda é encarado como um mistério.

Os pesquisadores fazem parte da Academia Austríaca de Ciências, que anunciou a operação na sexta-feira (28). O distrito está localizado na Praça Domiciano, adjacente ao centro político da cidade romana, a Alta Ágora.

O objetivo das escavações é entender as mudanças de Éfeso entre o Império Romano e a Antiguidade Tardia.

Em um comunicado, a responsável pelo projeto desde 2009, Sabine Ladstätter, afirmou que os arqueólogos ficaram surpresos ao encontrar o velho complexo em bom estado de conservação. Essa condição ajuda a compreender "o tempo exato da destruição e as implicações para a história urbana que podem ser derivadas disso".

O local conta também com instalações comerciais e gastronômicas bizantinas, que abrangem uma área de cerca de 170 m². A equipe encontrou também pelo menos 700 moedas antigas, que indicam que a estrutura esteve em funcionamento até 614 ou 615 d.C.

De acordo com Sabine, o complexo também contava com salas com até 3,4 metros de altura. Entre elas, uma cozinha, uma despensa, uma taberna, uma loja de lembranças de peregrinos cristãos e uma oficina com um espaço de vendas. Neste ambiente, havia diversas peças de cerâmica, como taças com restos de mariscos ou ostras, além de ânforas recheadas com peixe salgado.

Os arqueólogos se surpreenderam também como as joias de ouro, caroços de pêssegos, amêndoas e azeitonas, mas também ervilhas e legumes carbonizados. Entre os acessórios, foram encontradas também 600 garrafas vendidas aos peregrinos cristãos e que podiam ser usadas no pescoço.

Pedaços de peças de cerâmica em Éfesos - OeAW-OeAI/Niki Gail - OeAW-OeAI/Niki Gail
Pedaços de peças de cerâmica em Éfesos
Imagem: OeAW-OeAI/Niki Gail

"Os achados arqueológicos nos mostram uma destruição por um incêndio maciço que deve ter sido repentino, dramático e importante", explicou Sabine Ladstätter. "Não será mais possível determinar o dia exato da destruição, mas a avaliação das frutas encontradas pelo menos esclarecerá a estação do ano."

Mistérios

A causa da destruição de Éfeso continua sendo um mistério. Os cientistas descartaram a possibilidade de um terremoto ter sido o responsável pela devastação, pois não foram detectados restos humanos, elevação dos pisos e qualquer alteração nas paredes. Contudo, foram encontradas diversas pontas de flechas e pontas de lança, que indicaram que houve um conflito militar no local.

"Embora até agora tenha sido possível observar a partir de evidências arqueológicas que a cidade se tornou menor aos trancos e barrancos no século 7 e o padrão de vida caiu significativamente, as razões para isso não eram claras", afirmou a chefe da expedição.

Sabine Ladstätter considera a hipótese de que a cidade de Éfeso esteja ligada às guerras sassânidas, envolvendo os antigos persas.

A teoria se sustenta na identificação de moedas do mesmo período das de Éfeso, desenterradas em Sardes, a cerca de 100 quilômetros, que comprovam a destruição da cidade turca. Esses objetos de valor apontam para as invasões no oeste da Ásia Menor realizadas pelos persas. No entanto, a ideia de que houve um confronto entre os dois povos ainda deixa dúvidas nos pesquisadores.