'Nunca fiz nada e fui espancado': esquadrão francês ganha fama de brutal
Os protestos contra a reforma da Previdência na França, que começaram em janeiro deste ano, estão ficando cada vez mais violentos. Por outro lado, a principal unidade policial francesa vem sendo acusada de incitar a radicalização dos jovens nas manifestações. É a Brav-M.
O que é a Brav-M?
Unidade é considerada a mais agressiva e violenta das forças de segurança francesas. Chamada de Brav-M, acrônimo de Brigada de Repressão de Ação Violenta Motorizada, a brigada policial francesa é acusada de usar violência extrema contra manifestantes.
"Me colocaram sob custódia policial, junto com uma pessoa cega que também tinha levado um soco. [Os policiais] prendem qualquer pessoa que esteja na frente deles", contou à RFI um jovem que participou dos protestos de ontem.
Tenho 18 anos, nunca fiz nada ilegal, e hoje fui espancado pela polícia na frente de minha namorada. Não tinha feito nada.
- Brigada foi criada em 2019, quando o cargo de secretário de Segurança Pública de Paris foi assumido por Didier Lallement.
- Lallemen é uma figura polêmica e foi diversas vezes acusado de repressão durante a crise dos coletes amarelos na França; ele foi deslocado em ao posto de secretário-geral do mar.
- Os policiais da Brav-M circulam em duplas em motocicletas, utilizando capacetes e levando menos armamentos.
- Sempre em pequenos comboios, eles são célebres por intervir em manifestações, são convocados em casos de violências urbanas, degradações ou ações de dispersão, mas apoiam também unidades policiais em dificuldade.
- Teoricamente, eles podem entrar em ação somente sob risco iminente e sob ordens.
- Desde o início da mobilização contra a reforma da Previdência, ao menos dois policiais da Brav-M estão sendo investigados.
Arquivo mostra ameaças e intimidações
Um arquivo de cerca de 20 minutos revelado pela plataforma independente Loopsider mostra membros da Brav-M ameaçando e intimidando sete jovens detidos durante um protesto no último 20 de março.
Além de humilhações e insultos racistas, barulhos de tapas também podem ser ouvidos. As gravações também motivaram dois jovens detidos a registrar um boletim de ocorrência contra a unidade por suas intervenções violentas.
"Você sabe que tem um cara feita para apanhar", diz um membro da Brav-M a um manifestante, apoiado por outros policiais.
Violência como estratégia
Para alguns manifestantes, a violência é o único jeito de ser ouvido pelo governo francês. "O 49-3 é violento, a falta de respeito pela democracia e para 90% dos trabalhadores é violenta, então temos que responder com a violência. Não é o ideal, mas é o único jeito de sermos ouvidos", disse à RFI um jovem que estava na mobilização, em referência ao artigo 49-3 da Constituição francesa, que permite que um projeto de lei seja imposto sem a votação dos deputados.
Também à agência de notícias, Mario, estudante de Direito na Universidade Sorbonne, em Paris, denuncia as acusações do governo.
"Há uma vontade do governo em sua comunicação política, de culpar certos grupos, especialmente a extrema-esquerda ou os black blocs. A primeira vontade é a de retirar a legitimidade do movimento social", disse.
O movimento social se ampliou porque vimos que o governo fazia uso de repressão. A violência dos manifestantes é totalmente legítima já que há um uso totalmente desproporcional da força de parte da polícia, eles usam literalmente armas de guerra.
Mario, estudante de Direito na Universidade Sorbonne
Petição para extinção
As agressões protagonizadas pela Brav-M viralizam nas redes sociais, gerando indignação e revolta na opinião púbica. Na plataforma disponibilizada pela Assembleia de Deputados da França para o registro de petições, um abaixo-assinado criado para a extinção do esquadrão no último 23 de março já reúne quase 150 mil assinaturas.
Para que seja debatida na Assembleia de Deputados, a petição precisa alcançar 500 mil assinaturas. O secretário de Segurança Pública, Laurent Nuñez, no entanto, descarta qualquer possibilidade de que a Brav-M seja extinta.
"Essa unidade nos é preciosa", afirmou, em entrevista à rádio France Inter na terça-feira (28). Ele afirma que os policiais do esquadrão acusados de agressão foram afastados e estão sendo investigados.
*Com informações da RFI
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