Imprensa internacional repercute indiciamento de Bolsonaro pela PF
Do UOL, em São Paulo
19/03/2024 14h23Atualizada em 19/03/2024 15h58
O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 16 pessoas por fraude em certificados de vacinação foi destaque na imprensa internacional. Veículos americanos, latino-americanos, europeus e asiáticos publicaram reportagens sobre as investigações da PF, que apontaram crime pelo uso indevido de documentação falsa.
Estados Unidos
The New York Times. "A Polícia Federal do Brasil recomendou que o ex-presidente Jair Bolsonaro seja acusado criminalmente por um esquema de falsificação de seu cartão de vacina contra a covid-19", escreve o jornal, acrescentando que a fraude foi, em partes, motivada por uma viagem de Bolsonaro aos EUA durante a pandemia. Se o MPF (Ministério Público Federal) der continuidade ao caso, "será a primeira vez que o ex-presidente enfrentará acusações criminais", completa.
The Washington Post. "Dias antes de Bolsonaro deixar o Palácio do Planalto em 2022, após perder para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva [PT] em uma eleição historicamente dividida, informações falsas foram inseridas no sistema do Ministério da Saúde para emitir cartões de vacina para Bolsonaro e sua filha, Laura", relata o jornal. "Se condenado pelos supostos crimes, Bolsonaro pode pegar anos de prisão".
Time. A revista americana reproduz trechos do relatório da PF, assinado por Fábio Alvarez Shor, que aponta que Bolsonaro e seus assessores fraudaram certificados de vacinação para "burlar" as restrições sanitárias vigentes à época. "Bolsonaro foi um dos poucos líderes mundiais que protestou contra a vacina, desrespeitando abertamente as restrições sanitárias e encorajando outros brasileiros a seguirem o seu exemplo", discorre a Time.
América Latina
Clarín. O jornal argentino cita uma "rede ilícita", da qual participaram militares, assessores, políticos e médicos, para falsificar certificados de vacinação e beneficiar o ex-presidente e "seu entorno mais próximo". "Agora, cabe ao MPF analisar as conclusões da Polícia e decidir se vai apresentar ou não uma denúncia formal contra Bolsonaro, que é investigado em outros processos — entre eles, pela tentativa de golpe de Estado depois das eleições de 2022".
La Tercera. O indiciamento acontece no momento em que as autoridades brasileiras "tomam medidas enérgicas contra Bolsonaro e seus aliados conservadores", publica o jornal chileno. A "avalanche" de casos "irrita seus correligionários, que ameaçam protestos em todo o país caso [o ex-presidente] seja preso", acrescenta, lembrando ainda as investigações sobre a trama para um golpe de Estado após a eleição de Lula em 2022.
Telesur. A emissora multiestatal com sede na Venezuela conta que, segundo as investigações, "um grupo próximo ao líder da extrema direita inseriu dados falsos de vacinação contra a covid-19" no sistema do Ministério da Saúde. "Emitiram ao menos sete certificados falsos, incluindo o de Bolsonaro, o de sua filha [Laura] e o de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. A suspeita é de que foram usados para a viagem de Bolsonaro aos EUA", informa.
Europa
El País. "Sobre a acusação por crimes que somam penas de 15 anos, Bolsonaro respondeu que não é nenhum segredo que ele nunca se vacinou. Mas não explicou por que ele constava no registro nacional como imunizado", diz o jornal espanhol, que também menciona as investigações sobre as articulações para um golpe de Estado e as joias sauditas. "O caso relacionado às vacinas é, por ora, o mais avançado", reforça.
The Guardian. O jornal britânico, por sua vez, cita as declarações contra políticas de isolamento e restrições à circulação, além da demora na comprar as primeiras vacinas contra a covid-19. "[Bolsonaro] Ignorou vários e-mails da farmacêutica Pfizer, que ofereceu ao Brasil dezenas de milhões de doses em 2020, e criticou abertamente os esforços do então governador de São Paulo, João Doria, para comprar vacinas da empresa chinesa Sinovac", relembra.
BBC News. A emissora britânica explica que os registros mostram que o ex-presidente tomou a vacina em 2021, em São Paulo, "mas uma investigação posterior descobriu que ele não estava na cidade" naquele dia. "Bolsonaro, um cético da covid-19 que jurou publicamente nunca tomar a vacina, negou ter conhecimento de adulteração no certificado", afirma a BBC, acrescentando que quase 700 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil, segundo balanço da Universidade Johns Hopkins, dos EUA.
China
CGTN. A TV estatal chinesa destaca que o indiciamento pela PF é o primeiro contra o "ex-presidente de extrema direita", que é alvo de "diversas acusações decorrentes de ações que tomou durante o seu mandato". O canal também menciona o posicionamento de Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro, que definiu o indiciamento como "absurdo" e "uma tentativa de anular o enorme capital político [do ex-presidente], que só cresceu".