Ex-marido de galerista assassinado no Rio é preso nos EUA
Do UOL, em São Paulo
21/03/2024 17h26
O ex-marido do galerista americano Brent Sikkema, assassinado em janeiro deste ano no Rio de Janeiro, foi preso nos Estados Unidos sob suspeita de fraude de passaporte.
O que aconteceu
Daniel García Carrera foi detido na noite de quarta-feira (20), em Nova York. Ele é suspeito de ser o mandante do assassinato do ex-marido, mas a prisão não tem relação com a morte de Sikkema.
Carrera teria feito uma declaração falsa ao solicitar um novo passaporte para o filho. A informação foi compartilhada pelo site norte-americano Artnet News.
O suspeito alegou que teria perdido o documento durante uma viagem à Europa. No entanto, os investigadores descobriram que o passaporte estava em posse do responsável pelo testamento de Brent Sikkema.
A defesa de Carrera alegou que ele não planejava viajar. Mas, para a promotoria, o homem poderia sair dos Estados Unidos. "Ele poderia fugir para Cuba, onde é nacional e possui várias propriedades. Queremos detenção", disseram os promotores no início da audiência.
O juiz estabeleceu uma fiança de US$ 1 milhão. A Justiça dos EUA também determinou ele fosse colocado em prisão domiciliar e entregasse todos os seus passaportes e os de seu filho ao tribunal.
O UOL entrou em contato com a defesa de Daniel Carrera nos EUA. O advogado Richard Levitt esclareceu que não irá comentar o caso.
O advogado do cubano Alejandro Triana Prevez, suspeito de matar o galerista, criticou a possível soltura de Carrera. "No Brasil, há um mandado de prisão preventiva contra Daniel, ordem essa emanada pelo juízo competente pelo caso. Bem como um alerta vermelho na Interpol, cuja finalidade seria evitar uma possível fuga de Daniel, o que seria possivelmente a causa da prisão do mesmo nos EUA. Afinal, quem sem o intuito de fugir frauda um passaporte?", disse Greg Andrade.
Se Daniel for posto em liberdade, seria um escárnio contra as autoridades brasileiras que, repetimos, decretou sua prisão. Qual o motivo do não cumprimento desse mandado? Negligência, erro? Daniel é apontado como mandante desse crime. Falsifica um passaporte e ainda pode sair pela porta da frente de uma delegacia e fica por isso mesmo?
Greg Andrade, advogado de Alejandro Triana Prevez
Galerista foi morto no Rio de Janeiro
Brent Sikkema foi morto com 18 facadas dentro da casa onde estava hospedado, no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, em janeiro. O cubano Alejandro Triana Prevez, de 30 anos, foi apontado como suspeito de ter cometido o assassinato.
Inicialmente, Prevez negou envolvimento e disse que sequer conhecia o galerista. Depois, mudou de versão, confessou o crime e apontou Daniel Sikkema, ex-marido da vítima, como o mandante. Alejandro disse à polícia que Daniel lhe prometeu 200 mil dólares (quase R$ 1 milhão, na cotação atual) para matar Brent.
No último dia 2, a Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou Daniel Sikkema como autor intelectual do assassinato. A Justiça autorizou a prisão preventiva dele, que hoje está nos Estados Unidos.
Defesa de ex-marido nega crime
A defesa de Daniel diz que as suspeitas de que ele teria sido o mandante do crime "não têm fundamentos legais". A defesa é feita pelo escritório Fabiana Marques Advocacia e Consultoria.
Sobre o mandado de prisão preventiva, a defesa afirmou que Daniel ainda não foi convocado para oferecer nenhum esclarecimento à Justiça ou prestar depoimento. "A ausência de tal convocação sublinha uma preocupante falta de procedimento padrão, considerando a gravidade das acusações veiculadas", afirmou o escritório.
A defesa alega que Daniel se prontificou a passar por um interrogatório por e-mail, e que não havia registro de contato direto entre o ex-marido do galerista e Alejandro Prevez, acusado de cometer o crime. Segundo a advogada Fabiana Marques, a estratégia do cubano em acusar Daniel de ser o mandante visa garantir uma "sentença mais branda".
É imperativo destacar que, apesar da proximidade e do relacionamento tanto profissional quanto pessoal entre Brent Sikkema e quem lhe tirou a vida, não há fundamentos legais que justifiquem as suspeitas lançadas sobre o Sr. Daniel. A conjectura de seu envolvimento nesse ato horrendo reflete, lamentavelmente, os preconceitos estruturais ainda persistentes em nossa sociedade, especialmente contra membros da comunidade LGBTQIA+. A natureza do crime, marcada por indícios de passionalidade, demanda uma investigação meticulosa e isenta, que considere todas as possíveis vertentes sem recorrer a estigmatizações prejudiciais.
Trecho da nota de defesa de Daniel García Carrera
Brent criticou ex-marido antes de ser morto
Brent disse que ex o impedia de conviver com o filho. Em mensagem a um amigo, o galerista explica que o tribunal dos EUA deu a custódia do filho ao cubano. As mensagens foram obtidas pelo Fantástico.
Ele afirmou concordar com a decisão judicial. Brent diz que não conseguiria dedicar tanto tempo ao filho, já que viajava o tempo todo e por ter 75 anos.
Brent acusou ex de impedir contato dele com o filho. Nas palavras do galerista, Daniel "fazia de tudo para impedir" o adolescente de vê-lo, mesmo com a decisão da justiça.
Uma reportagem da Folha mostrou que o galerista e o ex-marido, que ficaram juntos por 15 anos, passavam por uma separação conturbada, com brigas por divórcio milionário e pelo filho. Na mensagem, o norte-americano ainda citou que essa situação é "cara e uma loucura" e que Daniel estaria interessado no "controle total".