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'Adversário chave': por que o Estado Islâmico vê a Rússia como inimiga?

Ataque foi registrado na noite da sexta-feira em casa de shows no subúrbio da Rússia Imagem: Russian Investigative Committee/Handout via REUTERS

Colaboração para o UOL

27/03/2024 04h00

O Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque que deixou 137 mortos em uma casa de show na Rússia. Moscou e outras cidades russas já haviam sido alvos de ataques anteriores.

Por que o Estado Islâmico ataca a Rússia?

A Rússia é vista como potência contra os muçulmanos. Segundo especialistas, o Estado Islâmico estaria direcionando sua propaganda ao presidente russo, Vladimir Putin, nos últimos anos, devido ao que entendem como uma opressão dos muçulmanos feita pela Rússia.

Como o Estado Islâmico vê a política externa russa? Michael Kugelman, diretor do Instituto sobre sul da Ásia do Wilson Center, um grupo com sede em Washington, disse à Al Jazeera que a invasão soviética do Afeganistão, as ações russas na Chechênia, as relações de Moscou com os governos sírio e iraniano e, especialmente, as campanhas militares que a Rússia tem travado contra os combatentes do Estado Islâmico na Síria por meio dos mercenários do Grupo Wagner estão entre os motivos de a política externa russa ser uma bandeira vermelha para o grupo.

O Estado Islâmico em Khorasan (ou Isis-K, uma filial que opera na Ásia) também já atacou a embaixada russa em Cabul, capital do Afeganistão, em 2022. Depois disso, as agências de segurança russas intensificaram os seus esforços para reprimir os ecossistemas pró-Estado Islâmico —tanto na Rússia como em torno das suas fronteiras.

"Adversário-chave". Amira Jadoon, professora na Universidade Clemson, na Carolina do Sul, e coautora do livro "O Estado Islâmico no Afeganistão e no Paquistão: Alianças Estratégicas e Rivalidades", também afirmou à emissora catari que o "envolvimento da Rússia na luta global contra o Estado Islâmico e seus afiliados, especialmente através das suas operações militares na Síria e dos seus esforços para estabelecer ligações com os talibãs afegãos —rivais do Isis-K—, marca a Rússia como um adversário chave do Isis/Isis-K."

Com ataques, Estado Islâmico busca mais relevância no cenário global. "Ao dirigir sua agressão contra nações como o Irã e a Rússia, o Isis-K não só confronta 'pesos pesados', mas também sublinha a sua relevância política e alcance operacional no cenário global", continuou Jadoon.

Aproximação com o Talibã. Kugelman também destacou outro fator importante ao afirmar que o Talibã é um grande rival do Estado Islâmico, e este vê a Rússia como amiga do Talibã.

O que aconteceu

Crocus City Hall, uma casa de shows em região próxima a Moscou, foi atacada na última sexta-feira. Centenas de pessoas aguardavam uma apresentação do grupo Picnic quando o ataque começou. Os músicos da banda não ficaram feridos.

Além de terroristas camuflados disparando indiscriminadamente, também foram relatadas explosões, que deixaram o prédio em chamas. O telhado da casa de espetáculos desabou e parte da casa de shows ficou destruída.

Em vídeos publicados nas redes, as pessoas aparecem tentando fugir do prédio. Ao fundo, é possível ouvir barulho de disparos. Os relatos começaram a surgir por volta das 20h15 (horário local).

Vladimir Putin tentou ligar a Ucrânia ao ataque. Em pronunciamento feito na manhã do sábado, o presidente afirmou, sem provas, que presos pelo crime tentavam fugir para o país vizinho. Ele declarou o domingo (24) como dia de luto nacional e disse que todos os envolvidos no ato seriam presos.

O Estado Islâmico assumiu o ataque em canal de Telegram. "Os combatentes do Estado Islâmico atacaram uma grande concentração de cristãos na cidade de Krasnogorsk, nos arredores da capital russa, Moscou, matando e ferindo centenas e causando grande destruição ao local antes de se retirarem em segurança para as suas bases", diz o comunicado.

O número de mortos no ataque terrorista chegou a 137. A operação para resgate de corpos foi finalizada. As autoridades russas informaram que três crianças estão entre os mortos.

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