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'Chuva de laboratório' existe? Entenda teoria criada após dilúvio em Dubai

Voo de semeadura de nuvens operado pelo Centro Nacional de Meteorologia, nos Emirados Árabes Imagem: AMR ALFIKY/ REUTERS

Colaboração para o UOL*

19/04/2024 04h00

Uma tempestade recorde na última terça-feira fez cair a chuva estimada para um ano inteiro em um único dia em Dubai, nos Emirados Árabes. Enquanto especialistas culpam principalmente o aquecimento global por mais esse evento climático extremo, muito se especulou sobre um procedimento chamado "semeadura de nuvens", uma espécie de chuva criada em laboratório.

O que é a semeadura de nuvens?

O cloud seeding, ou semeadura de nuvens, consiste na geração artificial de chuvas a partir da manipulação de nuvens já existentes. O processo geralmente é implantado quando as condições de vento, umidade e poeira são insuficientes para causar a precipitação.

As nuvens são compostas por minúsculos cristais de gelo ou gotículas de água, e se formam quando o vapor da água esfria na atmosfera. A precipitação —a água que cai na superfície como chuva ou neve— acontece quando essas gotículas se condensam e se combinam com partículas de poeira, sal ou fumaça. Essa ligação cria uma gota ou floco de neve, composto por milhões dessas gotículas, que pode cair de uma nuvem.

Planejamento e precisão. Na prática da semeadura de nuvens, meteorologistas observam os padrões de precipitação nas nuvens e identificam quais delas podem ser adequadas para "semear". Por isso, pode-se afirmar que a chuva é "criada em laboratório".

Então, drones, pequenos aviões ou helicópteros voam entre as nuvens apontadas liberando partículas de agentes químicos, como o iodeto de prata, nelas. Com essa intervenção, o vapor de água pode se condensar mais facilmente e, então, se transformar em chuva.

A técnica existe há décadas, e os Emirados Árabes a utilizam para ajudar no clima desértico da região. Segundo a revista Time Out Dubai, o programa de semeadura de nuvens do país começou no final da década de 1990 e produz no mínimo 15% de chuva adicional a cada ano.

No entanto, ainda é difícil determinar o real impacto da semeadura de nuvens na precipitação. De acordo com a CNN, não existem muitos estudos controlados que realmente mostrem que foi o método que fez chover de maneira relevante.

Carros ficam presos em uma estrada inundada após uma tempestade atingir Dubai, em Dubai, Emirados Árabes Unidos, em 17 de abril de 2024 Imagem: Rula Rouhana/REUTERS

Processo artificial explica chuva incomum na região?

Ainda não há um consenso sobre isso. Segundo apuração da agência de notícias Associated Press, o recorde de chuva na região pode ter sido acentuado pela semeadura de nuvens, que teria sido realizada exatamente antes das tempestades. No entanto, de acordo com fontes ouvidas pelo The National News, dos Emirados Árabes, o processo artificial nunca teria resultado nas fortes chuvas que caíram em todo o país.

Um porta-voz do Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes reforçou que era impossível vincular as operações de semeadura de nuvens à tempestade. Segundo especialistas ouvidos pelo jornal árabe, está claro que, mesmo que o país não tivesse realizado essas intervenções, as chuvas extremas ainda teriam acontecido.

Especialistas dizem que focar na semeadura de nuvens é "enganoso", segundo a BBC. O método até pode ter tido um efeito, porém menor, sobre a tempestade.

Papel das mudanças climáticas. Ainda que seja difícil atribuir qualquer evento climático específico às alterações climáticas, o aumento das temperaturas globais está causando fenômenos meteorológicos mais extremos, incluindo a chuva intensa nos Emirados Árabes.

As chuvas estão se tornando muito mais fortes em todo o mundo à medida que o clima esquenta, porque uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade. "Primeiro, é preciso umidade. Sem ela, não haveria nuvens", explicou Friederike Otto, professora do Imperial College London, à agência de notícias Reuters.

Ao The New York Times, especialistas também disseram que o dilúvio foi provavelmente o resultado de um fenômeno climático regular sobrecarregado pelas mudanças climáticas. "É altamente provável que o aquecimento global tenha desempenhado um papel na intensidade do evento", disse Janette Lindesay, cientista da Universidade Nacional Australiana, à publicação norte-americana.

A principal razão das fortes chuvas teria sido um sistema de tempestades que passava pela Península Arábica e atravessava o Golfo de Omã. O sistema de baixa pressão interagiu com partes de uma corrente de jato, fortes ventos que se movem de oeste para leste sobre latitudes temperadas no Hemisfério Norte, produzindo chuvas, explicou Lindesay.

O que aconteceu

As chuvas paralisaram grande parte do país e causaram danos significativos. Foram as mais fortes registradas em 75 anos.

Chuvas são raras nos Emirados Árabes e em outros lugares da Península Arábica, que é normalmente conhecida por seu clima desértico e seco — com as temperaturas durante o verão podendo ultrapassar os 50ºC.

* Com Reuters

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