OPINIÃO
Fernandes: Macron faz aposta ousada, com risco enorme para França
Colaboração para o UOL, em São Paulo
10/06/2024 10h48
O presidente da França Emmanuel Macron tomou uma decisão surpreendente ao anunciar a dissolução do Parlamento e convocar novas eleições legislativas, o que pode trazer grande risco ao país, disse a colunista Daniela Fernandes ao UOL News desta segunda (10).
O anúncio veio após os resultados das eleições para o Parlamento europeu, marcadas pelo avanço da extrema direita na Alemanha, Holanda, Áustria, Itália e França.
Foi surpreendente e ninguém esperava que Macron anunciasse isso. Era um pedido do partido de [Marine] Le Pen [política da ultradireita francesa] para que houvesse novas eleições, mas Macron nunca havia considerado essa hipótese.
É uma aposta extremamente ousada do Macron. Em 2022, quando foi reeleito, ele perdeu a maioria absoluta. Hoje, já é difícil para ele negociar com o Parlamento. É um risco enorme para a França porque, pela primeira vez na história, há a possibilidade efetiva de haver um governo de extrema direita.
A possibilidade de um partido radical governar a França é algo inédito e ao mesmo tempo assustador. Daniela Fernandes, colunista do UOL
Daniela explicou como o Rassemblement National (Reunião Nacional), partido liderado por Le Pen, vem ganhando espaço no cenário político francês e europeu ao atrair votos de quem costumava apoiar a esquerda, como os operários. Para a colunista, Macron se arrisca demais ao esperar uma reação social diante do crescimento da extrema direita.
Desde 2011, quando assumiu a presidência do partido, Le Pen vem em uma estratégia de 'desdiabolização' e fazer com que ele se insira no rol de partidos republicanos. Isso está funcionando ao longo do tempo. A cada eleição, eles avançam, seja nas legislativas, seja nas presidenciais.
Esse discurso de normalização do partido está funcionando junto ao eleitorado francês porque adotaram uma estratégia de focar em questões econômicas, pegando boa parte do eleitorado que votava na esquerda.
Macron realmente surpreendeu. Ele espera que haja um sobressalto do eleitorado francês, mas é um salto no desconhecido. Daniela Fernandes, colunista do UOL
Tales: Ascensão de bolsonarismo tímido está por trás da fala de Tarcísio
Ao se dizer bolsonarista, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) tenta se distanciar da imagem de um tímido apoiador de Jair Bolsonaro, como é o caso do prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB), afirmou o colunista Tales Faria, também no UOL News desta segunda (10).
Recentemente, Tarcísio foi acusado de tentar boicotar Bolsonaro para se lançar como candidato em 2026. Em evento organizado pelo Esfera Brasil no Guarujá (SP), o governador disse que "é e continuará sendo bolsonarista".
O que está por trás dessa fala é a ascensão de um bolsonarismo envergonhado, representado por Tarcísio e Ricardo Nunes. Esse bolsonarismo envergonhado irrita muito não só o próprio Bolsonaro como os bolsonaristas 'raiz', como [o pastor] Silas Malafaia. Fica um racha interno dentro do bolsonarismo.
Nem eles sabem onde vão parar, porque parte dos envergonhados se bandeou para o Lula na eleição passada. Esses que ficaram com o Bolsonaro querem trazê-los de volta, mas é complicado. Tales Faria, colunista do UOL
Na visão de Tales, tanto Bolsonaro como seus apoiadores mais próximos veem que o legado político do ex-presidente não pode ficar nas mãos de alguém tido como moderado. Por isso, para o colunista, Tarcísio faz questão de reforçar sua ligação com Bolsonaro.
Bolsonaro e os bolsonaristas radicais não pretendem entregar o poder a um bolsonarista moderado. Ricardo Nunes já pode tirar seu cavalinho da chuva.
Pablo Marçal, posto como candidato {à Prefeitura de São Paulo], é um bolsonarista raiz no calcanhar do Nunes. Se ele continuar nessa toada, Bolsonaro muda [o apoio] para Marçal. Não tenham dúvida.
O Tarcísio também deve tomar cuidado, porque o Malafaia está apontando para ele, assim como outros bolsonaristas 'raiz' farão o mesmo. Tarcísio está sem saber como sair dessa encurralada em que está. Tales Faria, colunista do UOL
Josias: Governo deve explicações sobre fuga de condenados pelos atos de 8/1
O governo deve prestar uma série de explicações sobre a fuga dos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro para a Argentina, mesmo sob monitoramento de tornozeleiras eletrônicas, afirmou o colunista Josias de Souza no UOL News desta segunda-feira (10). Josias classificou a situação como um vexame.
Mais de 60 brasileiros pediram refúgio neste ano ao governo da Argentina. Os pedidos de refúgio foram feitos no mesmo período em que militantes bolsonaristas condenados ou réus pelos atos golpistas do 8 de janeiro fugiram do Brasil. As fugas foram reveladas pelo UOL em maio.
O governo Lula está obrigado a tomar duas providências. A primeira delas é recapturar os fugitivos e a segunda é fornecer um lote de explicações ao país sobre as circunstâncias que levaram a essa fuga.
Até agora o governo, a Polícia Federal, o próprio Supremo Tribunal Federal, ninguém disse nada sobre o que levou a essa fuga, porque pessoas que estavam monitoradas com tornozeleiras eletrônica conseguiram fugir. Então isso é um vexame, é um escárnio, é preciso esclarecer isso, é preciso dizer como foi, por que foi, quem são os responsáveis.
Josias destacou que o governo brasileiro precisa gerar constrangimento ao governo argentino. Questionada, a ministra argentina de Segurança afirmou que não tem informações sobre a entrada de brasileiros considerados foragidos.
A segunda coisa é submeter o governo argentino a algum tipo de constrangimento porque neste final de semana, a ministra da Segurança da Argentina, Patrícia Bullrich, que é uma das principais auxiliares do presidente Javier Milei, ela disse que não tem nem conhecimento da entrada de brasileiros que são considerados foragidos porque participaram desses ataques aos prédios dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023. Ela falou: 'Do nosso ponto de vista, não temos nem conhecimento'. Então há um certo desdém também desse tipo de declaração, porque ela poderia pelo menos dizer: 'Olha, já li a respeito, sei que há aqui um problema, mas nós precisamos ser provocados formalmente'. Ela diz: 'Não, não temos conhecimento'.
Josias lembrou que um tratado internacional feito ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, coloca a decisão sobre o futuro dos foragidos nas mãos do presidente argentino, Javier Milei.
O tratado de extradição assinado sob o Bolsonaro com a Argentina no primeiro mês da gestão do Bolsonaro em 2019 prevê uma desburocratização desse processo de extradição. Uma vez formulado o pedido, o governo da Argentina, assim também com o Brasil, se tiver algum foragido da Argentina aqui, precisa dar uma resposta em 45 dias prorrogáveis por mais 15 dias. Precisa devolver o fugitivo em 45 dias e admite essa prorrogação de 15 dias.
Há também uma janela aberta para que o Javier Milei, se quiser, negue o envio desses fujões de volta para o Brasil, porque está lá que ele pode. A concessão de refúgio é uma das pré-condições para negação do pedido de extradição. Então se ele quiser comprar essa briga com o Brasil, ele pode conceder refúgio a esses que já pediram. E a Polícia Federal imagina que há pelo menos 65 brasileiros lá. Pelo menos essa era a conta até o final da tarde de sexta-feira. O Milei pode, se quiser, comprar essa briga: 'Olha, tô dando refúgio aqui porque são prisioneiros ou condenados por razões políticas e eu vou mantê-los na Argentina'.
Josias avalia que uma crise diplomática será aberta se o presidente Argentina decidir conceder refúgio aos brasileiros condenados que fugiram do Brasil.
Isso abrirá uma crise diplomática de porte graúdo então é preciso que o governo brasileiro se apresse na formulação desses pedidos de extradição para submeter o governo do Milei a esse constrangimento: ou devolve os prisioneiros ou compra essa briga. Se comprar briga, aí o meu entendimento é de que o Palácio do Planalto precisa reagir de forma adequada. Deve ser uma reação enérgica, porque não é concebível que alguém que tentou dar o golpe de estado no Brasil receba refúgio na vizinha Argentina, isso seria um tapa na cara que mereceria uma resposta condizente com o gesto. Josias de Souza, colunista do UOL.
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