OPINIÃO
Reinaldo: Macron erra e superdimensiona desempenho da extrema direita na UE
Colaboração para o UOL
10/06/2024 16h27Atualizada em 10/06/2024 17h01
O colunista Reinaldo Azevedo afirmou no Olha Aqui! desta segunda (10) que o resultado das eleições ao Parlamento Europeu foi positivo, pois a ascensão da extrema direita não foi tão grande quanto se imaginava. E ela teria sido discreta não fosse a reação do presidente da França, Emmanuel Macron, que dissolveu o Parlamento francês e marcou novas eleições para o fim deste mês e início do próximo.
Primeiro que, houve, sim, uma grande surpresa, mas a surpresa foi positiva, se imaginava que fosse ser bem maior a presença da extrema direita. Houve um avanço, inclusive, da direita democrática. A extrema direita cresce um pouco, ela não cresce muito, vai ter ali em torno de 130 deputados, em 720. É maior do que já teve? É, mas se imaginava muito mais. A verdade é essa. Então, quando você pega ali o núcleo que governa a União Europeia, ou que comanda a União Europeia, o Partido Popular Europeu, da direita democrática, ele cresceu. Foi de 177 pra 189 cadeiras. Os socialistas e sociais democratas (...) de 139 pra 135 — não é uma perda importante. Aí sim, o Renovar Europa, que é o núcleo, aí essa queda se deve, principalmente, ao desempenho da França, de 102 para 82. Os verdes caíram um pouco. Mas, de qualquer modo, o núcleo dominante da União Europeia continua a ser o mesmo, se imaginava que a extrema direita fosse crescer muito mais. Em alguns países, ela encolheu. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Reinaldo lembrou que o Chega, de Portugal, que não tinha representação no Parlamento Europeu, elegeu dois deputados. Em Portugal, o partido teve 9,79% dos votos. Nas eleições nacionais portuguesas, eles conquistaram 18,6% do eleitorado.
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A extrema direita espanhola também não foi grande coisa. Mesmo quando se fala de Alemanha, a diferença entre extrema direita e quando você junta ali a direita democrática e social democracia, [a diferença] é gigantesca. Alternativa para Alemanha, sim, é um desempenho que eles nunca tiveram, mas é de 16,5%. Acontece que, como venceu, teve um percentual maior que a social democracia, que é do Olaf Scholz [primeiro-ministro alemão]. Então, fica parecendo um evento extraordinário, mas a direta democrática alemã teve quase 30% dos votos. Não foi assim um massacre da extrema direita, está longe disso, assim como eles estão longe de ter o controle do Parlamento Europeu. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Estão tratando como um terremoto, como se a extrema direita passasse a ter a maioria ou quase a maioria no Parlamento europeu, mas está muito longe disso. E eu não estou desprezando o evento, em absoluto, só estou dizendo que se imaginava e se apostava que fosse ser uma avalanche muito maior, que seria uma avalanche e avalanche não é. Teve ali um deslocamento de neve. Quem está encarecendo essa vitória e dando a ela uma proporção que ela não tem é o seu Emmanuel Macron. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Logo depois do resultado das legislativa europeias, Macron anunciou a dissolvição da Assembleia francesa.
É uma coisa absolutamente incompreensível, segundo um juízo racional. O que ele espera com isso? Não tenho ideia. O primeiro turno das eleições parlamentares — são eleições distritais, tem algumas regras ali que se não vence no distrito no 1º turno tem o 2º turno. O primeiro turno é 30 de junho, daqui a 20 dias; segundo turno 7 de julho. Ele marca eleição num momento em que a Reunião Nacional, que é o partido da extrema direita, Marine Le Pen, consegue, de fato, na França, um resultado muito importante, 31,5% dos votos. É bastante, principalmente quando compara com o Renascimento, o partido do Macron, 14,5%. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Para Reinaldo, a decisão do chefe de estado francês é uma grande incógnita.
Você não pode marcar eleição quando não é necessário, a não ser que seja obrigatório, num momento como esse. O que o Macron espera? Se ele acabar se dando bem — o que eu duvido —, vai ser um acontecimento político a ser explicado (...). Se os franceses repetirem o comportamento eleitoral que tiveram — embora sejam eleições diferentes — no Parlamento europeu, corre o risco de o Reunião Nacional reivindicar a formação do novo governo, reivindicar o primeiro-ministro. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
É uma aposta um pouco arriscada essa do Macron, um pouco incompreensível. Não sei se está jogando muito adiante. Eventualmente, a Reunião Nacional passa a ter primeiro-ministro, demonstra que é inviável e depois ele... não sei. Nas eleições presidenciais, o Reunião Nacional está mais fraco. Não sei qual foi a jogada do Macron. Eu ainda estou com a metáfora que os liberais franceses estão usando pra ele que foi 'botou fogo no circo', foi o 'Nero' do próprio circo. E aí, essa derrota dele na França contaminou um pouco o resultado como um todo, que não foi desastroso, mas muito longe de ser desastroso, embora a extrema direita tenha crescido. Mas, isso já se dava como certo, isso já se dava como fatal, se imaginava que fosse ser muito mais. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
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