Autogolpe e fuga: como foi governo de Fujimori, que quer concorrer de novo
O ex-ditador Alberto Fujimori governou o Peru com punho de ferro entre 1990 e 2000. Seu governo foi marcado por escândalos de corrupção e violações de direitos humanos. Fujimori aplicou um autogolpe em 1992 com apoio das Forças Armadas e saiu apenas em 2000 foragido para o Japão, após diversos escândalos que assolaram seu governo.
Agora, ele pretende concorrer à presidência do Peru em 2026, segundo anunciou sua filha Keiko no domingo (14).
O ex-presidente de 85 anos foi liberado da prisão em dezembro depois que um tribunal de apelação concedeu seu perdão. Ele foi condenado em 2009 por ordenar o massacre de 25 pessoas entre 1991 e 1992, enquanto o governo lutava contra o Sendero Luminoso.
O que veio antes
A chegada de Fujimori ao poder ocorreu em um contexto de instabilidade. Em 1990, haviam se passado dez anos da transição política entre a ditadura militar peruana e o governo democrático, e a sensação da população era de que os partidos haviam falhado.
A economia estava uma catástrofe. O governo da época, que tinha como presidente Alan García (Aliança Popular Revolucionária Americana - APRA) teve uma gestão marcada por hiperinflação. Havia também um cenário de violência provocado pelo grupo de guerrilha Sendero Luminoso.
Esse contexto resultou nas condições para o surgimento de candidatos que ofereciam esperança aos problemas enfrentados pelo país. A crise abriu espaço para o Câmbio 90, grupo que Fujimori usou para chegar ao poder. O grupo era heterogêneo e composto por pessoas sem experiência política e decepcionadas com as lideranças do país. Fujimori liderava o Câmbio 90, mas ele era um professor universitário desconhecido que rejeitava toda a elite nacional peruana.
Apesar do cenário desfavorável, Fujimori venceu as eleições de 1990 usando uma estratégia que rejeitava obrigações partidárias e apelava às classes baixas e aos eleitores independentes. Ele evitou definições ideológicas para não afastar eleitores e cultivou a imagem de líder incorruptível. Além disso, prometeu um plano de recuperação econômica que buscava contornar medidas mais duras.
No primeiro turno, Fujimori estava em segundo lugar, com 24,6% dos votos. Mas com a bem-sucedida campanha, ultrapassou o oponente ao conquistar 62,4% dos votos.
Autogolpe e privatização
Com apenas duas semanas no poder, o ex-ditador adotou um programa de estabilização econômica neoliberal, ortodoxo e ainda mais duro do que de seu oponente. Entre 1991 e 1995, se privatizou uma grande parte do setor público, proteções tarifárias foram eliminadas e o investimento estrangeiro recebeu prioridade.
Em 1992, Fujimori aplicou um autogolpe. Ele fechou o Congresso, suspendeu a Constituição e o poder judicial, militarizou os meios de comunicação e declarou estado de emergência. A manobra foi possível pelo cenário de descrença no regime democrático.
As eleições presidenciais de 1995 confirmaram o colapso do sistema de partidos. Todas as siglas que foram base do sistema político antes de 1990 perderam seu registro ao alcançar 5% da votação. Além disso, serviços de inteligência sabotaram de forma sistemática a campanha dos rivais de Fujimori. O resultado foi a vitória de Fujimori.
Embora não tenha mantido suas promessas de campanha, Fujimori se estabeleceu como liderança política. Isso porque obteve sucesso em deter a inflação e a guerrilha Sendero Luminoso.
Violações de direitos humanos foram perdoadas. A segunda parte de seu governo, que foi de 1995 a 2000, começou com a aprovação de uma lei de anistia que perdoava violações de direitos humanos nos últimos 15 anos.
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Quero receberApesar dos bons resultados iniciais no controle da inflação, o nível de subemprego no Peru era de 42,6% em 1997. Isso mostra que a melhora econômica deixou de alcançar quase metade da População Economicamente Ativa do Peru, segundo artigo da professora de ciência política da Universidade de Salamanca, Mercedes Garcia Montero.
Tortura e censura
Conforme documento da Anistia Internacional, durante o governo Fujimori as violações aos direitos humanos foram "generalizadas e sistemáticas". Segundo a organização, houve prática de tortura e maus-tratos, além de desaparecimentos e execuções extrajudiciais.
Com o controle da imprensa, o governo Fujimori censurava as notícias que eram desfavoráveis a si próprio. Pessoas ou instituições que faziam críticas ao regime sofriam campanhas sistemáticas de difamação.
O governo mantinha unidades militares clandestinas que se envolviam em assassinatos e desaparecimentos. Um dos mais notórios, o Grupo Colina, tinha como objetivo eliminar suspeitos de subversão. Esse grupo foi responsável por inúmeros assassinatos entre 1991 e 1992, segundo artigo da doutora em ciência política pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Jo-Marie Burt.
O Grupo Colina é autor do massacre de Barrios Altos. No episódio, homens armados invadiram um cortiço e mataram 15 pessoas, incluindo uma criança de 8 anos.
Queda de Fujimori
Em 1996, a maioria do parlamento aprovou uma lei que permitia a eleição de Fujimori para um terceiro mandato. Mais uma vez, a campanha do presidente foi marcada por abusos e arbitrariedades.
Os oponentes de Fujimori não tiveram visibilidade na imprensa, controlada pelo governo. Houve denúncias de falsificação de documentos para favorecer Fujimori, além de gastos indevidos do governo em sua campanha.
Mesmo tendo vencido as eleições, em 2000, Fujimori ficou apenas 117 dias no poder. Ele deixou a presidência após escândalos virem à tona.
Congressistas eleitos como oposição passaram a ser governistas por meio de subornos. Em 14 de setembro de 2000, um vídeo mostrava o assessor presidencial, Vladimiro Montesinos, comprando um dos congressistas. Isso somado à descoberta do tráfico de armas para as guerrilhas colombianas pelo mesmo assessor contribuíram para que Fujimori convocasse novas eleições.
Montesinos fugiu, bem como Fujimori. Em novembro, o presidente deixou o país e transmitiu sua renúncia por meio de um fax do Japão, onde também tinha nacionalidade. O Congresso, por sua vez, o declarou inapto para atuar como presidente.
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