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Sob desconfiança, órgão eleitoral anuncia reeleição de Maduro na Venezuela

Colunista do UOL, em Caracas, e do UOL, em São Paulo

29/07/2024 01h12Atualizada em 29/07/2024 14h29

Sob protestos e desconfiança da imprensa e da população, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) anunciou que o ditador Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela para mais seis anos de mandato. Ele governa o país vizinho há 11 anos, desde a morte de Hugo Chávez, em 2013.

O que aconteceu

Maduro foi proclamado presidente às 14h (horário de Brasília) desta segunda-feira (29), mesmo sem a divulgação das atas da eleição. O presidente agradeceu apoio dos eleitores. Ele fez um discurso após o CNE apresentar resultado.

Com 80% das urnas apuradas, Maduro obteve 5,150 milhões de votos (51,2%) contra 4,445 milhões (44,2%) do principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. Segundo o CNE, o resultado era irreversível com 80% das urnas apuradas. A vantagem de Maduro era então de cerca de 700 mil votos. O anúncio foi feito por volta da 1h desta segunda-feira (29), horário de Brasília e, desde então, nenhum outro boletim foi passado pelo órgão.

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Site do CNE está fora do ar, impedindo imprensa de acompanhar apuração em tempo real. Última postagem do órgão nas redes sociais trazia a informação com 80% das urnas apuradas.

Restando 20% das urnas a serem apuradas, nenhuma evidência garante a afirmação do CNE. Observadores internacionais demonstram preocupação com a transparência.

De 21 milhões de venezuelanos aptos a votar, 59% compareceram às urnas neste domingo (28), segundo o CNE. O voto é facultativo na Venezuela. Mais cedo, após o encerramento da votação, a oposição falou em votação massiva.

Houve atraso e intimidação em algumas cidades. Centros eleitorais chegaram a registrar atraso de uma hora para início da votação em Táchira, estado que faz fronteira com a Colômbia. Na região, também foram registradas intimidações de grupos de homens encapuzados que realizaram disparos para o alto em meio às filas de eleitores. No município de Antonio Rómulo Costa, por exemplo, homens não identificados espalharam panfletos com mensagens intimidatórias próximo aos centros de votação.

Durante o anúncio do resultado, o CNE disse que foi vítima de um ataque a seu sistema de transmissão de dados. O órgão falou que vai investigar. O ataque foi definido pelo órgão como "terrorista", mas não foram informados detalhes.

Apuração prejudicada. Mais cedo, a oposição a Maduro informou que a transmissão de dados eleitorais para o CNE havia sido paralisada em algumas zonas eleitorais, sem contudo precisar um número.

Vigília da oposição. Após o encerramento da votação, o candidato Urrutia e María Corina Machado, principal liderança da oposição, pediram que eleitores e representantes de partidos permanecessem em vigília nos locais de votação a fim de fiscalizar o processo eleitoral.

Maduro governa a Venezuela desde a morte de Hugo Chávez em 2013. Se cumprir o novo mandato até o final, terá permanecido por 17 anos ininterruptos no poder.

Eleições foram marcadas por confusões

Voluntários pró e contra o governo de Maduro se enfrentaram. O incidente ocorreu no entorno de um centro de votação de Andrés Bello, na região central de Caracas. Segundo fotos, militantes pró-governo tentaram impedir que um voluntário de oposição entrasse no centro de votação.

Um homem também foi preso por tirar foto da urna. Segundo o comandante estratégico operacional da Força Armada Nacional Bolivariana, Domingo Hernandéz Lárez, um homem foi detido por tirar fotos de uma máquina eleitoral. Ele estava com dois comprovantes de voto.

Observadores internacionais foram barrados às vésperas do pleito. O governo de Maduro proibiu a entrada de avião com ex-presidentes e uma comissão formada por dez deputados e senadores da Europa. No sábado (27), um ex-deputado espanhol —que participaria como observador das eleições a convite da oposição— também foi expulso.

Regime de Maduro

O chavismo completou 25 anos no poder. Os últimos 11 foram liderados por Nicolás Maduro. A reeleição do chavista em 2018 foi chamada de fraudulenta pela oposição —que boicotou a votação—, pela União Europeia e pelos Estados Unidos, que impuseram uma bateria de sanções para tentar tirá-lo do poder.

Para Maduro, apenas sua vitória garantiria a "paz" no país. No dia 18 deste mês, o presidente da Venezuela chegou a alertar para a possibilidade de um "banho de sangue" e uma "guerra civil", caso não vencesse as eleições. "Quanto mais contundente for a [nossa] vitória, mais garantias de paz vamos ter", disse Maduro durante discurso, na ocasião.

A declaração foi duramente criticada pelo presidente Lula (PT), apesar de o petista ser um aliado tradicional de Maduro.

Denúncia contra Maduro

Veículos foram sabotados. Na semana passada, María Corina Machado denunciou que os carros que usa para se deslocar durante a campanha eleitoral foram alvo de sabotagem —segundo ela, um deles teve os freios cortados.

A ex-deputada mostrou em um vídeo duas caminhonetes manchadas com tinta prateada estacionadas em um condomínio fechado em Barquisimeto, no estado de Lara. Ela afirmou que a tampa do cárter do motor de uma delas foi retirada, para que perdesse todo o óleo, e que "cortaram as mangueiras dos freios" da outra.

Segundo a ONG Foro Penal Venezolano, dedicada à defesa de presos políticos, mais de cem prisões já foram feitas relacionadas com a campanha da oposição.

*Com informações das agências AFP, ANSA e DW

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