No Senado, João Carlos Martins vai propor volta da música à escola pública
João Carlos Martins está prestes a iniciar uma nova carreira, desta vez como educador musical. Nesta terça-feira, o maestro e pianista apresentará à Comissão de Educação do Senado seu projeto de levar a música às escolas públicas, depois de meses de preparação de uma nova metodologia.
Martins, que chacoalhou o mundo da música erudita nos anos 60, irá se despedir dos palcos no dia 9 de maio, num concerto no Carnegie Hall, nos EUA. Em 2025, ele completa 85 anos de idade, mas já indica que não vai abandonar a música.
No Senado, Martins vai tentar convencer os parlamentares a endossar seu projeto "Orquestrando", que já reúne mais de 400 grupos no estado de São Paulo. A audiência foi requerida pelo senador Flávio Arns (PSB-PR), que preside a Comissão e que destacou como a iniciativa de Martins permitiu o acesso à música em regiões desfavorecidas.
O maestro vai apresentar os resultados da iniciativa e explicar como conseguiu desenvolver um método de introdução ao ensino da música para os primeiros 4 anos do ensino fundamental, que poderia ser adotado em todo o país. O projeto consiste em vídeos-aulas e cursos preparatórios de 10 horas anuais para capacitar o professor de artes a introduzir os conceitos básicos da música para estes alunos.
Serão atividades musicais de cerca de 15 minutos, que serão integradas às aulas de artes regulares que já existem no currículo das escolas públicas do país. "Para estas aulas de 15 minutos também teremos vídeos para os alunos acompanharem o conteúdo apresentado", explicou o maestro.
"O nosso método começa de uma forma brincante e aos poucos vai se conectando ao coração e à alma da criança, e assim, conseguimos enxergar no horizonte a possibilidade de tornar real o sonho de Heitor Villa-Lobos", numa referência ao projeto do compositor que introduziu a música na grande escolar do país nos anos 30.
"Pelas experiências que realizamos em algumas escolas nos últimos anos, estou certo através do ensino da música por 15 minutos nas aulas de artes ajudaremos a harmonizar o Brasil", disse.
"Pelas nossas experiências, realizadas em algumas escolas, é a criança, depois do primeiro ano de aprendizagem musical, que pede o ensino da música no segundo, tal o interesse despertado no primeiro ano", explicou.
Sonho de Villa Lobos
Martins lembra como o projeto de uma estrutura musical para o Brasil já surgiu com Heitor Villa Lobos. "Após a Semana de 1922, ele conseguiu introduzir a música no currículo escolar em 1934 por meio de um decreto presidencial, através do Canto Orfeônico", disse. "Naquela época o poder de concentração de uma criança durante uma aula, conforme pesquisas realizadas, alcançava cerca de 40 minutos", afirmou.
Martins considera que, através do canto orfeônico, mesmo sem recursos tecnológicos atuais, a evolução musical no Brasil, principalmente após a segunda guerra mundial foi surpreendente.
"A união entre a música popular e a música clássica ocidental, sintetizada e profetizada por Bach, foi o pilar da educação musical do período", disse.
Mas ele aponta como, a partir dos anos 60, o ensino da música nas escolas foi perdendo espaço, até ser excluído da grade curricular definitivamente na década de 70. Em 2008 houve uma tentativa de trazer o ensino da música nas escolas como "carro chefe" nas artes. "Infelizmente essa tentativa não obteve êxito", disse.
O desafio hoje é muito maior que na época de Villa Lobos. "Se em 1934 tínhamos cerca de 22 mil escolas de ensino primário no Brasil e pouco mais de um milhão e meio de alunos matriculados, hoje são mais de 140 mil instituições de ensino fundamental, entre públicos e privados, que atendem mais de 22 milhões de crianças e adolescentes", disse.
"Esse crescimento do acesso à educação, embora ainda não suficiente, é muito significativo e necessário, mas para o ensino da música, nos moldes de 90 anos atrás mostrou-se inviável", explicou.
"Hoje o maior problema do ensino da música, já no primeiro ano fundamental, é que a proporção do aumento de escolas e alunos nos últimos 90 anos não coincide com o numero de professores de música nas artes, exatamente em consequência do fim do canto orfeônico nos anos 60/70", disse.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberA volta da obrigatoriedade do ensino da música nas escolas se deparou com a falta do número suficiente de professores. Seriam necessários milhares de educadores musicais para cumprir este objetivo.
O ensino da música foi substituído pelo curso de artes, que passou a ser conteúdo obrigatório no currículo do ensino fundamental. "O curso de artes atual tem no seu "guarda-chuva" as artes plásticas, dança, teatro, entre outras modalidades artísticas, e a música, de "carro chefe" passou a "primo pobre", lamentou.
Segundo ele, após pesquisas realizadas por diversos institutos, sabe-se que o poder de concentração de uma criança para uma aula de música raras vezes ultrapassa 15 minutos. "Pode-se atribuir à tecnologia, celulares e redes sociais, essa responsabilidade", disse.
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