Corrupção, agressões e mensagens vazadas: a derrocada política de Fernández
O ex-presidente da Argentina Alberto Fernández, de 65 anos, está sendo acusado de violência doméstica contra a ex-primeira-dama Fabiola Yañez, de 45 anos. Os dois foram casados durante todo o mandato dele.
O que aconteceu
Denúncia veio à tona enquanto Justiça Federal examinava celular de ex-secretária de Fernández. Os investigadores analisavam o aparelho de María Cantero, em um caso sobre suposta corrupção no governo do ex-presidente, quando encontraram o conteúdo. Eram fotos e relatos de agressões contra a ex-primeira-dama, que mais tarde seriam vazadas à imprensa. As imagens mostram, por exemplo, o olho roxo e o braço com hematomas.
Fabiola Yañez formalizou a denúncia contra ex-marido apenas no dia 6 de agosto. A jornalista confirmou as agressões em uma audiência virtual com o mesmo juiz que já vinha investigando o ex-presidente. A Justiça determinou então medidas de restrição e proteção para Fabiola. Depois, ela ampliou as denúncias e disse que foi obrigada a fazer um aborto.
Depoimento presencial foi feito pela primeira vez na terça-feira (13). Fabiola Yañez chegou ao consulado argentino em Madri (Espanha), onde vive atualmente, para depor contra o ex-marido. Ela reforçou as acusações de agressão, assédio e ameaças. Em uma dessas agressões, diz ela, Fernández a teria agarrado violentamente pelo pescoço. As surras teriam ocorrido no Palácio de Olivos, sede oficial da Presidência.
Defesa de Fernández negou as agressões e afirmou que os hematomas foram causados por tratamento estético. "Estou sendo acusado de algo que não fiz. Não bati em Fabiola. Nunca bati em mulher. Não estou aqui para alimentar toda a sujeira midiática que está sendo gerada. O que vou fazer é esperar, ir à Justiça e deixar a Justiça resolver", disse o ex-mandatário em entrevista ao jornal espanhol El País.
O ex-presidente foi formalmente acusado pela Justiça. Na denúncia oferecida, Fernández é acusado de lesões graves e duplamente agravadas e "ameaças coercitivas" contra a ex-primeira-dama. O promotor pediu ainda o depoimento do médico presidencial, Federico Saavedra, da ex-secretária María Cantero, e de outras quatro testemunhas.
Escândalo conjugal domina noticiário
Yañez e Fernández foram casados durante todo o mandato. Eles tiveram um filho em 2022 chamado Francisco, mas estão atualmente separados. Yáñez vive em Madri com a criança, enquanto Fernández mora em Buenos Aires.
Durante o governo Fernández, Yáñez foi titular da Fundação Banco Nación e não teve papel protagonismo na mídia, da qual fez parte antes de se tornar primeira-dama, quando atuou como jornalista em diversos programas de televisão.
Suspeito de corrupção e confusão em restaurante
Fernández é investigado por corrupção em sua gestão. Ele foi denunciado em fevereiro pelo Ministério Público após realizar a contratação irregular de seguros para funcionários públicos. A suspeita é que a contratação foi utilizada para desviar fundos. Fernández novamente negou irregularidades.
As suspeitas ganharam tração com um decreto de 2021 que obrigava o Estado a assinar contratos com uma empresa, a Nación Seguros, ligada ao marido da secretária particular de Fernández, María Cantero. Em abril, a Justiça também determinou o bloqueio de bens e a quebra do sigilo bancário do peronista.
Em 2018, quando era candidato à presidência, Fernández empurrou um homem que falava algo em sua direção no restaurante La Cabaña, em Puerto Madero. Ele estava sentado almoçando com Fabiola, quando se levantou e agrediu o homem não identificado.
Tras la denuncia de violencia de género de Fabiola Yañez contra Alberto Fernández, el historial de agresividad del expresidente volvió a salir a la luz. En 2018, cuando era precandidato, empujó a un hombre que buscaba increparlo en el restaurante La Cabaña, ubicado en Puerto? pic.twitter.com/TQzknyDeJ5
-- LA NACION (@LANACION) August 7, 2024
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Quero receberRepercussão no mundo político
Após as denúncias, alguns políticos se manifestaram, dentre eles, o presidente Javier Milei, que criticou a violência contra mulheres e publicou carta aberta nas redes sociais com título: "Hipocrisia progressista". Apesar disso, Milei fez questão de destacar que Fabiola foi cúmplice
Cristina Kirchner tentou afastar a sua imagem de Fernández após a divulgação do escândalo. A vice de Fernández, que rompeu com ele ainda durante governo, escreveu a seguinte mensagem.
Alberto Fernández não foi um bom presidente? Mas as imagens que vimos ontem à noite, mostradas pelos meios de comunicação em rede nacional, são outra coisa. As fotos da senhora Fabiola Yañez com hematomas no corpo e no rosto, juntamente com os chats publicados, que revelam o diálogo entre ela e o ex-presidente, não apenas mostram a surra recebida, mas também mostram os aspectos mais sórdidos e sombrios da condição humana. Cristina Kirchner, no X
Para o professor Tomaz Paoliello, ainda é difícil prevê se o escândalo conjugal irá influenciar na política argentina, já que o episódio, diz ele, teve um repercussão limitada.
É difícil afirmar. A repercussão do acontecimento foi limitada. Acho que poderá ser usado durante as campanhas para eleições parlamentares, mas elas ainda estão distantes. Até lá, outros assuntos serão pauta. Por exemplo, Milei falou sobre o assunto nas redes sociais, mas maior ênfase tem sido dada aos dados de inflação. Tomaz Paoliello, professor de Relações Internacionais na PUC-SP, ao UOL
Fernandez já era carta fora do baralho, desde que foi 'escondido' durante as últimas eleições presidenciais. Tinha aprovação muito baixa, e não parece ser uma figura determinante como cabo eleitoral, ainda mais depois das denúncias.
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