Vice de Trump admite 'criar histórias' ao comentar fake news anti-imigração
J.D. Vance, candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump, reiterou no último domingo (15) a fake news de que imigrantes estariam comendo animais de estimação em Ohio e admitiu que cria histórias para chamar atenção da mídia.
O que aconteceu
Vance admitiu ter criado histórias para chamar a atenção da mídia. O político criticou as ações do governo Biden que supostamente possibilitaram a entrada de milhares de imigrantes ilegais em Springfield, em Ohio. "Se eu tiver que criar histórias para que a mídia americana realmente preste atenção no sofrimento do povo americano, é isso que eu vou fazer", declarou em entrevista à CNN. "Sim, nós criamos o foco que permitiu à mídia americana falar sobre essa história e [sobre] o sofrimento causado pelas políticas de Kamala Harris".
História surgiu de relato de eleitores, segundo candidato. O republicano contou que recebe e divulga denúncias de eleitores, e reconheceu que nem todas são verificáveis. "Eu tenho duas opções: posso ignorá-las, que é o que a mídia americana tem feito com essa comunidade por anos, ou posso realmente falar sobre o que as pessoas estão me dizendo", argumentou o senador de Ohio.
Vance negou que suas falas tenham levado às ameaças de bomba em Springfield. As autoridades da cidade evacuaram a prefeitura, duas escolas e dois hospitais devido a ameaças de bombas após a disseminação da fake news, de acordo com a CNN. "Não há nada do que eu disse que tenha levado a ameaças (...). Tudo o que eu fiz foi expor as queixas dos meus eleitores. Não podemos falar sobre esses problemas porque alguns psicopatas estão ameaçando violência?", questionou o republicano.
Origem da fake news
Fake news começou a circular na semana passada e ganhou força após Trump citá-la no debate, realizado na última terça-feira (10). A cidade de Springfield, em Ohio, virou centro das atenções após políticos republicanos afirmarem falsamente que imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação. J.D. Vance foi um dos primeiros a levantar o assunto, escrevendo no X que as "pessoas tiveram seus animais de estimação sequestrados e devorados por gente que não deveria estar neste país". Elon Musk, dono do X e apoiador de Trump, também difundiu a fake news.
Autoridades imediatamente desmentiram a falsa informação. A polícia local negou a existência de "relatos credíveis ou afirmações específicas de que animais de estimação tenham sido feridos, machucados ou maltratados por membros da comunidade imigrante", segundo comunicado enviado à agência de notícias AFP.
Boato teria surgido pela primeira vez em postagem no Facebook. A publicação dizia que imigrantes haitianos haviam tentado comer o gato desaparecido de um vizinho. A autora da postagem, Erika Lee, disse à Reuters que escreveu isso após ouvir de uma vizinha. Essa vizinha, Kimberly Newton, disse à Reuters que ouviu de um amigo, que ouviu de outro amigo, que ouviu de um conhecido. Não estava claro se essa pessoa testemunhou o suposto incidente diretamente.
Dona da publicação disse que está arrependida e com medo das consequências. Erika Lee disse à NBC News que não tinha ideia que seu post se tornaria fonte de teorias da conspiração e ódio. Ela afirmou que não é racista, que tem identidade multirracial, que faz parte da comunidade LGBT+ e que sua filha tem ascendência negra. Após a repercussão, ela excluiu a postagem e disse que sente muito pela comunidade haitiana.
Outras postagens contribuíram com a fake news. Imagens registradas em outras cidades de Ohio, como a foto de homem segurando um ganso morto e o vídeo de uma mulher que supostamente matou e tentou comer um gato, foram relacionadas erroneamente à cidade de Springfield e aos haitianos, segundo a NBC News.
Casa Branca denunciou que a teoria da conspiração tem raízes racistas e pode ser perigosa. "Este tipo de declarações, este tipo de desinformação é perigosa porque algumas pessoas vão acreditar nisso, por mais absurdo e estúpido que seja, e poderiam reagir de uma forma que poderia causar feridos", disse na terça-feira John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Cerca de 15 mil imigrantes haitianos se mudaram para Springfield nos últimos anos.
Na última sexta-feira (13), Trump prometeu que, se eleito, fará "deportação em massa" de migrantes que estão nos EUA. "Vamos organizar expulsões em massa", declarou o republicano em uma coletiva de imprensa na qual fingiu desconhecer que muitos desses migrantes possuem um visto de residência.
Com AFP e Reuters