Conteúdo publicado há 20 dias

Israel vendeu ao Hezbollah pagers que explodiram, diz NY Times

O serviço de inteligência de Israel criou uma empresa de fachada para vender pagers com explosivos instalados ao Hezbollah. A informação foi publicada pelo jornal The New York Times nesta quinta-feira (19).

O que aconteceu

Venda foi feita por meio de uma empresa de fachada que se passou por uma produtora internacional de pagers. Plano ganhou força após funcionários da inteligência israelense virem uma oportunidade quando o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, decidiu expandir o uso desses equipamentos para evitar comunicação por celulares.

A empresa de nome BAC Consulting, sediada na Hungria, tinha contrato para produzir os dispositivos em nome de uma empresa taiwanesa, a Gold Apollo. Mas, segundo a reportagem, a BAC era operada pela inteligência de Israel. Fontes relataram ao jornal que pelo menos duas outras empresas de fachada também foram criadas para mascarar as verdadeiras identidades das pessoas que criaram os pagers: oficiais de inteligência israelenses.

Para não deixar rastros, a B.A.C. aceitou clientes comuns e produziu uma série de pagers sem explosivos. O New York Times revelou que o único cliente que realmente importava era o Hezbollah. Os pagers fornecidos para eles foram produzidos separadamente e continham baterias com um explosivo chamado PETN.

Os pagers começaram a ser enviados para o Líbano no verão de 2022 em pequenos números. Mas a produção aumentou rapidamente depois que Nasrallah denunciou os telefones celulares, desconfiado de que Israel poderia invadi-los, ativando remotamente câmeras e microfones.

Agentes de inteligência de Israel se referiam aos pagers como "botões" que podiam ser apertados quando o momento parecesse oportuno. Segundo o jornal, falando ao seu gabinete de segurança no domingo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que faria tudo o que fosse necessário para permitir que mais de 70 mil israelenses expulsos pelos combates com o Hezbollah voltassem para casa.

Na terça-feira (17), foi dada ordem para ativar os pagers para desencadear as explosões.

Sequência de explosões deixaram 37 pessoas mortas no Líbano

Homem mostra como ficou pager após explosão no Líbano
Homem mostra como ficou pager após explosão no Líbano Imagem: Reprodução/Telegram
Continua após a publicidade

Explosões de pagers e walkie-talkies deixaram 37 pessoas mortas e milhares feridas.

Foram 12 mortos após explosões simultâneas de 'pagers' do Hezbollah, no Líbano, na terça-feira (17). Explosões aconteceram de forma simultânea. Uma fonte próxima ao Hezbollah atribuiu as explosões a um ataque cibernético "israelense".

O número de mortos após explosões simultâneas de 'walkie-talkies' do Hezbollah, no Líbano, subiu para 25. Entre os mortos, 20 eram integrantes do grupo islamista libanês Hezbollah. Mais 450 pessoas ficaram feridas. Número foi atualizado em coletiva de imprensa pelo ministro da Saúde do país, Firass Abiad, nesta quinta-feira (19).

Walkie-talkies do Hezbollah explodiram no subúrbio de Beirute no fim da tarde de quarta-feira (18). Uma das explosões ocorreu perto de um funeral organizado pelo Hezbollah para os mortos no dia anterior, após "pagers" também explodirem. Os ataques aconteceram em todo o sul do país e nos subúrbios ao sul da capital Beirute. Os rádios portáteis foram adquiridos pelo Hezbollah há cinco meses, na mesma época em que os pagers foram comprados, disse uma fonte de segurança à Reuters.

O que são pagers

Pagers se popularizaram nos anos 1990. Os aparelhos caíram em desuso devido à evolução dos celulares, mas ainda hoje são o meio de comunicação preferido pelo Hezbollah para evitar o risco de interceptação de mensagens. No Brasil, eles ficaram conhecidos como "bipes".

Continua após a publicidade

A agência oficial de notícias do Líbano relatou que o sistema "foi hackeado com alta tecnologia". "Um incidente de segurança sem precedentes nos subúrbios ao sul de Beirute e em várias regiões libanesas", afirmou a agência.

O movimento Hezbollah havia pedido aos seus membros que parassem de usar celulares. O objetivo era evitar o risco de intercepção por parte de Israel. Por isso, o grupo islâmico xiita instalou um sistema de pagers, que não necessita de cartões SIM ou conexão com a internet, para se organizar e convocar seus integrantes para ingressar em suas unidades.

Após as explosões, o Hezbollah pediu que membros joguem aparelhos fora. "Cada um que receber um novo pager, jogue-o fora", diz uma mensagem de voz que circulou entre os membros do Hezbollah, segundo um dos membros, que a compartilhou com o The Washington Post.

*Com AFP e Reuters

Deixe seu comentário

Só para assinantes