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Libaneses temem celulares após explosões de pagers: 'Tudo parece um perigo'

Moradores relatam ter medo de usar quaisquer aparelhos eletrônicos após as explosões de pagers e walkie-talkies que deixaram ao menos 37 mortos e quase 3.000 feridos no Líbano. Alguns integrantes do grupo islâmico libanês Hezbollah estão entre as vítimas.

O que aconteceu

'Todo mundo está em pânico', diz mulher libanesa à BBC. Em entrevista ao programa "Newsday", a moradora identificada apenas como Ghida relatou que "tudo parece um perigo" neste momento e que ninguém sabe o que fazer. "Não sabemos se podemos ficar perto dos nossos laptops, nossos celulares. Estou com medo de uma guerra maior", declarou.

Para moradora de Beirute, 'é difícil tentar tranquilizar os filhos'. Hoda, que é mãe de dois filhos, disse à RFI que está "aterrorizada" e que todos a sua volta também estão com medo, "mas não sabemos de quê". "Tudo ao seu redor dá medo. Você vai para casa, fica com medo; sai, fica com medo. Não há segurança", lamentou.

Médico libanês conta ter vivido o 'pior dia' da sua carreira. Elias Warrak disse à BBC que pelo menos 60% das pessoas que atendeu após as explosões de terça (17) tinham perdido pelo menos um olho. Muitos também perderam um dedo ou uma mão inteira. "Acredito que o número de vítimas é gigantesco", acrescentou. "Alguns [dos atingidos] também tiveram ferimentos no cérebro, além do rosto".

Alguns moradores, porém, adotaram um tom 'desafiador'. Durante um funeral em Dahiyeh, no sul de Beirute, um jovem admitiu à BBC que a dor — "física e no coração" — é imensa, "mas é algo ao qual estamos acostumados, e continuaremos a resistir". Para outra libanesa de 45 anos, a situação tornará o país mais forte. "Quem perdeu um olho lutará com o outro olho. Estamos todos juntos".

Estou com medo de uma guerra maior no Líbano, estou com medo pelo meu povo, estou com medo pela minha cidade, estou com medo pelo meu país. Porque nós merecemos algo melhor, e estamos pagando o preço de uma guerra entre o Hezbollah, Israel, Irã, todo mundo.
Ghida, mulher libanesa, à BBC

Não me atrevo mais a segurar meu telefone nas mãos. Antes, eu o colocava ao meu lado para dormir, mas agora não tenho coragem. (...) Comprei uma passagem de avião. Eu quero ir embora. Não vou mais ficar aqui. Agora tenho medo de tudo.
Mona, dona de um café em Beirute, à RFI

Como foram as explosões

Centenas de pagers e walkie-talkies do Hezbollah explodiram. O que tem sido considerado como um ataque sem precedentes matou, ao todo, 37 pessoas e deixou quase 3.000 feridos, segundo balanço do Ministério da Saúde libanês. As explosões de terça (17) e de quarta (18) foram um duro golpe para a milícia pró-Irã, que culpou Israel e prometeu vingança.

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É incomum que dispositivos de comunicação sejam usados como armas. Para especialistas, é provável que os explosivos tenham sido colocados dentro dos aparelhos antes que fossem entregues ao Hezbollah. Uma investigação preliminar mostrou que os pagers "foram pré-programados para explodir e continham materiais explosivos colocados junto à bateria", segundo uma fonte da AFP no Líbano.

Pagers que explodiram vieram da empresa taiwanesa Gold Apollo. A companhia informou que os aparelhos foram fabricados pela BAC Consulting KFT, na Hungria, como relatou o The New York Times. Um porta-voz do governo húngaro afirmou que a empresa era apenas "um intermediário comercial". Já a japonesa Icom afirmou que parou de produzir há 10 anos o modelo de walkie-talkie que explodiu.

Israel ainda não comentou sobre as explosões. Mas os ataques começaram horas depois de o país ter anunciado a extensão da guerra na Faixa de Gaza até sua fronteira com o Líbano, área que tem sido palco de duelos de artilharia quase diários entre o Exército israelense e o Hezbollah. Estes confrontos mataram centenas de pessoas no Líbano, a maioria delas combatentes, e dezenas em Israel.

(Com AFP e RFI)

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