Eleições nos EUA: leia as principais propostas de Trump e Kamala
Em meio a uma guerra de narrativas e trocas de ofensas, os planos de governo de Kamala Harris e Donald Trump se tornaram coadjuvantes na disputa presidencial dos Estados Unidos.
Entenda a plataforma de cada candidato
As eleições norte-americanas colocam frente a frente projetos que demonstram a polarização nos EUA. O resultado do pleito é dado como incerto, já que pesquisas de intenção de voto indicam empate na margem de erro entre os candidatos.
Imigração, economia e direitos individuais são temas cruciais neste ano. De acordo com Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo) especialista em política internacional, as bases eleitorais de ambos já estão definidas. Mas há a questão central de convencer o cidadão a votar, que sempre vai passar por esses temas
Para Lehmann, Trump pode expandir o poder presidencial se eleito, enquanto Kamala visa uma reformulação econômica interna como principal trunfo. Além de visões destoantes sobre direitos individuais e econômicos, ambos também polarizam a disputa quando o assunto é educação, saúde, imigração e política externa
Trump propõe uma política extremamente restritiva à imigração. O candidato republicano quer reforçar a fronteira com o México, defende um sistema de imigração baseado em merecimento e foca na deportação de imigrantes.
Kamala Harris diz querer proteger a fronteira, mas sem isolar os imigrantes. De acordo com a vice-presidente, há uma necessidade de tornar o processo mais "justo e humano".
Na economia, enquanto Trump mira no corte de impostos para empresas, Kamala propõe uma "economia de oportunidade". Em seu plano de governo, a candidata democrata cita o corte de impostos com foco na classe média e propões aumento de impostos para grandes empresas e fortunas.
O candidato republicano quer aumentar a tarifa sobre produtos importados, especialmente da China. A China é citada como grande algoz no projeto de Trump pois o candidato entende que os EUA se tornaram dependentes do país asiático, citando produtos médicos e de segurança nacional.
O plano do Trump de deportar os imigrantes, ao assumir o poder em janeiro, é o plano que ele mais destaca nos discursos, e que tem o apoio da vasta maioria dos republicanos eleitores. e até mesmo muitos eleitores democratas consideram imigração um problema. Eles se mostram insatisfeitos com a política do atual governo. Em termos da ressonância com o eleitor, isso me parece mais importante. em termos de impacto internacional eu destacaria a economia, e além das diferentes política fiscais. Me parece que Trump seria um presidente muito mais protecionista do que Biden.
Kai Enno Lehmann, especialista em política internacional
Para Harris, se ela vencer, uma pauta importante seria aborto, ela faria um enorme esforço para unificar no nível federal o direito, que foi derrubado. Se os democratas mantiverem o controle do senado e com a Kamala isso seria um dos principais pontos. O segundo é o contraste com os Republicanos. Ela faria um enorme esforço para mudar o sistema de impostos para aliviar o cidadão comum e fazer empresas pagarem o que eles chamam de uma taxa justa nos lucros.
Kai Enno Lehmann, especialista em política internacional
Quando o tema é aborto, Trump se esquiva. Em seu plano de governo ele não discorre sobre o tema, em aparições públicas e em debates, o ex-presidente também evitou responder sobre a questão e se posicionou dizendo ser favorável que estados definam a regularização. No entanto, seu candidato a vice, J.D. Vance, é abertamente favorável à criminalizar a prática.
Kamala defende o direito de escolha da mulher. "O governo e Donald Trump certamente não deveriam dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo", disse a vice-presidente em debate realizado pela ABC News em setembro.
Educação, forças armadas e meio ambiente
Trump nega as mudanças climáticas e não tem propostas para o tema, Kamala defende o combate à crise. O plano do republicano é derrubar acordos climáticos e defender a produção de petróleo, gás natural e carvão.
Kamala quer investir em energias renováveis. Na contramão do opositor, a vice-presidente mira na redução da dependência dos combustíveis fósseis, assumindo o compromisso com acordos pelo clima.
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Quero receberO republicano pretende "fortalecer" as Forças Armadas, aumentar o investimento em segurança pública e combater os cartéis de drogas. Ele ainda defende a nomeação de juízes conservadores para a Suprema Corte.
Para a segurança pública, Kamala quer proibição das armas de assalto e carregadores de alta capacidade. A vice-presidente também aborda o tráfico de drogas como fator para insegurança para as comunidades. Ela também cita o combate ao que chama de "crise dos opióides e do fentanil" nos EUA e o tratamento de dependentes.
Sobre a educação, o ex-presidente fala em combate a "ideologia" nas instituições de ensino. Em seu plano de governo, o republicano dá a entender que o sistema de ensino dos EUA estaria ligado a um discurso da esquerda, inclusive apropriando pautas de raça e gênero. Trump ainda descreve como proposta o "controle parental sobre as escolas"
Harris foca em"acessibilidade" para o ensino superior. Em passagem do seu plano, ela relata que vai trabalhar "para acabar com o fardo irracional da dívida de empréstimos estudantis e lutará para tornar o ensino superior mais acessível".
"Projeto 2025"
"Projeto 2025", ligado a grupos conservadores que apoiam Trump, é visto com preocupação. Apesar de o candidato negar ligação com projeto, segundo Lehmann, o plano seria desmantelar o sistema democrático nos Estados Unidos. A independência do Judiciário estaria ameaçada, com a proposta de submeter o sistema ao Executivo.
Basicamente esse projeto quer acabar com o sistema democrático nos Estados Unidos. Uma das propostas, basicamente, diz que o sistema será submetido ao controle do governo. Acabaria a independência do judiciário. Uma das propostas é acabar com o departamento federal de educação e deixar a política educacional para o estado.
Kai Enno Lehmann, especialista em política internacional
Kamala tenta ser a 1ª presidente mulher dos EUA
Filha de pais imigrantes — mãe indiana e pai jamaicano —, Kamala Harris nasceu em Oakland, na Califórnia, em 1964. Ela foi criada principalmente pela mãe, uma ativista de direitos civis e pesquisador.
Uma reportagem do jornal The New York Times mostrou como Thulasendrapuram, um vilarejo no sul da Índia, parou para rezar para Harris no dia da eleição em 2020. O avô materno dele nasceu na cidade.
A cidade fica a cerca de 350 quilômetros ao sul da capital regional Chennai, de onde veio Shyamala Gopalan, mãe de Harris. Lá, quando criança, ela costumava acompanhar seu avô, que serviu como diplomata, em sua caminhada habitual na praia com seus amigos aposentados, com quem conversava sobre política, igualdade de direitos e corrupção, como ela lembrou em um discurso no ano de 2018.
Eu não tinha consciência disso na época, mas foram aqueles passeios na praia com meu avô em Besant Nagar que tiveram um impacto profundo em quem eu sou hoje.
Kamala Harris
Harris cursou o ensino médio no Canadá. Em seguida, voltou para os EUA para estudar ciências políticas e economia, em Washington, DC. Em 1986, voltou para seu estado natal, a Califórnia, para estudar direito.
Ela foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados em 1990 e iniciou sua carreira como promotora pública, subindo na hierarquia para se tornar procuradora-geral da Califórnia, em 2011. Também foi a primeira mulher, negra e sul-asiática americana a ocupar o cargo.
A carreira de Harris como promotora teve altos e baixos. Ela se autodenominava a "melhor policial" da Califórnia, mas irritou parte da polícia com sua recusa em aplicar a pena de morte contra um acusado de matar um policial. Ao mesmo tempo, foi criticada por uma fraca atuação contra a corrupção dentro das forças policiais.
O início da carreira política foi em 2015, quando concorreu ao Senado, com apoio de Joe Biden e do então presidente dos EUA, Barack Obama. Em 2017, se tornou a segunda mulher negra a tomar posse no Senado.
Em 2019, lançou campanha no partido Democrata para a sua indicação presidencial. À época, Biden foi seu oponente. Ela desistiu da disputa e apoiou Biden, que mais tarde a convidou para ser sua vice-presidente. A chapa foi eleita à presidência dos EUA em novembro de 2020.
Kamala foi a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de origem indiana a tomar posse como vice-presidente dos EUA, em novembro de 2021. Em seu 1º discurso após o anúncio da vitória do democrata Joe Biden, ela destacou que seria a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos, mas que não seria a última.
Trump: Herdeiro, empresário e celebridade
Donald John Trump nasceu em 14 de junho de 1946, em Nova York, e foi o terceiro dos quatro filhos de Frederick Christ Trump e Mary MacLeod. O pai, conhecido como Fred Trump, já era herdeiro dos negócios da família, focados no ramo imobiliário.
Trump assumiu a presidência da Trump Organization aos 28 anos, e investiu em cassinos. Assim que se formou em economia pela Universidade de Pensilvânia, Donald Trump começou herdar o império. Sob a presidência dele, o grupo investiu no setor de cassinos na cidade de Atlantic City - em 1990, o Trump Taj Mahal chegou a ser o maior cassino do mundo, antes de falir no ano seguinte.
Também sob seu comando, outros negócios faliram, deixando o grupo com dívidas bilionárias. Ao longo dos anos, a Trump Organization decretou falência de diferentes empresas do grupo pelo menos 11 vezes — o que seria usado no futuro por adversários políticos para questionar sua habilidade com os negócios e sua imagem de empresário de sucesso.
Sua fama de homem de negócios também vinha de sua presença constante na mídia. Seu "American Way of Life" foi extensivamente coberto a partir de seu casamento com a modelo tcheca Ivana Zelní?ková Winklmayr, com quem ele teve seus três primeiros filhos — Donald Jr., Ivanka e Eric. Ele teria mais dois casamentos no futuro: com Marla Maples, com quem teria Tiffany, e com Melania Knauss, mãe de Barron Trump e futura primeira-dama.
O reality show "O Aprendiz", no qual Trump contratava e dispensava - com a famosa frase "you're fired" (você está demitido)— empreendedores para alguma das empresas da Trump Organization, também ajudou a torná-lo ainda mais conhecido pelo grande público.
Trump se elegeu à presidência pela 1ª vez em 2016. Como agora, fez promessas que acenavam ao público conservador, como foco em políticas anti-imigração. À época, disse que faria o México pagar por um muro que cortaria toda a fronteira entre os países. Também prometeu tirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, que estabeleceu metas climáticas e financiamento dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento, e acenou a uma guerra comercial com a China, a quem culpava pelo desemprego e pela desindustrialização de setores antes estratégicos dos EUA.
Desde que venceu as primárias republicanas de 2016, Trump ganhou terreno dentro do partido e do campo conservador no país. Hoje, boa parte dos congressistas, governadores e demais políticos republicanos são identificados como "trumpistas", por serem alinhados ao ex-presidente, e não ao conservadorismo norte-americano clássico, representado, por exemplo, pela família Bush, dos ex-presidentes George W. B. e George W.
No final de 2019, ele sofreria seu primeiro processo de impeachment. Trump foi considerado culpado pela Câmara dos Representantes dos EUA por pressionar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a abrir investigações contra Joe Biden, seu então futuro rival na disputa de 2020. Ele seria poupado pelo Senado, com maioria republicana, em fevereiro de 2020.
Seguidores trumpistas invadiram o Capitólio. Milhares de apoiadores do ex-presidente foram a Washington, D. C., para marchar até o Capitólio e "lutar" por ele em 6 de janeiro de 2021. Horas depois, a multidão invadiu e depredou o Congresso. Senadores, deputados e ex-vice presidente de Trump, Mike Pence, que se recusou a questionar o resultado das urnas, tiveram que ser escoltados pelas forças de segurança. Cinco pessoas, incluindo um policial, morreram no ataque.
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